A “espanholização” do futebol brasileiro

O domínio de Flamengo e Palmeiras no certame nacional nos últimos anos, não esconde a realidade de que o futebol brasileiro se equivale ao espanhol, aquele no qual as conquistas alternam-se quase sempre entre Real Madrid e Barcelona.

A finalíssima da Supercopa do Brasil deixou evidente que Flamengo e Palmeiras estão muito à frente dos demais clubes brasileiros, haja vista a grande partida realizada por cariocas e paulistas no estádio Mané Garrincha. Nem mesmo o forte calor que assolava a capital federal às 11:00, foi capaz de interferir no nível do futebol praticado pelas equipes na decisão, que devido ao empate em 2 a 2 no tempo regulamentar, só foi definida nas penalidades, aonde os comandados de Rogério Ceni levaram a melhor ao vencerem por 6 a 5.

Pois é, e é isso que se espera dos dois gigantes do futebol brasileiro, em especial por conta dos elencos, tanto do Flamengo quanto do Palmeiras, ambos compostos por atletas de altíssimo nível técnico. Não à toa, tratam-se dos plantéis mais valiosos do País, sendo o flamenguista avaliado em R$ 865,2 milhões, contra R$ 801 milhões dos palmeirenses. Por este motivo, seria até possível montarmos uma forte seleção somente escolhendo jogadores rubro-negros e alviverdes, que inclusive, brigaria tranquilamente nas Eliminatórias Sul-Americanas por uma vaga na Copa de 2022.

Ademais, é importante salientar que Flamengo e Palmeiras só foram capazes de montar ótimos elencos em virtude de suas excelentes gestões, que tiveram início com Eduardo Bandeira de Mello na equipe carioca, e com Paulo Nobre no time paulista. Através de administrações profissionais, com reduções de gastos e quitações de dívidas tributárias e trabalhistas, ambos reorganizaram-se financeiramente em um curto espaço de dois anos.

Com as contas fechando no azul, Flamengo e Palmeiras tiveram mais barganha para negociar direitos televisivos, aliás, isso explica porque eles foram os clubes que mais arrecadaram com cotas de TV em 2019, lembrando que os flamenguistas receberam o montante de R$ 950 milhões no período, ou seja, R$ 300 milhões a mais em relação aos palmeirenses, que por sua vez, foram líderes em matchday, faturando R$ 782,5 milhões em receitas provenientes de bilheteria e sócio-torcedor.

Deste modo, os frutos plantados por Flamengo e Palmeiras fora das quatro linhas começaram a ser colhidos dentro de campo, tanto é, que cada um venceu o Brasileirão duas vezes nos últimos cinco anos, o que significa que a conquista do Corinthians em 2017, evitou que rubro-negros e alviverdes ganhassem, sozinhos, as cinco edições anteriores do torneio. Vale ressaltar ainda, que enquanto o Mengão ergueu o caneco da Libertadores em 2019, o Verdão faturou o bicampeonato continental em 2020, isto é, outro dado que demonstra o enorme domínio dos dois times no futebol nacional.

Logo, fica evidente que o futebol no Brasil vive o mesmo fenômeno que o esporte na Espanha, aonde Real Madrid e Barcelona reinam absolutos, enquanto outras agremiações se tornaram meras coadjuvantes. Obviamente, vez ou outra algum clube conquista uma copa – como foi o caso da Real Sociedad na temporada passada -, porém estes feitos acabam sendo corriqueiros. E a razão para isso é simples, trata-se da gigantesca diferença orçamentaria entre as equipes espanholas, visto que blaugranas e merengues arrecadam mais em comparação aos demais oponentes no país.

Em contrapartida, é fato que jamais tivemos seis ou sete clubes brigando pelo título do Brasileirão a cada temporada, mas também é verdade que até a década anterior, não tínhamos um domínio tão amplo de apenas duas equipes nos gramados brasileiros, como ocorre nesta fase recente com Flamengo e Palmeiras. Por fim, o único lado bom da “espanholização” do nosso futebol, é que os adversários serão obrigados a se reestruturar financeiramente através de gestões mais profissionais, ou então, a soberania de flamenguistas e palmeirenses será cada vez maior no Brasil. A ver!

3 Comentários

  1. Não acho que haverá uma “espanholização”, pois o Grêmio tem uma boa saúde financeira, só não consegue ganhar títulos, mas todo ano entra como candidato.
    O Santos também pode brigar nos próximos anos. Essa geração da base é muito boa e a gestão de Andrés Rueda tem sido excelente. Em dois anos eu acredito que o Peixe já consegue brigar com mais afinco por títulos

    • JoaoRicardo Responder

      É verdade Fernando, muitos desconsideram o Santos porém a equipe está sempre brigando por títulos, aí enaltecem o trabalho dos treinadores (como Sampaoli e Cuca, por exemplo), mas esquecem do excelente trabalho realizado nas categorias de base. O Grêmio é outro clube organizado financeiramente, que também pode brigar, além do Galo, que tem um elenco estelar.
      Obrigado pelo comentário amigo, e volte sempre.
      Um abraço!

  2. Jose Renato Landim da Silva Responder

    Até concordo que outros times como o Grêmio,chegam até em condições de brigar por títulos,mas tem morrido na praia, outros faltam transparência financeira,como o Corinthians,o Atlético MG está com um mecenas mas tá cheio de dividas,com risco de virar um Cruzeiro. Se não tiverem responsabilidade financeira,pode ocorrer uma espanholalização

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