Quando Xavi Hernández desembarcou na capital catalã para suceder Ronald Koeman no comando técnico do Barcelona em novembro de 2021, a sua missão era apenas uma: repetir fora das quatro linhas todo o sucesso alcançado defendendo os blaugranas dentro de campo.
No entanto, as coisas não saíram conforme o planejado, a julgar que Xavi se despediu do Barcelona após duas temporadas e meia, ou 143 partidas, colecionando dois títulos, incluindo o da LaLiga no ano passado. Em outras palavras, um ciclo absolutamente incomparável em relação aquele em que o eterno camisa 6 colecionou 767 jogos, 85 gols e 25 troféus defendendo as cores do Barça entre 1998 e 2015.
Na realidade, a enorme turbulência vivida pelo Barcelona nessa temporada foi preponderante para a queda de Xavi Hernández. Por sinal, uma saída pra lá de conturbada, confirmada um mês depois do presidente do clube, Joan Laporta, anunciar, aos prantos, a continuidade do treinador espanhol até o encerramento de seu vínculo contratual em junho de 2025.
Por outro lado, é importante salientar que o próprio Xavi Hernández já havia informado que só ficaria no Barcelona até o final da temporada após a goleada por 5 a 3 frente o Villarreal em pleno estádio Olímpico de Montjuic, que aumentou demasiadamente a pressão oriunda das eliminações do time catalão nas copas nacionais – caiu diante do Real Madrid, na decisão da Supercopa da Espanha, e do Athletic Bilbao, nas quartas-de-final da Copa do Rei.
Ainda assim, o Barcelona terminou a LaLiga na vice-colocação com 85 pontos, dez atrás do campeão Real Madrid, e somente três a menos em comparação a campanha do título espanhol da última temporada, o que demonstra que o desempenho da equipe não caiu tanto quanto parece, sobretudo se considerarmos o fato de que os pupilos de Xavi Hernández foram quadrifinalistas da Champions League, isto é, uma performance bastante superior a da edição anterior do torneio em que eles não superaram a fase de grupos.
38 rodadas disputadas. ✔️
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A #LALIGAEASPORTS 2023/24 chega ao final. 😭 pic.twitter.com/vlMmCDXHho
Inclusive, muito se fala que a queda de rendimento do setor defensivo foi o grande responsável pelo declínio do Barcelona, algo pertinente ao time que foi sofreu o total de 24 tentos a mais nessa temporada da LaLiga (20 – 44). Todavia, a desgastada relação entre Xavi Hernández e o vestiário se mostra como o principal problema do Barça, a começar porque Raphinha não foi nem ao menos relacionado para integrar o plantel barcelonista na última rodada contra o Sevilla, em razão da ríspida discussão que o brasileiro teve com o auxiliar e irmão de Xavi, Óscar.
Robert Lewandowski, por exemplo, foi substituído sete vezes nos últimos oito compromissos, enquanto Ronald Araújo esteve míseros 28 minutos em ação somando as quatro partidas anteriores do Barcelona, ficando no banco de reservas na rodada final da LaLiga ao alegar um desconforto no joelho. Por fim, o atacante João Félix não completou os noventa minutos de nenhum jogo da LaLiga no ano de 2024. Ou seja, episódios que sinalizam o desgaste de Xavi junto a alguns “cobrões” do elenco.
Em contrapartida, o maior legado deixado por Xavi Hernández no Barcelona foi o excelente trabalho desenvolvido com atletas da base, o que já era esperado por alguém que formado em La Masia. Embora a grave situação financeira do clube tenha o obrigado a recrutar jovens jogadores, é inegável que o sucesso dos novatos Lamine Yamal, Pau Cubarsí, Fermín López, Héctor Fort e Marc Guiu deu-se graças ao treinador de 44 anos de idade.
Mundo Deportivo cartoon: 'Xavi's legacy at Barcelona' pic.twitter.com/bcU4tFr0Au
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Seja como for, Xavi Hernández já faz parte do passado ao Barcelona que, por sua vez, está em vias de anunciar a vinda de Hansi Flick. Mas como? Isso ainda não se sabe, já que o antecessor havia aceitado uma considerável redução salarial para seguir à frente da equipe. Decerto, mesmo, é que o contrato do ex-treinador do Bayern de Munique e da seleção alemã será válido por duas temporadas.
Em termos econômicos, o mais viável seria o Barça promover o treinador do conjunto B, Rafa Márquez, que segundo o antigo companheiro de zaga, Gerard Piqué, é o nome ideal para substituir Xavi. Aliás, uma opinião também compartilhada pelo diretor esportivo Deco, porém contrária ao pensamento de Joan Laporta, cuja intenção é trazer um técnico experiente e, é claro, detentor de um viés ofensivo.
O auge de Hansi Flick na carreira ocorreu na pandêmica temporada 2019-20, quando após assumir o posto de Nico Kovac como técnico interino ele conquistou absolutamente TUDO pelo Bayern de Munique, faturando a segunda tríplice coroa da história do clube. Para se ter uma ideia, foram 70 vitórias, 9 empates e somente 7 derrotas, em 86 jogos sob o comando dos bávaros.
Com isso, por mais que o Barcelona não siga a filosofia de manter ex-jogadores do clube dirigindo o time principal, o que importa é que a identidade de jogo barcelonista será preservada, afinal, Hansi Flick também é adepto de um estilo ofensivo e dominante. Não à toa, o Bayern balançou as redes o montante de cem vezes pela Bundesliga na primeira temporada de Flick, e assinalou outros 99 gols na edição seguinte.
Estruturado no 4-2-3-1, o Bayern, de Hansi Flick, tinha como principal arma as constantes subidas dos laterais Benjamin Pavard e Alphonso Davies, que juntamente com os meias Serge Gnabry, Leroy Sané e Kingsley Coman, serviam o atacante Robert Lewandowski, especialmente, por intermédio de cruzamentos, quer dizer, um padrão bastante similar ao adotado pelo Barcelona, de Xavi, através das chegadas de Lamine Yamal, Raphinha e Ferran Torres pelos lados.
Mas apesar de ter saído do Bayern de Munique em alta, Hansi Flick perdeu créditos depois da pífia passagem pela seleção alemã, marcada pela eliminação da Mannschaft na fase de grupos da Copa do Mundo de 2022, ainda que o fim de Joachim Low não tenha sido bom tanto como o início de Julian Nagelsmann.
Deste modo, a chegada de Hansi Flick ao Barcelona representa a grande oportunidade de ambos se reerguerem no futebol.