Nem França, tampouco Holanda, a seleção que avançou às oitavas-de-final da Euro 2024 como líder do grupo D responde pelo nome de Áustria, que vive uma nova realidade sob o comando de Ralf Rangnick.
A propósito, quando Ralf Rangnick foi nomeado como novo treinador da Áustria em abril de 2022, nem o mais otimista dos torcedores austríacos imaginava que o destino da seleção que não disputa uma Copa do Mundo há 26 anos mudaria por completo, sobretudo em função da curta e deprimente passagem de seis meses do sucessor de Franco Foda pelo conturbado Manchester United.
Por outro lado, levando em consideração o histórico de Ralf Rangnick, a aposta da OFB (Federação Austríaca de Futebol) se mostrava mais do que certa, especialmente porque, em 2012, o treinador de 65 anos de idade assumiu a gestão esportiva do RB Salzburg e do RB Leipzig, trabalhando no desenvolvimento das categorias de base dos dois clubes e, consequentemente, acompanhando a evolução de diversos jogadores que defendem as cores da Áustria na atualidade.
Considerado a maior contratação como treinador da Áustria em todos os tempos, Ralf Rangnick se mudou ao país a fim de conhecer a sua cultura e um pouco mais dos seus costumes, o que facilitou na rápida construção de uma boa relação junto aos atletas, além da implementação de um sistema de jogo baseado na forte pressão, alta energia e espírito ofensivo no Das Team.
Pois é, e passados 756 dias, após uma ótima campanha nas Eliminatórias da Euro 2024 – composta por uma mísera derrota nos oito jogos disputados -, os austríacos festejam a classificação às oitavas-de-final do torneio continental como líderes o grupo D. Contudo, o fato que mais surpreende é o futebol ofensivo, enérgico e pró-ativo praticado por essa remodelada Áustria, que disputa a competição sem Alexander Schlager e David Alaba, isto é, o goleiro e o capitão do time, duas importantes peças do setor defensivo.
Em contrapartida, o sistema da Red Bull, elaborado por Ralf Rangnick, vem provando a sua funcionalidade independente de quem estiver em campo. Não à toa, no jogo anterior contra a Holanda o técnico alemão poupou os desgastados e pendurados Christoph Baumgartner e Konrad Laimer, e ainda assim a Áustria venceu a partida apresentando a mesma fluidez, movimentação e qualidade, não sentindo o impacto de atuar sem quatro relevantes jogadores, ou seja, uma condição que afetaria qualquer outra seleção.
Vale ressaltar que os pupilos de Ralf Rangnick estrearam na Eurocopa perdendo da favorita ao título, França, pelo placar mínimo em Dusseldorf. Em seguida, eles derrotaram poloneses e holandeses, por 3 a 1 e 3 a 2, respectivamente, encerrando a primeira fase da Eurocopa registrando 2 vitórias, 1 derrota, 6 gols marcados e quatro sofridos.
Em todo o caso, é inegável que o excelente trabalho realizado por Ralf Rangnick no decorrer dos últimos dois anos poderia se tornar um fiasco se a Áustria não vencesse a Polônia depois do revés ante os franceses. Quer dizer, um cenário que até se desenhou após os poloneses igualarem o marcador, e sustentarem o empate até os 21 minutos da etapa final, instante em que Christoph Baumgartner colocou os austríacos novamente em vantagem no placar, finalizado com o pênalti convertido por Marko Arnautovic.
Já no embate frente a Holanda, os austríacos permitiram o empate dos holandeses em duas oportunidades, mas da mesma forma tiveram forças para buscar a vitória, o que demonstra tanto a capacidade de reação quanto o poderio ofensivo da Áustria, dona do segundo melhor ataque da Euro 2024 (6), apenas atrás da Alemanha (8), registrando uma média de dois gols por jogo até aqui.
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— UEFA EURO 2024 (@EURO2024) June 25, 2024
Deste modo, Ralf Rangnick está sendo capaz de marcar uma nova era na Áustria, seleção que viveu somente três grandes momentos no futebol. O primeiro deles, na década de 1930, período que o “Wunderteam” ostentou uma invencibilidade de 14 jogos, mas não ganhou uma Copa do Mundo, e posteriormente quando os austríacos foram semifinalistas do Mundial de 1954, e derrotaram a Alemanha Ocidental em 1978, na partida que ficou eternizada como “o milagre de Córdoba”, por ter sido a primeira vitória sobre os alemães depois de 47 anos.
Coincidentemente, é justo um alemão que resgatou o prestígio da seleção austríaca junto aos torcedores, e agora tem a incumbência de conduzí-la às quartas-de-final de uma Eurocopa pela primeira vez na história, lembrando que o Das Team tem como melhor campanha a queda diante da Itália nas oitavas-de-final da edição passada do torneio e na próxima fase enfrentará a Turquia, vice-colocada do grupo F.
Por sinal, é importante destacar que a Áustria está situada no lado mais fácil do estágio mata-mata da Eurocopa, tendo somente a Inglaterra, dentre as principais candidatas ao título, pelo caminho rumo à final em Berlim, já que França, Espanha, Alemanha e Portugal brigarão na parte oposta do chaveamento. Inclusive, se os austríacos passarem pelos turcos, eles poderão reencontrar os holandeses nas quartas-de-final, e ingleses, eslovacos, italianos ou suíços, nas semifinais da competição.
Portanto, com uma equipe forte, preparada e organizada taticamente, afinada em meio a euforia e a crença por parte da torcida, não seria nenhuma surpresa se o fenômeno ocorrido com a Grécia, em 2004, se repetir com a Áustria, vinte anos depois, no país de Ralf Rangnick. A ver!