Desfalques reduzem as chances de título da Holanda na Eurocopa

Se considerarmos o fato de que a Holanda goleou os selecionados de Canadá e Islândia por 4 a 0 nos últimos amistosos realizados às vésperas da Euro 2024, ao mesmo tempo que a França apenas empatou sem gols com os canadenses, e a Inglaterra perdeu dos islandeses pelo placar mínimo em pleno estádio de Wembley, poderíamos concluir que a Laranja desembarca na Alemanha como uma das favoritas na corrida pelo título continental.

Em contrapartida, a realidade é que a Holanda não é favorita nem mesmo dentro de sua própria chave composta por França, Áustria e Polônia. Embora seja difícil prever o rumo dos holandeses na Eurocopa pelo fato da indefinição dos cruzamentos de oitavas-de-final – em razão da classificação dos quatro melhores terceiros colocados de cada grupo -, é inegável que vê-los nas semifinais já seria surpreendente, sobretudo levando em conta as ausências dos lesionados Frenkie de Jong e Teun Koopmeiners.

Pois é, os desfalques das principais peças do meio-campo afetará bastante o jogo da Holanda, cuja principal característica é o contragolpe através de rápidas transições. Logo, não ter Frenkie de Jong, que costuma acelerar a equipe por intermédio de passes e lançamentos, além de Teun Koopmeiners, que faz o box-to-box tão bem ajudando tanto na marcação quanto no apoio ao ataque, obrigará Ronald Koeman a realizar alguns ajustes na Laranja.

Ao contrário do que muitos imaginam em função do memorável Carrossel Holandês, que jogava sob a regência de Johan Cruyff, dentro de campo, e sob a de Rinus Michels, fora das quatro linhas, a Holanda não atua de maneira ofensiva há anos, o que significa que o “Futebol Total” ficou literalmente no passado, dando lugar a um estilo de jogo mais pragmático e conservador.

Aliás, foi jogando de forma mais reativa que a Holanda chegou na decisão da Copa do Mundo de 2010, onde caiu diante da Espanha por 1 a 0, e foi semifinalista do Mundial seguinte, ficando com o terceiro lugar em virtude de um triunfo por 3 a 0 sobre o anfitrião, Brasil. Portanto, fica evidente que a Laranja já é adepta deste sistema que visa a veloz articulação de contra-ataques há praticamente duas décadas.

Inclusive, nem mesmo as não participações na Euro 2016 e na Copa do Mundo de 2018 foram capazes de fazer a Holanda reinventar a filosofia de jogo. Consequentemente, Ronald Koeman herdou a mesma seleção quase quatro anos após trocá-la pelo Barcelona, tendo em vista que o substituto Louis van Gaal manteve os mesmos padrões táticos.

Não à toa, a Holanda só encontrou facilidades para golear Canadá e Islândia depois da abertura do placar nos dois jogos. Contra os canadenses, por exemplo, os quatro tentos da Laranja foram marcados na segunda etapa. Em ambos, com os oponentes obrigados a atacar, espaços foram abertos e o jogo direto e vertical dos holandeses fluiu naturalmente.

Seja como for, a Holanda, quadrifinalista na Copa do Catar, teve uma caminhada tranquila nas Eliminatórias ao se classificar como vice-colocada do grupo B registrando 6 vitórias e 2 derrotas em oito compromissos. Por sinal, reveses sofridos nos confrontos ante a França, adversária que os comandados de Ronald Koeman voltarão a enfrentar na Euro 2024. De resto, eles venceram as demais partidas contra Grécia, Irlanda e Gibraltar.

Deste modo, Ronald Koeman terá a oportunidade de comandar a Holanda em seu primeiro grande torneio mundial, já que ele transferiu-se ao Barcelona depois do vice-título da Liga das Nações da UEFA de 2019, seguida de uma despreocupada qualificação à Euro 2020, lembrando que o treinador de 61 anos de idade acumula 20 jogos em sua primeira passagem pela seleção holandesa (11V-5E -4D), e outros 14 neste mais recente ciclo (9V-5D).

Em todo o caso, de acordo com o excessivo número de desfalques a tendência é que Ronald Koeman arme a Holanda no 5-3-2, com Bart Verbruggen, no gol, Denzel Dumfries, Virgil van Dijk, Matthijs de Ligt, Nathan Aké e Ian Maatsen formando uma linha de cinco homens na defesa, Joey Veerman, Tijjani Reijnders e Jerdy Schouten compondo uma trinca no meio-campo, enquanto Xavi Simons e Memphis Depay fazem a dupla de ataque.

Diante deste cenário, fica evidente que a Holanda é um time mais físico do que técnico, o que explica porque a Laranja não está entre as favoritas ao título da Eurocopa, juntamente com França, Portugal, Espanha, Inglaterra e, é claro, a Alemanha, por atuar em seus domínios, ainda que isso não valha absolutamente nada em um torneio que já teve União Soviética, Tchecoslováquia, Dinamarca e Grécia como campeãs.

Por outro lado, os supersticiosos gostarão de saber que na edição de 1988 da Eurocopa, marcada por ser a única conquistada pela Holanda, Ronald Koeman integrava a seleção, porém como zagueiro. Além disso, na ocasião o PSV Eindhoven havia acabado de se sagrar campeão da Eredivisie. Ou seja, fatos que coincidem com o atual momento.

De qualquer maneira, as chances de Ronald Koeman repetir o feito do alemão Berti Vogts, campeão da Eurocopa como jogador e treinador, são mínimas se comparadas as do técnico da França, Didier Deschamps.  

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