Bielsa tem cinco jogos para transformar o Uruguai no maior campeão sul-americano

Três gols, 20 finalizações, 29 toques na grande área adversária, além de 55% de posse de bola. Estes números não correspondem as estreias de Argentina ou Brasil na Copa América, mas sim do Uruguai, que vive uma nova e agradável realidade sob a liderança de Marcelo “El Loco” Bielsa.

Em maio do ano passado, Marcelo Bielsa desembarcou em solo uruguaio para assumir o comando técnico da seleção que acabava de passar uma década e meia sendo regida pelo maestro Óscar Tabárez, e outros míseros 12 jogos pelo sucessor Diego Alonso, cuja passagem pelo selecionado bicampeão mundial ficou marcada pela péssima campanha na Copa do Mundo de 2022, em que o Uruguai caiu na fase de grupos, ainda que situado numa chave pra lá de acessível ao lado de Portugal, Coréia do Sul e Gana.

Em todo o caso, a maior dificuldade de Marcelo Bielsa em sua nova aventura não era somente liderar o processo de transição da Celeste Olímpica em meio as saídas de Fernando Muslera, Diego Godín e Edinson Cavani, mas também exterminar as compreensíveis dúvidas e incertezas por parte dos uruguaios, afinal, tratava-se da união de um treinador idealista e adepto a um estilo de jogo ofensivo, junto a uma seleção conservadora e apoiada ao pragmatismo.

No entanto, bastaram sete partidas para que toda a desconfiança em relação ao trabalho de Marcelo Bielsa acabasse, e tudo porque neste período o Uruguai bateu os dois pesos pesados do continente, Brasil e Argentina, ambos derrotados por 2 a 0 pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026, lembrando que os uruguaios não venciam os brasileiros há 22 anos, e não ganhavam em território argentino desde 1989.

Contudo, mais do que vencer, o Uruguai vem convencendo por intermédio de um futebol dominante, agressivo, rápido e intenso. Não à toa, os comandados de Marcelo Bielsa já balançaram as redes o montante de 27 vezes em 12 jogos disputados, registrando uma média superior a dois gols por partida (2,25).

Deste modo, fica claro e evidente que, ao contrário do que muitos imaginavam, o estilo de Marcelo Bielsa casou de maneira perfeita com o do elenco uruguaio, composto em sua maioria por jovens esforçados e tecnicamente talentosos, vide os exemplos de Manuel Ugarte, Federico Valverde, Facundo Pellistri, Maximiliano Araújo e Darwin Núñez.

Vale ressaltar ainda, que a mudança de mentalidade estipulada pelo experiente treinador de 68 anos de idade, que consegue tirar o máximo de cada um dos jogadores, foi preponderante para que a seleção uruguaia alcançasse estes números inimagináveis nos tempos de Óscar Tabárez. Por esta razão, o Uruguai, vice-colocado na tabela das Eliminatórias, chegou para a disputa da Copa América sendo apontado como um dos principais candidatos ao título continental.

E o favoritismo do Uruguai se justificou através da vitória por 3 a 1 sobre o Panamá, na rodada inicial da Copa América. Apesar da fragilidade do oponente que ocupa somente a 43ª posição no ranking da FIFA, não seria nenhuma surpresa se os uruguaios vencessem por 4 ou 5 gols de diferença, a julgar pelas doze oportunidades desperdiçadas nos primeiros 35 minutos de jogo.

Aliás, as chances perdidas pelo Uruguai foram, certamente, o ponto negativo da seleção sul-americana em sua estreia na Copa América. Quando a Celeste abriu o placar logo aos 10 minutos de partida, a impressão era a de que uma goleada seria aplicada em Miami. Entretanto, os tentos perdidos por Ronald Araújo, Maxi Araújo, bem como pelo atacante Darwin Núñez, limitaram a vitória charrua em três gols.

Consequentemente, o baixo aproveitamento do Uruguai na conclusão das jogadas trouxeram à tona antigas questões que assolaram Marcelo Bielsa depois de sua saída do Leeds em fevereiro de 2022. Na ocasião, o treinador argentino foi bastante criticado por levar os jogadores ao limite de suas condições físicas devido aos seus métodos de treinamento e ao enérgico ritmo de jogo, já que muitos compreendiam que o desgaste resultou na queda de rendimento do time inglês.

Seja como for, a verdade é que Marcelo Bielsa segue revolucionando a seleção uruguaia, assim como fez no Leeds. À vista disso, o seu contrato foi estendido até o término da próxima Copa do Mundo de 2026, ao passo que ele terá a oportunidade de dirigir a Celeste nas Olimpíadas, cem anos depois da primeira medalha de ouro consecutivo do Uruguai, conquistado na mesma sede deste ano, Paris.

Em contrapartida, no momento o foco tanto de Marcelo Bielsa, como do Uruguai, é a Copa América, competição que os uruguaios não vencem desde 2011. A propósito, nessa edição do torneio eles têm a grande oportunidade de desbancar os argentinos como os maiores vencedores do torneio. Por outro lado, El Loco, vice-campeão em 2004 à frente da Argentina, batalha pelo primeiro título da carreira.

Depois da vitória sobre o Panamá, o renovado Uruguai, dono do quarto plantel mais jovem da Copa América ostentando uma média de idade de 25,9 anos, terá a Bolívia como próxima oponente (dia 27), e encerrará a sua participação na primeira fase contra os Estados Unidos, sem sombra de dúvidas, o adversário mais forte do grupo (dia 1º).

Portanto, mais cinco jogos, ou 450 minutos, separam a Celeste Olímpica do 16º caneco da Copa América, algo que só é possível projetar porque um louco, que responde pelo nome de Marcelo Bielsa, está a conduzindo fora das quatro linhas.

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