Após dois anos, o Saint-Étienne está de volta ao seu “habitat natural”

Há dois anos, enfurecidos torcedores do Saint-Étienne protagonizavam uma lamentável cena ao invadirem o gramado do Stade Geoffroy-Guichard em função da derrota para o Auxerre – nos penâltis -, que resultou na queda dos Verts à segunda divisão após 18 anos na elite do futebol francês.

No entanto, o drama aumentou ainda mais depois do pífio oitavo lugar do Saint-Étienne na primeira campanha pós-descenso na Ligue 2. Por este motivo, a torcida realmente não alimentava boas expectativas em relação a temporada 2023-24, sobretudo depois das derrotas sofridas pelo conjunto alviverde nas duas rodadas iniciais do campeonato, que evidenciavam, dentre outras coisas, o estrago causado pelas saídas tanto do lateral-esquerdo Niels Nkounkou, quanto do artilheiro Jean-Philippe Krasso.

Desta maneira, por mais que o Saint-Étienne tenha engatilhado uma boa sequência de dez jogos sem derrotas entre a 3ª e a 12ª jornada da Ligue 2, acumulando 7 vitórias e 3 empates neste período, o treinador Laurent Batlles, que na temporada anterior havia se sustentado no cargo depois de três momentos críticos, seguia, literalmente, com a corda no pescoço.

Consequentemente, os cinco reveses obtidos nos seis compromissos posteriores culminaram com a saída de Laurent Batlles e a chegada de Olivier Dall´Oglio ao comando técnico dos Stéphanois. Na ocasião, o Saint-Étienne acabava de ser eliminado da Copa da França pelo modesto Nimes, da terceira divisão, e ocupava somente a oitava posição da Ligue 2, estando separado a exatos nove pontos do vice-colocado Naval, o primeiro clube situado na zona de acesso direto à Ligue 1.

Pois é, e a troca de treinadores surtiu o efeito esperado ao Saint-Étienne, especialmente por conta da evolução defensiva dos Verts. Não à toa, eles terminaram a Ligue 2 com a melhor defesa da competição contabilizando 31 gols sofridos em 38 rodadas, lembrando que o trabalho focado na intensidade, bem como na parte mental da equipe por intermédio do mantra “força, superação e adrenalina”, também foram cruciais para o sucesso do clube dez vezes campeão francês, sob o comando de Olivier Dall´Oglio.

À vista disso, o ex-treinador do Montpellier que já havia alcançado um surpreendente feito ao conduzir o Dijon à Ligue 1 em 2016, fez os jogadores do Saint-Étienne acreditarem na promoção que passou a se tornar real depois das contratações dos atacantes do Augsburg, Ivin Carbona e Nathanael Mbuku, além do lateral Yvann Maçon, aquele mesmo rebaixado com o clube em 2022, na janela de transferências de janeiro.

Por fim, o “ressurgimento” de Mickael Nadé, um dos remanescentes da queda à segunda divisão ao lado de Etienne Green, Yvann Maçon e Aimen Moueffek, deu maior sustentabilidade a defesa, tanto é, que o Saint-Étienne foi vazado em apenas 13 dos 20 jogos em que o jovem zagueiro de 25 anos esteve em campo no ano de 2024.

Isto posto, sob as lideranças de Gautier Larsonneur, Anthony Briançon e Thomas Monconduit dentro das quatro linhas, o Saint-Étienne protagonizou uma incrível corrida de 11 vitórias, 4 empates, 4 derrotas e 37 pontos marcados no returno da Ligue 2, efetuando a melhor campanha da segunda metade do torneio, composta pelas goleadas sobre Troyes (5 a 0) e Bastia (4 a 0).

Diante deste cenário, os comandados de Olivier Dall´Oglio finalizaram a Ligue 2 no terceiro posto da tabela, a somente três pontos do vice-campeão Angers. Por outro lado, o Saint-Étienne garantiu a possibilidade de jogar os playoffs contra o Rodez e, no caso de vitória, frente o antepenúltimo colocado da Ligue 1. Em outras palavras, algo completamente impensável no início da temporada.

Em todo o caso, o regresso do Saint-Étienne ficou mais próximo depois do triunfo por 2 a 0 ante o quarto colocado Rodez, um duríssimo adversário que os Verts jamais haviam vencido. Para se ter uma ideia, eram três empates e duas derrotas em cinco enfrentamentos até os playoffs da Ligue 2, incluindo recentes confrontos da temporada regular – 2 a 1, e 1 a 1.

Posteriormente, aproveitando as circunstâncias, o Saint-Étienne, cuja a confiança estava em alta, bateu o Metz, que atravessava uma indigesta fase na batalha contra o rebaixamento, por 2 a 1 no Geoffroy-Guichard, estendendo a sua invencibilidade para nove partidas atuando em seus domínios, o que lhe rendeu a oportunidade de jogar por dois resultados – empate e vitória – no jogo de volta.

Entretanto, a vantagem do Saint-Étienne foi diluída em menos de meia hora de jogo com os dois gols sofridos pelos Verts no Stade Saint-Symphorien. Contudo, o mesmo placar de 2 a 1, porém desta vez a favor do Metz, levou a decisão para a prorrogação, onde o herói improvável Ibrahima Wadji, que havia acabado de entrar em campo, balançou as redes aos 12 minutos da etapa final do tempo extra, confirmando o acesso do Sainté, ainda que com 11 derrotas registradas no decorrer da árdua caminhada na Ligue 2.

Assim, a realidade é que a temporada 2023-24 será como um divisor de águas na história do Saint-Étienne, tendo em vista que o clube não apenas marcará presença no primeiro escalão do futebol francês pela 70ª vez, como também passará a ser 100% gerido pela Kilmer Sports, companhia administrada pelo bilionário e dono da franquia de basquete Toronto Raptors, Larry Tanenbaum.

Portanto, o quentíssimo clássico da Auvérnia-Ródano-Alpes, que corria chegou a correr o risco de ser disputado na segunda divisão na próxima temporada devido ao começo pra lá de irregular do Lyon na Ligue 1, voltará a ser realizado no habitat natural do Saint-Étienne.

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