Se a relação entre Kylian Mbappé e o Paris Saint-Germain já estava estremecida após o atleta informar a diretoria de que não iria renovar o seu atual contrato, e o presidente Nasser Al-Khelaifi respondeu publicamente que o craque francês só permanecerá no Parque dos Príncipes caso estenda este vínculo até 2025, o que dirá depois da entrevista concedida pelo camisa 7 à France Football, na qual ele proferiu duríssimas críticas ao clube, a ponto de causar a indignação de jogadores e torcedores parisienses.
Por sinal, embora publicada depois, a entrevista realizada pela France Football foi gravada dias antes de Nasser Al-Khelaifi abordar a situação de Kylian Mbappé, o que significa que o insatisfeito jogador também não se preocupou minimamente com o fato de criar um anticlímax junto a torcida, conforme você pode acompanhar abaixo:
As pessoas na França me viram crescer, me veem o tempo todo no PSG ou na seleção. E há anos venho marcando muitos gols. Então, para os franceses, isso se torna normal. […] Acho que jogar no PSG não ajuda muito porque é um time que divide opiniões, um clube polarizador. Então, atrai fofocas. Mas isso não me incomoda porque sei o que faço. […] Tenho fome de vitória. Não quero fazer parte de uma equipe que está ali apenas para a competição.
disse Kylian Mbappé, em entrevista à France Football
Seja como for, a realidade é que Kylian Mbappé não mentiu em nenhum momento da entrevista, porém não disse que ele também está incluído neste processo das pessoas verem o PSG com total desconfiança, ou como um clube que não consegue atingir os seus objetivos internacionais.
Ademais, existe outra questão que não me sai da mente: será que o Paris Saint-Germain era tão diferente quando Mbappé decidiu estender o seu vínculo contratual por mais duas temporadas em 2022, isto é, naquela oportunidade não tratava-se de um clube polarizador? Acredito que de lá pra cá nada mudou no Parque dos Príncipes, o que se subentende que este passou a ser um problema recente ao jogador de 24 anos de idade. Então, a dúvida persiste: o que mudou, o PSG ficou devendo algo que prometeu para o seu principal astro?
Como bem sabemos, a diretoria do PSG praticamente “entregou as chaves do clube” à Kylian Mbappé em sua última renovação de contrato, uma decisão bastante contestada tanto por mim quanto por boa parte da mídia esportiva mundial e, em especial, pelo ex-diretor esportivo Leonardo que, coincidentemente ou não, deixou o cargo o após o acerto do Paris Saint-Germain com Mbappé.
Posteriormente, Luís Campos, ex-Mônaco, desembarcou em Paris para assumir o posto de Leonardo, o que de acordo com a mídia francesa já era uma das exigências de Kylian Mbappé. Em seguida, surgiram problemas de relacionamento com Neymar, ao passo que outros fatos isolados como abdicar de uma jogada de contra-ataque do PSG ao não receber um passe, e se negar a participar de uma sessão de fotos com a camisa da seleção francesa às vésperas do Mundial do Catar, também deixaram o nome de Mbappé marcado de forma negativa na temporada passada.
Ao mesmo tempo, individualmente, Kylian Mbappé registrou o seu melhor desempenho em uma temporada na carreira ao ter balançado as redes o montante de 54 vezes em 56 jogos disputados, e por ter feito um hat-trick no vice-título da França na Copa do Mundo do Catar. Portanto, é fato que perder um atacante do quilate de Mbappé não será nada fácil aos atuais bicampeões franceses.
Kylian Mbappé lidera a lista dos maiores artilheiros da história do PSG, registrando 212 gols em 260 jogos. Neste período, os parisienses venceram onze títulos, dentre eles, cinco troféus da Ligue 1.
Contudo, a provável saída de Kylian Mbappé fará o Paris Saint-Germain compreender de modo mais rápido que a conquista da Champions League não depende do atacante francês, a julgar que os últimos campeões do torneio deram a volta olímpica sem ele em campo. Além disso, nenhum jogador é maior que um clube de futebol, vide o exemplo do Manchester United que dispensou ninguém menos do que o ídolo Cristiano Ronaldo depois que ele entrou em rota de colisão com o técnico Erik ten Hag.
Ademais, a polêmica entrevista de Kylian Mbappé deixou nítido que o jogador campeão mundial pela França em 2018 parece não ser o nome certo para liderar um time em torno dele, o que não é nenhum demérito, afinal, liderança é um atributo que nem todos os atletas têm. Portanto, tudo indica que Mbappé funcione melhor em uma equipe na qual não seja o líder, ou não precise carregar uma pesada carga de responsabilidade.
A propósito, a recente viagem de dois dias do craque do PSG ao país natal de seu pai, Camarões, provavelmente ocorreu com a firme intenção de Mbappé resgatar as origens familiares e, é claro, afastar da mente o impasse vivido em relação ao futuro através da curta vivência de uma realidade totalmente contrária a dele na Europa.
Kylian Mbappe got a crazy welcome in his dad’s home country of Cameroon 🔥 pic.twitter.com/FkMpAPxVmu
— GOAL (@goal) July 7, 2023
Logo, diante de todo este imbróglio, o ideal seria Kylian Mbappé sair do Paris Saint-Germain nesta janela de transferências, ou então, a relação que já é pra lá de tensa entre ambos no momento pode se agravar ainda mais, assim como aconteceu nas últimas duas semanas.
Também deve-se levar em consideração como o grupo parisiense reagirá com a presença de Kylian Mbappé em seu retorno ao clube, será que eles ficarão felizes em ter no elenco um companheiro descontente com a instituição que ele próprio julga polarizadora? E o novo treinador Luis Enrique, utilizará um jogador que acredita que o PSG disputa campeonatos apenas para competir? E a torcida, voltará a aplaudí-lo depois das duras palavras?
Pois é, as respostas para essas perguntas comprovam que a trajetória de Kylian Mbappé chegou ao fim no Paris Saint-Germain, ainda que ele cumpra o último ano de contrato na temporada que está por vir.