A terceira colocação do Manchester United na edição passada da Premier League superou totalmente as expectativas, afinal, um novo ciclo se iniciava no clube inglês sob o comando de Erik ten Hag, após a pífia passagem de Ralf Rangnick pelo Old Trafford.
Inclusive, o maior mérito de Erik ten Hag em sua primeira temporada à frente do Manchester United foi estabelecer uma nova identidade ao time através de sua filosofia de jogo, algo que não se via desde a aposentadoria de Alex Ferguson em 2013, lembrando que o ex-técnico do Ajax ainda precisou vencer uma duríssima queda de braço com Cristiano Ronaldo – obviamente, contando com o apoio da diretoria – para implementar o seu trabalho no clube.
Deste modo, o segundo ano de Erik ten Hag no Manchester United trazia perspectivas ainda melhores ao clube, sobretudo porque todos os reforços indicados pelo treinador holandês, como são os casos de Andre Onana, Sofyan Amrabat, Mason Mount e Rasmus Hojlund, foram contratados na última janela de transferências, o que significa que os Red Devils voltaram mais fortes para a disputa da atual temporada em comparação a anterior.
Contudo, ao contrário do que era esperado, o Manchester United não iniciou bem a sua caminhada na nova temporada da Premier League, a julgar pelas duas vitórias e duas derrotas obtidas pela equipe nas quatro primeiras rodadas do campeonato, o que a mantém somente na 11ª posição da tabela com 6 pontos.
Aliás, é importante destacar que os Red Devils não convenceram nem mesmo nos triunfos conquistados sobre Wolverhampton e Nottingham Forest. Na rodada inicial frente os Wolves, por exemplo, eles ganharam pelo placar mínimo de forma contestada, em virtude de uma penalidade clara cometida pelo goleiro André Onana nos acréscimos do jogo, mas não assinalada pelo árbitro da partida, ao passo que a vitória contra o Forest deu-se por intermédio de uma virada para 3 a 2, graças ao pênalti convertido por Bruno Fernandes na etapa final.
Em contrapartida, os reveses diante de Tottenham e Arsenal, ambos em Londres por 2 a 0 e 3 a 1, retrataram nitidamente a queda de rendimento do Manchester United, em especial do setor defensivo do time que já foi vazado o montante de 7 vezes na Premier League, registrando uma alta média de 1,75 gol sofrido por partida.
A propósito, chamou a atenção o jeito como o Manchester United foi facilmente dominado no Emirates Stadium, o que também já havia se repetido em sua última visita à Londres para encarar o Tottenham, porém em menor escala. Diferente do que ocorreu ao longo de quase toda a segunda metade da temporada passada, período em que os Red Devils passaram a controlar o ritmo das partidas, desta vez eles acabaram sendo encurralados pelo Arsenal em seu campo de defesa, tendo o contra-ataque como única arma no jogo. Por esta razão, o 3 a 1 ficou de bom tamanho aos pupilos de Erik ten Hag.
No entanto, os problemas do Manchester United não se resumem unicamente ao futebol praticado em campo, já que o ambiente do clube segue pra lá de tenso fora das quatros linhas. A começar porque às vésperas do início da temporada o reserva Harry Maguire não escondeu o descontentamento em ceder a braçadeira de capitão ao meia Bruno Fernandes. Pois é, e a decisão pela permanência do segundo zagueiro mais caro da história da Premier League em meio ao seu desejo de transferir-se ao West Ham, certamente agravou a conturbada relação entre ele e o técnico Erik ten Hag.
Posteriormente, uma grave lesão muscular comprometeu o começo de temporada de Luke Shaw logo na 2ª rodada da Premier League, e como o substituto Tyrell Malacia também segue fora de combate em virtude de uma contusão, os Red Devils precisaram ir ao mercado de última hora para trazer Sergio Reguillón, via empréstimo, para reforçar a defasada lateral-esquerda que tem Diogo Dalot atuando improvisado.
Todavia, o pior ainda estava por vir, tendo em vista que Jadon Sancho publicou uma postagem nas redes sociais depois do jogo que ele não foi relacionado contra o Arsenal, na qual chegou a chamar o treinador Erik ten Hag de mentiroso e, dentre outras coisas, afirmou ser o bode expiatório do Manchester United, conforme você pode acompanhar abaixo:
— Jadon Sancho (@Sanchooo10) September 3, 2023
Embora a conduta de Jadon Sancho não tenha sido a correta, ela somente veio à tona devido a uma ação absolutamente incoerente por parte de Erik ten Hag, que jamais deveria ter tratado um assunto interno de forma pública. E como o treinador do Manchester United subiu o tom de maneira desnecessária, é compreensível que o seu atleta tenha reagido de modo semelhante, o que só fez piorar o clima pelos lados do Old Trafford.
E como se a publicação de Jadon Sancho não bastasse, no dia seguinte o atacante Antony foi denunciado à promotoria da Inglaterra por quatro supostos crimes cometidos contra a ex-namorada: assédio, agressão, cárcere privado e lesão corporal grave. Ou seja, um caso bastante similar ao de Mason Greenwood, recentemente emprestado ao Getafe.
A repercussão negativa do “caso Antony” perante a opinião pública obrigará o Manchester United a afastá-lo imediatamente e por tempo indeterminado, ainda que essa não seja a intenção do clube que investiu 95 milhões de euros em sua contratação no ano passado, justamente a pedido de Erik ten Hag.
Seja como for, apesar destes imbróglios serem completamente administráveis, igual aquele envolvendo Cristiano Ronaldo há um ano, é inegável que eles já comprometeram a campanha do Manchester United rumo ao título inglês, vide a distância de seis pontos que já o separa do vizinho barulhento que quase nunca desperdiça pontos na Premier League.