A falta de futebol do Uruguai em sua estreia na Copa do Mundo de 2022, foi compensada com a garra dos jogadores em campo. Todavia, é preciso mais para a Celeste ao menos sonhar com a vaga nas oitavas-de-final.
Pode até faltar futebol, mas garra é algo que jamais deixou de existir entre todas as gerações charrúas, afinal, trata-se de uma característica que está presente no DNA uruguaio, a julgar pela famosa crença dos cães da raça cimarron. Diz a lenda, que este cachorro de porte médio, robusto, dotado de muita força, e que surgiu na época da colonização do Uruguai no século XVII, teve um papel importantíssimo na Independência do país em 1828.
Não à toa, o General José Gervásio Artigas, grande líder da Independência do Uruguai nas batalhas contra o domínio espanhol, imortalizou os cimarron através de sua célebre frase: “Se não posso lutar com meus homens, lutarei com meus cães cimarron”. Pois é, e como verdadeiros cimarron, historicamente os uruguaios defendem as cores da Celeste Olímpica com unhas e dentes a cada Copa do Mundo, o que não foi diferente em sua estreia no Mundial do Catar.
Entretanto, toda a garra por parte dos bicampeões mundiais não foi suficiente para levá-los a vitória na partida frente o adversário mais fraco do grupo, algo que preocupa os uruguaios. Contudo, os três pontos não vieram especialmente em função de algumas escolhas erradas do treinador Diego Alonso, como por exemplo, ter iniciado o jogo com Luis Suárez ao invés de Edinson Cavani no time.
Embora Edinson Cavani não esteja cem por cento fisicamente, é visível que ele se apresenta em melhores condições do que Luís Suárez, que atuou durante todo este segundo semestre no Nacional de Montevideo, quer dizer, disputando o campeonato uruguaio, cujo nível técnico e de competitividade é bastante inferior em comparação aos da LaLiga, aonde joga o Valencia, de Cavani.
A partida entre Uruguai x Coreia do Sul foi apenas a segunda com tão poucos chutes em direção ao gol (1) desde Dinamarca x Escócia pela Copa de 1966, que terminou sem nenhum arremate no alvo.
Assim, o poderio ofensivo do Uruguai aumentou a partir da entrada de Edinson Cavani no lugar de Luis Suárez, aos 24 minutos da etapa final. Além disso, Diego Alonso escalou o novato Facundo Pellistri na ponta-direita do 4-3-3 da seleção uruguaia, ao passo que Darwín Núñez ocupou o flanco esquerdo, isto é, outra decisão equivocada do treinador, sobretudo porque Pellistri atuou exatamente na posição que Federico Valverde joga no Real Madrid.
Deste modo, Federico Valverde compôs a linha de três no meio de campo ao lado de Rodrigo Betancur e Matías Vecino. Consequentemente, faltou criação e força ofensiva ao Uruguai, problemas que seriam minimizados em um possível 4-4-2, com Giorgian De Arrascaeta aberto pela esquerda, Valverde, pela direita, e Darwín Núnez e Edinson Cavani no ataque. Neste caso, a Celeste seguiria com a mesma formação defensiva, porém com Betancur e Vecino como volantes.
De qualquer maneira, essas são as consequências que o Uruguai aceitou correr ao apostar no trabalho de um jovem treinador (47 anos), sem experiência internacional e, que além do mais, assumiu o posto ocupado há 15 anos por Óscar Tabárez, lembrando que tudo isso a 11 meses do início da Copa do Catar. Mas apesar destas expressivas mudanças, a garra continua sendo a única singularidade inabalável aos uruguaios, pois uma vez cimarron, sempre cimarron!