Com direito a um hat-trick de Ademola Lookman, a Atalanta bateu o Bayer Leverkusen por 3 a 0 em Dublin, e regressou da capital irlandesa com a inédita taça da Europa League na bagagem, saindo da longa fila de 61 anos sem títulos.
Antes de mais nada, quando Antonio Percassi adquiriu a Atalanta em 2010, a intenção do clube de Bérgamo era apenas retornar à elite do futebol italiano e por lá se manter. Entretanto, esses objetivos foram se tornando cada vez mais audaciosos desde a chegada de Gian Piero Gasperini há oito anos, a julgar pela quarta colocação na Serie A logo na primeira temporada do ex-treinador do Genoa à frente da Dea.
Portanto, fica claro e evidente que o trabalho de Gian Piero Gasperini começou a gerar bons frutos à Atalanta desde o seu primeiro dia, acima de tudo porque o estilo de jogo ofensivo do treinador de 66 anos de idade, baseado no 3-4-3, onde os alas são os principais protagonistas no último terço do campo, casou perfeitamente com as características dos bergamascos, em meio ao desenvolvimento de jovens oriundos das categorias de base.
Consequentemente, a Atalanta passou a lapidar o futebol de jovens promessas, se transformando em uma das maiores exportadoras do mundo da bola, haja vista as vendas de Franck Kessié, Andrea Conti, Roberto Gagliardini, Mattia Caldara, Alessandro Bastoni, Dejan Kulusevski e Amad Diallo. Ademais, mesmo jogadores não formados no clube, como foi o caso de Rasmus Hojlund, se valorizaram sob o comando de Gian Piero Gasperini.
À vista disso, a chegada de Gian Piero Gasperini foi como um divisor de águas na história da Atalanta, cuja realidade mudou por completo apesar do orçamento bastante inferior em comparação aos principais postulantes na corrida pelo scudetto da Serie A. Para se ter uma ideia, nos oito anos sob a liderança de Gasperini, os bergamascos disputaram três edições da Champions League, sendo quadrifinalistas na temporada 2019-20, além de terem sido três vezes vice-campeões da Coppa Italia.
Logo, a única coisa que faltava para coroar o brilhante trabalho de Gian Piero Gasperini em Bérgamo era um título, que havia novamente escapado na semana passada com a queda da Atalanta diante da Juventus pelo placar mínimo na decisão da Coppa Italia, em razão do gol solitário de Dusan Vlahovic no estádio Olímpico de Roma, que acabou se confirmando como a segunda final seguida perdida frente os bianconeros.
Deste modo, por perder a decisão em que era considerada favorita devido a crise vivida pela Juventus nos momentos finais da melancólica segunda passagem de Massimiliano Allegri por Turim, a Atalanta desembarcou em Dublin sendo apontada como a grande zebra na finalíssima contra o Bayer Leverkusen, campeão alemão e invicto até então na temporada somando o montante de 51 jogos sem derrotas (42V-9E).
Inclusive, muitos afirmavam que a missão da Atalanta já havia sido cumprida ao disputar a primeira final europeia de sua história. Além disso, como a vaga na próxima edição da Champions League já estava assegurada, a sensação era a de que os comandados de Gian Piero Gasperini foram apenas passear e tirar algumas fotos na Irlanda.
A Atalanta é a campeã (inédita!) da Liga Europa 23/24! É o 1º título europeu da história do clube. 🇮🇹🏆
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) May 22, 2024
⚔️13 jogos
🚥8V – 4E – 1D (!)
📊71.8% aproveitamento (!)
⚽️25 gols (!)
🚫8 gols sofridos (!)
🛠44 grandes chances (!)
👟6.7 finalizações p/ marcar gol (!)
⏳47.5% posse pic.twitter.com/TvYiQbwJHt
No entanto, a Atalanta novamente desafiou a lógica com a única diferença de que desta vez o clube italiano receberá o crédito que tanto merece por, enfim, ter dado a volta olímpica. A propósito, o que se viu no Aviva Stadium foi um verdadeiro massacre sobre o Bayer Leverkusen, completamente desnorteado com a marcação alta, a intensa pressão, as rápidas transições, além da troca de passes objetivas e a inspirada partida de Ademola Lookman, o grande personagem da final com três tentos marcados.
Vale ressaltar que esse domínio foi ainda mais amplo na primeira meia hora de jogo, em que a Atalanta abriu uma vantagem de 2 a 0 no marcador. Em resumo, o Bayer Leverkusen não viu a cor da bola, dada a volúpia ofensiva por parte dos italianos, que iniciaram a partida com Ademola Lookman, Gianluca Scamacca e Charles De Ketelaere compondo o trio de ataque, ao passo que Teun Koopmeiners e Éderson formaram a dupla de volantes. Ou seja, mais uma vitória que teve a assinatura de Gian Piero Gasperini.
Isto posto, a superioridade tática, técnica, atlética e competitiva da Atalanta se refletiu através do largo 3 a 0, sobretudo em se tratando de uma decisão. Ainda assim, nada que surpreenda o time que já havia eliminado: o Sporting CP, campeão português da atual temporada; o Liverpool, na época líder da Premier League, o derrotando pela mesma contagem da final em pleno Anfield Road (3 a 0); além do Olympique de Marselha, nas fases anteriores da Europa League.
Curiosamente, 3 a 0 foi o placar das vitórias da Atalanta sobre Liverpool, nas quartas-de-final, Olympique de Marselha, nas semifinais, e Bayern Leverkusen, na final da Europa League.
Assim, ao mesmo tempo que Gian Piero Gasperini faturou um inédito troféu em duas décadas de carreira, a Atalanta também voltou a soltar o grito de campeã pela primeira vez desde a conquista da Coppa Italia em 1963, se tornando a única equipe italiana detentora do título desta nova configuração da Europa League, já que o último representante do país a vencê-la foi o Parma, na temporada 1998-99, período em que o torneio se chamava Copa da UEFA.
Em suma, a histórica Europa League, da Atalanta, não apenas premiou o revolucionário trabalho de Gian Piero Gasperini, como também acabou com o estigma de que ele não ganha títulos, pois aos que ainda duvidavam, o imbatível Bayer Leverkusen, de Xabi Alonso, foi a prova viva disso.