Não existem águas calmas no oceano da seleção espanhola

A inesperada eliminação da Espanha diante de Marrocos nas oitavas-de-final da Copa do Mundo de 2022, resultou na saída de Luis Enrique e na chegada de Luis de la Fuente para substituí-lo no comando técnico da seleção.

É óbvio que a intenção do então presidente da Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, era manter o treinador das seleções de base da Espanha no cargo de maneira provisória até que um novo comandante fosse contratado. Por esta razão, cada partida de Luis de la Fuente à frente da Furia Roja era considerada uma verdadeira decisão de campeonato ao técnico ironicamente chamado de ‘Luis sub-20’ pela mídia local, afinal, derrotas poderiam significar a precoce queda do sucessor de Luis Enrique.

Contudo, ainda que a Espanha tenha perdido da Escócia por 2 a 0 logo no segundo jogo o sob a batuta de Luis de la Fuente, o técnico de 62 anos de idade superou as expectativas ao vencer a Liga das Nações da UEFA em virtude do triunfo por 2 a 1 sobre a Itália, na semifinal, e da dramática vitória contra a Croácia nas penalidades, após um empate sem gols na decisão, e ao embalar uma sequência de seis resultados positivos obtidos desde a inédita conquista continental, nos quais se incluem as goleadas ante Geórgia e Chipre, por 7 a 1 e 6 a 0, respectivamente, além do 2 a 0 frente os escoceses que garantiu a liderança do grupo E das Eliminatórias da Euro ao selecionado campeão mundial de 2010.

Vale ressaltar que Luis de la Fuente escalou o montante de 47 jogadores diferentes desde a sua primeira convocação em março deste ano, lembrando que a lateral-esquerda foi a posição com mais atletas testados, sendo seis no geral, ao passo que doze novas peças estrearam defendendo as cores da seleção espanhola sob a sua gestão.

Aliás, dentre as novidades, os que mais se destacaram foram o zagueiro Robin Le Normand, da Real Sociedad, que hoje compõe a dupla de zaga titular juntamente com Aymeric Laporte, e o atacante Joselu, do Real Madrid, atual substituto de Álvaro Morata, porém utilizado o mesmo número de vezes que o rival do Atlético de Madrid, nove até aqui.

Deste modo, fica evidente que ao contrário de Luis Enrique, Luis de la Fuente prefere jogar com um centroavante tradicional, que serve como referência do time no ataque. Não à toa, o número de gols por intermédio de cruzamentos aumentaram na Espanha. Por sinal, os três tentos marcados pelos espanhóis na vitória por 3 a 1 sobre a Geórgia foram feitos através deste recurso.

Ademais, um dos principais méritos de Luis de la Fuente na seleção espanhola foi encontrar rapidamente uma equipe ideal, formando assim, uma sólida base composta por: Unai Símon, no gol; Dani Carvajal, Robin Le Normand e Aymeric Laporte, na defesa; Rodri e Gavi, no meio; e Álvaro Morata, no ataque.

Não obstante, o estilo extremamente intenso de cobrança e os minuciosos processos táticos que predominavam na seleção espanhola nos tempos de Luis Enrique, deram lugar a um tipo de abordagem mais direta e descontraída sob o comando de Luis de la Fuente, sendo esta, a mudança de maior relevância na Furia Roja, uma vez que a Espanha ainda pratica um futebol baseado no domínio da posse de bola contra a maioria dos adversários.

Portanto, além de trabalhar visando a busca por um bom futebol, Luis de la Fuente também focou na criação de um ambiente mais saudável junto a jogadores, torcedores, jornalistas e membros da Federação Espanhola de Futebol, até porque a demissão de Julen Lopetegui às vésperas da Copa do Mundo de 2018, e a declarada briga entre Luis Enrique e a imprensa no Mundial do Catar, continuam vivíssimos em sua memória.

Em contrapartida, o clima de paz envolvendo o treinador da seleção da Espanha e a mídia, em especial a catalã, azedou pra valer depois que Gavi saiu de campo gravemente lesionado na partida da rodada final das Eliminatórias da Eurocopa, a julgar que o meia do Barcelona poderia ser poupado em Valladolid pelo fato da Furia Roja já estar classificada. Por isso, De la Fuente passou a ser duramente criticado no noticiário esportivo da Catalunha.

Diante deste cenário, por mais que a Espanha seja uma das cabeças de chave do sorteio da Eurocopa, não é possível apontá-la como uma das seleções favoritas ao título do torneio, considerando ainda que os espanhóis estavam situados em uma chave tranquila nas Eliminatórias ao lado de: Escócia, que a derrotou na 2ª rodada, em Glasgow; Noruega, que decepcionou embora tenha Martin Odegaard e Erling Haaland; além dos modestos Geórgia e Chipre.

Somos uma das seleções capazes de lutar pelo título da Euro. Estamos entre os dez primeiros colocados do ranking da FIFA e queremos continuar melhorando. França, Alemanha, Inglaterra, Portugal, Itália, assim como a Croácia, também são muito competitivos, e você também não pode descartar uma surpresa. 

Luis de la Fuente, treinador da Espanha

Seja como for, a incerteza é constante quando nos referimos a Federação Espanhola de Futebol, sobretudo no instante em que a instituição não tem um presidente nomeado após a saída de Luis Rubiales, o que explica a razão pela qual o contrato de Luis de la Fuente ainda não foi renovado, apesar do atual vínculo do treinador terminar exatamente no meio da próxima edição da Eurocopa, isto é, no dia 30 de junho de 2024.

Com isso, caso o desempenho da Espanha caia nos jogos que antecedem a Eurocopa, e o futuro presidente da RFEF, que ainda não fazemos ideia de quem possa vir a ser, decida realizar mudanças na seleção, Luis de la Fuente correrá o sério risco de não embarcar rumo à Alemanha no ano que vem. Pois é, realmente não existem águas calmas na Furia Roja.

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