Bologna, de volta à Champions League após 59 anos. A primeira obra de arte de Thiago Motta

O hino da Champions League voltará a tocar no estádio Renato Dall’Ara depois de 59 anos, um longo período que demonstra o quão excepcional foi o feito alcançado por esse histórico Bologna, de Thiago Motta.

Mas, histórico? Sim, pois a época que o Bologna dominou o futebol italiano está no passado pra lá de distante, inclusive, são pouquíssimos os torcedores vivos que ainda se recordam da era dourada dos Rossoblù que teve início com a conquista do primeiro scudetto em 1925, e se estendeu por intermédio de outros cinco títulos até a suspensão das competições esportivas na Europa em virtude da Segunda Guerra Mundial.

Por sinal, a guerra também deixou tristes marcas no Bologna, a julgar que Arpad Weisz, treinador judeu húngaro da equipe nos dois scudettos da década de 1930, precisou fugir da Itália em razão da aliança entre Adolf Hitler e Benito Mussolini. Ainda assim, ele acabou sendo assassinado no campo de concentração nazista de Auschwitz em 1944. Por este motivo, uma das arquibancadas do estádio Renato Dall’Ara leva o seu nome.

Posteriormente, o Bologna só voltou a soltar o grito de campeão italiano em 1964, quando faturou o sétimo e último scudetto até então. De lá pra cá, os emilianos conquistaram apenas mais duas Copas da Itália (1970 e 1974), além de um título da Copa Intertoto, em 1988, se tornando um dos únicos três clubes detentores da taça do extinto torneio da UEFA.

Em todo o caso, por mais que o duradouro jejum de títulos do Bologna permaneça depois da atual temporada, a vaga na Champions League tem valor equivalente ao de uma conquista aos Rossoblù, afinal, ela representa a ida do clube que tem a 15ª folha salarial mais cara da Serie A ao principal torneio do futebol europeu. Não à toa, milhares de torcedores festejaram a classificação até altas horas da madrugada desta segunda-feira (14).

Aliás, vale ressaltar que a confirmação da vaga na Champions League ocorreu sem o Bologna estar em campo, pois a queda da Roma diante da Atalanta, em Bérgamo, rendeu a antecipada classificação aos pupilos de Thiago Motta, que no dia anterior haviam derrotado o campeão da temporada passada, Napoli, em pleno estádio Diego Maradona, por 2 a 0.

Não obstante, outro detalhe curioso é que Dan Ndoye e Stefan Posch foram os autores dos gols do Bologna na vitória sobre o Napoli, ou seja, dois jogadores fundamentais na caminhada rumo à Champions League, mas que ainda não haviam marcado na Serie A, o que saiu totalmente do natural que seria Joshua Zirkzee ou Riccardo Orsolini, os principais goleadores do Bologna com 12 e 10 tentos na temporada, respectivamente, balançarem as redes.

Além disso, o terceiro maior artilheiro do Bologna com seis gols, Lewis Ferguson, sofreu uma grave lesão no joelho – no empate sem gols contra o Monza, há um mês – que, infelizmente, o deixou de fora do restante temporada. Ao mesmo tempo, é interessante que os Rossoblù não perderam nenhum dos quatro jogos disputados desde a lesão do meia escocês.

Contudo, a invencibilidade do Bologna já perdura há oito partidas, das quais os emilianos obtiveram quatro vitórias e quatro empates, registrando dez tentos marcados e somente dois sofridos neste período, um dado que comprova a solidez defensiva do time que levou apenas 17 gols, não foi vazado em 17 das 36 rodadas e, por conta disso tudo, é dono da segunda melhor defesa da Serie A, somente atrás da campeã Inter de Milão.

De qualquer maneira, a Champions League só se tornou uma realidade ao Bologna em função do excelente trabalho desenvolvido por Thiago Motta, cuja principal ação foi idealizar sistemas flexíveis que permitem explorar o máximo possível de cada um dos seus jogadores. Riccardo Calafiori, por exemplo, anteriormente lateral-esquerdo, foi transferido para para atuar como um zagueiro central detentor de uma atípica mobilidade.

Minha felicidade é ver o grupo trabalhando, jogando bem, então o crédito vai para os jogadores. Adoro esses caras e estou muito feliz pelos torcedores que estão vivenciando esse momento e sempre nos apoiando.

Thiago Motta, treinador do Bologna

Diante deste cenário, o grande desafio do Bologna a partir de agora passa a ser renovar o contrato de Thiago Motta, válido somente até o término da temporada. Obviamente, o sucesso à frente dos Rossoblù colocou o jovem treinador de 41 anos de idade nos holofotes do futebol europeu, vide os supostos interesses de Milan, Juventus e Manchester United.

À vista disso, os dois mil torcedores que lotaram o centro de treinamentos Casteldebole depois da qualificação na Champions League, gritavam: Thiago resta con noi! (Thiago fica com a gente!). Deste modo, o trabalho primordial da diretoria do Bologna é assegurar a permanência do técnico ítalo-brasileiro, algo que o presidente Joey Saputo cuidará pessoalmente, tanto é, que ele está vindo do Canadá para conduzir a negociação.

Seja como for, argumentos não faltam para o mandatário norte-americano convencer Thiago Motta a ficar, a começar pela oportunidade de comandar o Bologna, clube pelo qual é idolatrado, na Champions League após seis décadas. Ademais, a paixão do ex-treinador do Spezia pela cidade, pelo clube e pela torcida, também pesam a favor da extensão contratual.

Portanto, para fazer de Thiago Motta o novo Xabi Alonso ou Gian Piero Gasperini do Bologna, Joey Saputo precisará lhe apresentar um projeto esportivo sólido e, acima de tudo, ambicioso, capaz não apenas de evitar um desmanche no elenco puxado pela saída de Joshua Zirkzee, como também de propiciar a chegada de reforços de nível internacional para a disputa da Champions League.

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