O incerto futuro da ‘Scaloneta’ aflige os atuais campeões mundiais

Dois anos após derrotar o Brasil por 1 a 0 na decisão da Copa América em pleno estádio do Maracanã, e quebrar o longo tabu de 28 anos sem dar uma volta olímpica, a Argentina voltou a fazer história ao vencer os brasileiros novamente no mesmo palco e pelo mesmo placar, impondo o primeiro revés dos pentacampeões mundiais atuando como mandantes em Eliminatórias.

Ainda assim, existe um detalhe entre estas façanhas que preocupa, demasiadamente, até o menos fanático dos torcedores argentinos, tendo em vista que ambos podem significar o primeiro e o último grande feito de Lionel Scaloni à frente da Albiceleste, a julgar que o treinador pegou todos de surpresa na entrevista coletiva concedida após o triunfo no Maracanã ao afirmar que cogita deixar a seleção da Argentina, embora seu contrato seja válido até o término da Copa do Mundo de 2026.

Uma coisa importante que eu queria dizer é que tenho que parar a bola, tenho muitas coisas para pensar neste tempo. Estes jogadores deram muito a essa comissão técnica e tenho que pensar muito sobre o que vou fazer. Não é um adeus e nem outra coisa, mas preciso pensar porque o sarrafo está muito alto, e está complicado seguir e está complicado seguir ganhando.

Lionel Scaloni, treinador da Argentina

Obviamente, essa declaração caiu como uma bomba no noticiário esportivo argentino, afinal, em cinco anos de trabalho Lionel Scaloni se tornou um dos heróis improváveis da Albiceleste, a ponto da seleção receber o apelido de Scaloneta.

Vale ressaltar que Lionel Scaloni, então na seleção sub-20, assumiu o comando técnico da Argentina em um momento conturbardíssimo, isto é, depois que os argentinos haviam sido eliminados pela França nas oitavas-de-final do Mundial da Rússia sob a batuta de Jorge Sampaoli, lembrando que a intenção da AFA (Associação de Futebol da Argentina) era mantê-lo no cargo até que um novo treinador fosse contratado.

No entanto, com as negativas por parte dos renomados Diego Simeone, Marcelo Gallardo e Mauricio Pochettino, a AFA se viu obrigada a manter Lionel Scaloni na função, dada a escassez de boas opções no mercado, uma situação que mudou completamente depois do gol de Ángel Di María sobre o Brasil na final da Copa América, em 2021, que garantiu o primeiro título da Argentina desde 1993.

Contudo, o melhor ainda estava por vir no ano seguinte, quando Lionel Scaloni conduziu a Argentina ao tão sonhado tricampeonato mundial, se eternizando ao lado de César Luis Menotti e Carlos Bilardo como os únicos treinadores argentinos campeões do mundo pela seleção.

Posteriormente, a Argentina ainda emendou uma série de oito vitórias seguidas no período pós-Copa do Mundo, registrando 20 gols marcados e nenhum sofrido neste ínterim. Entretanto, esta incrível sequência foi quebrada em razão da recente queda por 2 a 0 na Bombonera diante do Uruguai – cujo treinador é o também argentino Marcelo Bielsa -, um resultado que abalou bastante o técnico Lionel Scaloni, vide a conservadora postura dos atuais campeões mundiais na partida contra o Brasil.

Pois é, a Argentina desembarcou em solo brasileiro com o objetivo de não sofrer a inédita segunda derrota consecutiva na era Lionel Scaloni. Por este motivo, os argentinos jogaram de maneira bastante cautelosa no Maracanã, atuando no 4-4-2, com suas linhas em bloco baixo, e explorando tanto os contra-ataques quanto as bolas paradas. Não à toa, foi através de um escanteio que o zagueiro Nicolás Otamendi aproveitou a única oportunidade que a Albiceleste teve para ganhar do Brasil pelo placar mínimo.

Isto posto, o comportamento da Argentina nos dois jogos realizados nesta última Data FIFA de 2023, especialmente no Rio de Janeiro onde os argentinos encararam uma seleção desorganizada e em péssima fase, já haviam deixado uma sensação diferente em relação ao técnico Lionel Scaloni, o que se confirmou por intermédio de sua entrevista depois da partida.

De qualquer maneira, se analisarmos a condição de Lionel Scaloni rapidamente chegaremos à conclusão de que ele já alcançou tudo o que era possível à frente da seleção argentina, logo, uma sucessão de maus resultados, somada a possíveis eliminações nas próximas edições da Copa América e da Copa do Mundo, poderiam manchar a história da Scaloneta.

Portanto, ainda que a imprensa argentina especule que o suposto interesse do Boca Juniors em Lionel Scaloni esteja motivando o jovem treinador de 45 anos de idade a deixar a Albiceleste, a realidade é que a sua continuidade apresenta mais riscos do que certezas, principalmente porque o outro Lionel, neste caso Messi, também vive seus últimos dias na seleção.

Seja como for, a fantástica trajetória de Lionel Scaloni pela Argentina, marcada por 46 vitórias, 15 empates, 6 derrotas, um título continental e outro mundial, torna compreensível a enorme aflição da torcida só de imaginar perdê-lo após mais um histórico Maracanazo.

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