A devoção ao DNA barcelonista pode custar caro a Luis Enrique

Os primeiros noventa minutos da batalha entre Paris Saint-Germain e Barcelona, que vale vaga nas semifinais da Champions League, terminou com a vitória dos espanhóis por 3 a 2 em pleno Parque dos Príncipes. Quer dizer, um resultado que obrigará os franceses a vencerem o jogo de volta para que o sonho do inédito título europeu se mantenha vivo.

E como já era de se esperar, o duelo envolvendo as equipes comandadas por dois treinadores que ostentam o DNA cruyffista cumpriu totalmente as expectativas, a julgar pelas duas viradas no placar ao longo da partida. Todavia, o que os parisienses realmente não imaginavam é que o PSG sairia de campo derrotado pela primeira vez no ano.

Apesar do decepcionante primeiro tempo, que terminou com o triunfo do Barcelona pelo placar mínimo, o Paris Saint-Germain precisou de cinco minutos para passar a frente do marcador na etapa final através dos tentos de Ousmane Dembélé e Vitinha, respectivamente. E isso graças a alteração tática promovida por Luis Enrique ao trocar o 4-3-3 pelo 4-3-1-2 no segundo tempo, uma ação que aproximou Ousmane Dembelé de Kylian Mbappé, e tornou o time mais agudo.

Ademais, através desta mudança Kylian Mbappé passou a atuar ao lado de Bradley Barcola – que entrou no lugar de Marco Asensio – no ataque, enquanto Ousmane Dembélé jogou posicionado atrás da dupla de atacantes, ganhando maior liberdade de movimentação e oportunidades de receber a bola. Não à toa, o ex-jogador do Barcelona, eleito o principal nome do PSG em campo, foi premiado ao balançar as redes pela segunda vez na temporada, sendo a primeira pela Champions League.

Em seguida, Xavi Hernández agiu de forma rápida ao reforçar o meio-campo com a entrada de Pedri na vaga de Sergi Roberto. Como consequência, Raphinha igualou a contagem após receber a assistência do meia que estava fora de combate há 37 dias. Posteriormente, outra alteração feita por Xavi teve impacto direto no jogo, uma vez que Andreas Christensen marcou o gol da segunda virada no Parque dos Príncipes dois minutos depois de substituir Frenkie de Jong.

Ainda assim, o maior mérito do Barcelona em sua visita a Paris foi, literalmente, anular Kylian Mbappé, tanto é, que o craque francês não concedeu nenhum chute na direção certa do gol no decorrer da partida, algo que não acontecia no Parque dos Príncipes pela Champions League desde a vitória por 2 a 0 diante do Manchester City, em setembro de 2021.

Pois é, e além de encerrar o jogo sem registrar nenhuma finalização certa no gol, Kylian Mbappé também não deu assistências, acertou somente uma dentre as três tentativas de dribles, cometeu três faltas, e ficou três vezes impedido. Ou seja, números bastante aquém por parte do jogador que pode ter feito a sua última apresentação com a camisa do Paris Saint-Germain no Parque dos Príncipes pelo torneio continental. 

Consequentemente, na Catalunha o PSG precisará realizar uma façanha jamais antes alcançada pelo clube, isto é, reverter um placar negativo no jogo de volta em um mata-mata de Champions League. Joga a favor dos franceses, o fato de que eles golearam o Barcelona por 4 a 1 no último jogo disputado entre eles no Camp Nou, em 2021, marcado tanto pela despedida de Lionel Messi defendendo o Barça pela competição, quanto por um hat-trick de Kylian Mbappé.

Portanto, embora difícil, o regresso dos parisienses às semifinais da Champions League depois de duas eliminações consecutivas na fase de oitavas-de-final é totalmente viável, porém para efetivá-lo será necessário que Kylian Mbappé esteja inspirado, como ocorreu no estágio anterior em que ele marcou três dos quatro gols do Paris Saint-Germain contra a Real Sociedad.

Não obstante, será fundamental que Luis Enrique desapegue da fidelidade ao padrão barcelonista, assim como Xavi Hernández fez ao abrir mão da posse de bola a fim de seguir um plano de jogo bastante minimalista no Parque dos Príncipes, sobretudo porque a busca pela vitória deve ser acelerada desde o primeiro segundo de partida. Contudo, o problema é que o próprio técnico do PSG afirmou ser mais leal a histórica identidade do Barcelona do que Xavi, o que coloca em risco a classificação dos atuais bicampeões da Ligue 1.

Quem é mais fiel a filosofia de jogo do Barcelona? Eu, sem dúvida alguma. Vejam os dados de posse de bola, chances de gol, pressão alta. Veja os títulos, os troféus. Não é uma opinião, mas sim uma constatação. Sem dúvida, eu!

Luis Enrique, treinador do PSG

Vale ressaltar que Luis Enrique teve uma longa passagem de oito anos como jogador do Barcelona e, mais tarde, foi treinador da equipe entre 2014 e 2017. Por sinal, foi justamente neste período, mais especificamente na temporada 2014-15, que os catalães ergueram a orelhuda pela última vez sob a liderança do capitão Xavi Hernández dentro das quatro linhas.

Isto posto, é inegável que a rica e longa trajetória de Luis Enrique no Barcelona, composta por marcantes jogos, clássicos, títulos e recordes, seja como jogador, seja como treinador, lhe exortaram padrões praticamente irremovíveis, o que explica porque o 4-3-3, por vezes jogado com um falso nove mas que sempre prioriza o controle do jogo por intermédio da posse de bola, se tornou uma verdadeira obsessão ao técnico asturiano de 53 anos de idade.

Acontece, que essa devoção ao modelo de jogo barcelonista pode ser fatal ao próprio Luis Enrique e, de maneira indireta, favorecer os catalães mesmo sem ser utilizado por eles em campo. Logo, para minimizar os riscos de uma possível eliminação em Montjuic, basta o técnico do PSG se desprender de suas fortes raízes justamente diante do clube que as criou. A ver!

2 Comentários

  1. Baita análise!!! Barcelona tem mais peso por toda sua história e títulos, porém a equipe atual não é mais aquela equipe que todos temiam e acreditavam anos atrás. O PSG se não fosse o Neymar não tinha chegado a final de uma Champions League, e hoje volta a chegar as quartas novamente, tem que valorizar muito essa passagem. Um duelo que vai pegar fogo no jogo de volta, e que vença o melhor.

    • JoaoRicardo Responder

      Com certeza, será uma partida digna de grandes jogos da Champions League, e embora o Barça jogue por dois dentre os três possíveis resultados, o duelo segue em aberto, principalmente, porque do outro lado estará Mbappé. É como você disse, que vença o melhor!
      Obrigado pelo comentário, suas análises são sempre muito precisas.

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