Xavi, mais uma vítima da toxicidade barcelonista

Xavi Hernández deixará o comando técnico do Barcelona no final da temporada. Pois é, se a continuidade do jovem treinador de 44 anos de idade estava atrelada ao embate diante do Napoli pelas oitavas-de-final da Champions League, agora ela não está mais.

Aliás, de acordo com a mídia catalã – cuja credibilidade anda em baixa depois da falsa afirmação de que Mikel Arteta desembarcaria na Catalunha no meio do ano para dirigir o Barça – Xavi Hernández já havia confirmado a fontes próximas que só permaneceria no cargo até o encerramento da temporada depois da goleada por 4 a 1 frente o Real Madrid na final da Supercopa da Espanha, e que em breve informaria a diretoria, os jogadores e a comissão técnica.

No entanto, a mais recente derrota dos blaugranas, desta vez por 5 a 3 ante o Villarreal em pleno estádio Olímpico de Montjuic, fez com que Xavi Hernández anunciasse a sua futura saída antes do previsto, através da entrevista coletiva pós-jogo, curiosamente, concedida 24 horas depois do Liverpool divulgar que essa será a última temporada de Jurgen Klopp em Anfield.

Obviamente, Xavi Hernández não resistiu a enorme tensão que o assola pelos lados do Camp Nou, assim como já ocorrera com diversos ídolos barcelonistas. A propósito, se figuras notáveis como Pep Guardiola, Luis Enrique, Ronald Koeman e o próprio Xavi sofreram demasiadamente em razão do excessivo desgaste como técnicos do Barça, o que dirá o que se passou com Gerardo ‘Tata’ Martino, Ernesto Valverde e Quique Setién.

De qualquer maneira, este é apenas um reflexo da insuportável pressão exercida pela imprensa da Catalunha, seja nos momentos bons, onde a equipe é apontada como a melhor do mundo devido a conquista de vitórias, recordes ou títulos, seja nas fases ruins, quando o time não rende o esperado em campo e, consequentemente, nada presta, acima de tudo o treinador que lá está.

É claro que ver a sua foto estampada em capas de jornais como se fosse a de um vilão, ou ser alvo de constantes críticas na televisão, rádio e redes sociais aborreciam Xavi Hernández, mas não tanto quanto ter o seu nome escrachado pelos torcedores. Na realidade, este foi o fator preponderante que motivou Xavi a abrir mão dos doze meses de salário que ele ainda teria direito a receber por mais uma temporada no Barcelona, principalmente porque as cobranças já estavam afetando as vidas da esposa Núria, além da do irmão e auxiliar, Óscar.

Em todo o caso, além da decisão tomada por Xavi Hernández demonstrar o seu profundo respeito ao Barcelona, algo que não surpreende, ela também retrata a humildade do treinador catalão ao reconhecer que não está conseguindo fazer a engrenagem dos atuais campeões espanhóis funcionar na temporada em que se imaginava um conjunto mais forte coletivamente com as chegadas de Ilkay Gundogan, João Cancelo e João Félix. E olha que Xavi tentou de tudo e nada funcionou, o que acabou minando a confiança dos jogadores.

Barça, sob o comando de Xavi:2021/222022/232023-24*
LaLigaCampeão
Champions LeagueGruposGruposOitavas
Europa LeagueQuartasPlayoffs
Copa do ReiOitavasSemiQuartas
Supercopa da EspanhaSemiCampeãoVice
Aproveitamento57,9%70,4%67,7%

Por isso, Xavi Hernández teria muito mais a perder se quisesse cumprir o último ano de contrato no Barça. Contudo, independente do desfecho da temporada o futuro não se apresenta favorável ao técnico catalão. Apesar de sair maior do que quando chegou – até porque naquela oportunidade ele só havia trabalhado no Al-Sadd, do Catar -, é bastante improvável que algum grande clube da Europa procure Xavi no meio do ano, ainda que Liverpool e, talvez Bayern de Munique e Milan, estejam procurando um novo comandante.

Em contrapartida, o Barcelona se mostrou satisfeito com a conduta de Xavi Hernández pelo fato de não precisar contratar um técnico neste momento da temporada, e ainda ter tempo de sobra para definir qual será o seu sucessor, tendo primeiramente como obrigação definir se ele será um treinador experiente ou promissor, lembrando que os catalães experimentaram ambas opções nos últimos dois trabalhos com Ronald Koeman e Xavi.

Como citado anteriormente, os rumores envolvendo a vinda de Mikel Arteta tratavam-se de fake news, o que era de se imaginar pelo fato do técnico basco não ter nenhuma ligação com o Barça, a não ser a identidade cruyffista herdada na época em que ele ainda era auxiliar de Pep Guardiola no Manchester City. Deste modo, é difícil afirmar se os nomes de Jurgen Klopp, Julian Nagelsmann, Thomas Tuchel, Thiago Motta e Míchel estão na mira do clube.

Decerto, mesmo, é que o próximo treinador do Barcelona precisará estar preparado para lidar com a imprensa catalã, que arruinou o trabalho dos antecessores, ao mesmo tempo que deverá conviver com a complexa situação financeira do clube que terá reduzidas as chances de altos investimentos em reforços, a menos que os comandados de Xavi Hernández avancem mais dois estágios até as semifinais Champions League, e terminem a LaLiga na vice-colocação da tabela, o que faria seu orçamento aumentar na temporada 2024-25.

Inclusive, um dos motivos que criaram um desgaste entre Xavi Hernández e a cúpula diretiva do Barcelona – composta pelo presidente Joan Laporta, pelo vice-presidente Rafa Yuste, pelo diretor-esportivo Deco, além dos assessores de Laporta, Enric Masip e Alejandro Echevarria – foi exatamente o mercado de transferências, já que a opinião de Xavi era contrária em relação a da diretoria no que diz respeito a contratações. Por sinal, o único dirigente que tinha um pensamento alinhado junto ao treinador catalão era Jordi Cruyff, ex-diretor que abdicou da função depois da última temporada.  

Por exemplo, após a ida de Sergio Busquets ao Inter Miami, Xavi Hernández indicou Martin Zubimendi, Joshua Kimmich e Marcelo Brozovic para substituí-lo no meio-campo. Entretanto, a peça contratada pelo Barcelona foi Oriol Romeu que, na visão dos dirigentes, se encaixaria perfeitamente no lugar do antigo capitão. Sem a compreensão de Xavi, o ex-jogador do Girona disputou somente 22 partidas até aqui na temporada, sendo 14 como titular.

Seja como for, se por um lado a trajetória de Xavi Hernández como técnico do Barcelona não foi como ele havia planejado, por outro ela teve o mesmo desenlace daquela dos profissionais que passaram pelo Camp Nou nos últimos anos, ou seja, com todos saindo fartos em meio ao tóxico ambiente do clube, e curtindo uma maravilhosa noite sono depois do anuncio de seus respectivos desligamentos.

Isto posto, a dúvida que fica é: se nem mesmo um ídolo que ergueu 25 canecos no decorrer dos 17 anos ou 767 jogos em que defendeu as cores do Barça, e que conhece os meandros do clube como ninguém, simplesmente não conseguiu resistir a sua toxicidade, quem no mundo da bola será capaz de suportá-la?

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