Quatro vitórias, 1 empate, 1 derrota, e 13 pontos ganhos. A ótima campanha do Uruguai, vice-colocado na tabela das Eliminatórias, retrata perfeitamente o excelente início de Marcelo Bielsa à frente da Celeste Olímpica, bem como o selecionado sul-americano “jogou a Copa do Mundo de 2022 no lixo” ao escolher o fraquíssimo Diego Alonso para substituir Óscar Tabárez e comandá-lo no Catar.
Logo, bastaram oito jogos no comando da seleção bicampeã mundial, sendo seis válidos pelas Eliminatórias, para que Marcelo ‘El Loco’ Bielsa, caísse nas graças dos, anteriormente céticos, torcedores charruas, uma vez que a drástica mudança do estilo de jogo reativo, conservador e mais físico, tradicionalmente praticado pelo Uruguai, para outro ofensivo, vertical e de pressão alta, gerava enorme incerteza na torcida no momento em que o ex-treinador do Leeds United desembarcou em solo uruguaio para dirigir a Celeste.
Além disso, o fato de Marcelo Bielsa não ter convocado os ídolos Fernando Muslera, Luiz Suárez e Edinson Cavani em seus primeiros jogos pelo Uruguai para dar início ao novo processo de reformulação da seleção, fez com que sua popularidade caísse no país, inclusive junto a boa parte da imprensa.
Por esta razão, as vitórias do Uruguai nos amistosos contra Nicarágua e Cuba, por 4 a 1 e 2 a 0, respectivamente, assim como o triunfo por 3 a 1 sobre o Chile na rodada inicial das Eliminatórias, não foram suficientes para amenizar a pressão que assolava o treinador argentino, e aumentou ainda mais depois da derrota por 2 a 1 frente o Equador, em Quito, além do empate em 2 a 2 ante a Colômbia, em Barranquilla.
Entretanto, o cenário mudou completamente a partir da 4ª rodada das Eliminatórias, quando o Uruguai derrotou o Brasil por 2 a 1, de virada, no estádio Centenário, conquistando a sua primeira vitória sobre os brasileiros desde 2001, e por dois gols desde 1983.
Em contrapartida, a satisfação dos uruguaios junto ao técnico Marcelo Bielsa se tornou absoluta no jogo seguinte, onde a Celeste bateu a rival Argentina por 2 a 0 em plena Bambonera, impondo o término da invencibilidade dos atuais campeões mundiais desde a Copa do Catar e, de quebra, encerrando o longo tabu de 86 anos sem vencer em território argentino.
Deste modo, o contundente 3 a 0 sobre a Bolívia na última partida realizada pelos comandados de Marcelo Bielsa em 2023, apenas coroou a excelente fase vivida pela seleção que terminará o ano na segunda posição das Eliminatórias, separada a apenas dois pontos da líder, Argentina.
Todavia, melhor do que a campanha e os feitos alcançados pelo Uruguai até aqui nas Eliminatórias, é o futebol apresentado pelo time que já tem a cara de Marcelo Bielsa, o que demonstra que mesmo em pouco tempo grandes treinadores são capazes de implementar seu sistema de jogo em equipes, por mais que o treinador de 68 anos de idade já tenha a experiência de ter liderado as seleções de Argentina e Chile ao longo da carreira.
A estratégia utilizada por Marcelo Bielsa para avançar etapas no processo de remontagem da Celeste foi a de convocar jogadores que se encaixassem no seu esquema de jogo, de acordo as suas características, até porque a boa safra de atletas uruguaios deu-lhe essa possibilidade.
À vista disso, alguns novos nomes apareceram na equipe titular do Uruguai, como são os casos do zagueiro Sebastián Cáceres, do América do México, e do meio-campista Maximiliano Araújo, do Toluca, ou seja, ambos vindos do futebol mexicano. Junto deles, uma sólida base foi formada com: Sergio Rochet, no gol; Mathías Olivera e Ronald Araújo, na defesa; Manuel Ugarte, Federico Valverde, Nicolás de la Cruz e Facundo Pellistri, no meio-campo; e com o artilheiro das Eliminatórias com 5 gols marcados, Darwín Núñez, no ataque.
Ademais, vale ressaltar que outros ótimos jogadores também integram o fortíssimo elenco charrua, dentre os principais podemos citar José María Gímenez, Matías Viña, Joaquín Piquerez, Rodrigo Betancur, Matías Vecino, Giorgian De Arrascaeta, Augustín Canobbio, Cristian Olivera e Facundo Torres. Sendo assim, opções não faltam a Marcelo Bielsa, da mesma forma que sobravam ao técnico Diego Alonso no Mundial de 2022.
Em oito jogos à frente da seleção uruguaia, Marcelo Bielsa registra 6 vitórias, 1 empate e uma derrota, obtendo 79% de aproveitamento através desta ótima performance.
E com todos os ‘ingredientes’ à disposição, coube Marcelo Bielsa fazer o que mais sabe, isto é, fazer o Uruguai jogar. Armada no 4-2-3-1, que por vezes varia para um 4-3-3, a seleção rapidamente criou uma identidade de jogo ofensiva, intensa e vencedora, já que os jogadores confiam nas vitórias independente dos adversários ou das circunstâncias da partidas, o que fortaleceu o espírito combativo presente no DNA charrua.
É uma equipe física que trabalha bem com a bola e é perigosa no contra-ataque. Dá para ver a mão do Bielsa na seleção. Em todos os lugares pelos quais passou, inclusive na Argentina, seu estilo foi perceptível. Eles (Uruguai) têm uma grande geração, jogam muito bem.
Lionel Messi, capitão da seleção argentina
Consequentemente, o Uruguai não apenas é dono do melhor ataque das Eliminatórias somando 13 tentos em 6 jogos, como também registra o maior índice de eficácia em finalizações no torneio, assinalando uma taxa de 15,8% de efetividade.
Por outro lado, o setor defensivo também se mostra consistente, tanto é, que os uruguaios não são vazados desde o empate com a Colômbia, permanecendo o montante de 308 minutos sem sofrer gols nas Eliminatórias, lembrando que este período inclui nada menos do que os jogos contra Brasil e Argentina.
Isto posto, a realidade é que o Uruguai se despede de 2023 sendo a grande sensação do futebol sul-americano e vislumbrando um futuro pra lá de promissor, especialmente porque a média de idade da seleção é de somente 26,1 anos, o que se subentende que o plantel chegará no auge físico e técnico para a disputa da próxima Copa do Mundo.
Por isso, fica claro e evidente que a Associação Uruguaia de Futebol (AUF) acertou em cheio ao escolher Marcelo Bielsa para coordenar esta nova etapa de reconstrução da seleção, algo que ele fez tão bem em sua passagem pelo Chile, ao lançar as bases da talentosa geração de Alex Sánchez, Arturo Vidal, Eduardo Vargas, Claudio Bravo e companhia limitada, que veio a ser bicampeã da Copa América sob os comandos de Jorge Sampaoli e Juan Antonio Pizzi.
Portanto, ao trilhar este mesmo caminho, é inegável que a Celeste Olímpica tem grandes possibilidades de erguer o caneco da Copa América no ano que vem.