A última valsa de Southgate pela seleção inglesa

Quadrifinalista da Copa do Mundo de 2024, semifinalista do Mundial de 2022, e finalista da Euro 2020. O desempenho da Inglaterra nos três grandes torneios internacionais disputados sob a liderança de Gareth Southgate retrata que falta apenas um título para coroar a boa trajetória do treinador de 53 anos de idade à frente do English Team.

De qualquer maneira, a realidade é que na Euro 2024 Gareth Southgate terá, muito provavelmente, a sua última chance de tirar a seleção inglesa da longa fila de 58 anos sem erguer um caneco, tendo em vista que a última – e única – volta olímpica dada pelos Three Lions deu-se na conquista da Copa do Mundo de 1966, disputada no próprio país.

Embora a saída de Gareth Southgate não tenha sido confirmada ao término de seu contrato em 31 de dezembro deste ano, é fácil notar que o ciclo do comandante da Inglaterra está próximo do fim. A começar, porque a Federação Inglesa de Futebol (FA) não o contactou para discutir uma possível renovação contratual, da mesma forma que Southgate também não tem os olhos voltados para além da Euro 2024.

Aliás, é importante destacar que Gareth Southgate já vem falando abertamente sobre a sua continuidade no cargo. Quando questionado por um repórter do jornal alemão Bild, ele foi direto ao dizer: “Se não vencermos, possivelmente não estarei mais aqui. Então talvez essa seja a minha última chance”.

É bem verdade que o tema “saída de Gareth Southgate” foi bastante debatido antes do início da ultima Copa do Mundo, mas hoje ele ganhou maiores proporções sobretudo porque o ex-treinador do Middlesbrough está prestes a completar oito anos e cem jogos na função, lembrando que a derrota para a Islândia foi a sua partida de número 95.

Contudo, ainda que Gareth Southgate não conquiste nenhum título, é inegável que ele contrariou totalmente as expectativas ao realizar um bom trabalho pela Inglaterra, em especial por fazer renascer novamente a paixão dos torcedores ingleses junto a seleção. Além disso, outro detalhe não menos relevante foi a drástica mudança do estilo de jogo antes baseado tanto na imposição física quanto na velocidade pelos lados de campo, para outro fundamentado na dominância através do controle da posse de bola.

Consequentemente, a transformadora passagem de Gareth Southgate pela seleção inglesa conduziu o English Team não apenas a uma semifinal de Copa do Mundo após quase três décadas, como também o fez passar um ano inteiro invicto pela primeira vez desde 2011, a julgar pelas oito vitórias e dois empates nos dez jogos disputados pelos pupilos de Southgate em 2023.

Não obstante, a Inglaterra literalmente passeou nas eliminatórias da Euro 2024 ao se classificar como líder absoluta do grupo C das Eliminatórias contabilizando 20 pontos – seis à frente da vice-colocada Itália – nas oito rodadas da competição. Foram 6 vitórias, 2 empates, 22 gols marcados, 2 tentos sofridos, e 83,3% de aproveitamento através desta incrível campanha.

No entanto, a química envolvendo Gareth Southgate e a seleção inglesa vem perdendo cada vez mais força, o que é absolutamente comum em qualquer relação de longo prazo. Entretanto, alguns aspectos vem acelerando esse desgaste, como foi o caso das não escolhas de Jack Grealish e James Maddison na lista final dos convocados que defenderão a Inglaterra na Eurocopa, afinal, tratam-se de dois atletas bem quistos pelo elenco e pela torcida. E isso sem contar a enorme qualidade técnica de ambos!

Ademais, Gareth Southgate começou a perder créditos em razão da queda de desempenho da Inglaterra em 2024. Para se ter uma ideia, os ingleses só venceram a modesta Bósnia e Herzegovina (3 a 0) dentre os quatro amistosos do ano, assinalando um empate em 2 a 2 com a Bélgica, e derrotas pelo placar mínimo frente Brasil e Islândia.

A justificativa dada por Gareth Southgate depois do mais recente destes reveses, contra a Islândia em pleno estádio de Wembley, foi a de que os atletas estavam com medo de sofrer lesões às vésperas da Eurocopa, atuando em menor intensidade, embora nada esclareça como uma seleção do quilate da Inglaterra tenha arrematado somente uma única vez na direção certa do gol ante um adversário de nível tão inferior, algo que não acontecia desde o empate em 0 a 0 com a Escócia na Euro 2000, isto é, há exatos 24 anos.

À vista disso, o favoritismo da Inglaterra sucumbiu na Eurocopa. Ao mesmo tempo, Gareth Southgate vê isso de forma positiva pelo fato dos Three Lions historicamente decepcionarem quando chegam em alta para disputar um torneio. Por sinal, na própria Alemanha, em 2006, o selecionado na época dirigido por Sven-Goran Eriksson encontrou enormes dificuldades até cair nos pênaltis diante de Portugal nas quartas-de-final da Copa do Mundo.

Por outro lado, é a lateral-esquerda o fator que mais preocupa Gareth Southgate no momento, uma vez que Ben Chilwell e Reece James não estarão na Alemanha porque não se recuperaram de suas respectivas lesões. Logo, Luke Shaw será a única opção para a posição, mas como o jogador do Manchester United não convence Southgate, é bastante provável que o lateral-direito Kieran Trippier atue improvisado, apesar da perda do poderio ofensivo da seleção.

Ainda assim, talento não falta ao esquadão composto por diversos craques como Jude Bellingham, do Real Madrid, Bukayo Saka, do Arsenal, Phil Foden, do Manchester City, Cole Palmer, do Chelsea, e Harry Kane, do Bayern de Munique. Isto posto, cabe a Gareth Southgate neutralizar todas as críticas relacionadas as suas escolhas, bem como a incerteza referente ao seu futuro, e se juntar a Sir Alf Ramsey como os únicos treinadores campeões pela Inglaterra.

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