Novos rumos se apresentam aos georgianos tanto dentro quanto fora das quatro linhas

Com eleições marcadas para o próximo mês de outubro, a situação política vivida na Geórgia é pra lá de tensa no momento, sobretudo por conta da criação de uma nova lei controversa a favor do parlamento russo, que declara determinados grupos que não manifestam apoio ao governo como inimigos do estado. Por isso, a polícia tem agido cada vez com mais rigor nos protestos realizados por ativistas.

No entanto, o clima de apreensão vivido pelo pequeno país de quase 4 milhões de habitantes deu uma trégua nos últimos dias. O motivo para isso? A inédita participação da seleção da Geórgia na Eurocopa, aliás, a impactante campanha dos georgianos que terminou com a queda diante da Espanha, em Colônia.

Contudo, essa eterna história começou a ser escrita depois da Geórgia encerrar a terceira divisão da Liga das Nações da UEFA na primeira posição do seu grupo, o que lhe garantiu a possibilidade de disputar a repescagem das Eliminatórias da Euro 2024, onde os comandados de Willy Sagnol superaram as seleções de Luxemburgo e Grécia. Por sinal, a vitória sobre os gregos veio somente nas penalidades, após um dramático empate sem gols tanto no tempo regulamentar quanto na prorrogação.

Logo, somente o fato de disputar a sua primeira Eurocopa como nação independente já estava de bom tamanho à seleção que ocupa somente a 74ª posição no ranking da FIFA, e que tinha como grandes personagens o treinador Willy Sagnol, campeão da Champions League em 2001 defendendo as cores do Bayern de Munique, e finalista da Copa do Mundo de 2006 pela França, além, é claro, do craque Khvicha Kvaratskhelia.

Mas contrariando totalmente as expectativas, a caçula da Euro 2024 foi construindo seu legado jogo a jogo dentro da competição. Primeiramente, ao marcar o seu primeiro gol no torneio continental com Georges Mikautadze, especialista em pênaltis e autor de três dos cinco gols feitos pela Geórgia nos gramados alemães, na derrota por 3 a 1 frente a Turquia pela rodada inicial.

Posteriormente, veio o primeiro ponto conquistado em Eurocopas por intermédio do empate em 1 a 1 contra a República Tcheca, à medida que a primeira vitória ocorreu no jogo seguinte com o triunfo por 2 a 0 sobre ninguém menos que Portugal, isto é, um inesperado resultado que rendeu aos georgianos uma vaga nas oitavas-de-final como um dos melhores terceiros colocados do campeonato.

Apesar de Portugal ter jogado sem as suas principais peças em Gelsenkirchen por já estar classificado ao estágio mata-mata, a Geórgia seguiu de forma exímia o seu plano de jogo baseado em atuar em bloco baixo no 5-3-2, e explorar os contra-ataques com o veloz e habilidoso Khvicha Kvaratskhelia. Não à toa, a seleção georgiana foi a segunda da Euro 2024 que realizou mais ataques diretos na fase de grupos (12), ficando somente atrás da Alemanha (18).

O Scudetto foi um momento incrível, mas hoje estou mais feliz. Quando você joga pelo seu país, você fica muito orgulhoso. Foi muito mais difícil se classificar na Eurocopa do que vencer com o Napoli. É impossível descrever minhas emoções.

Khvicha Kvaratskhelia, atacante do Napoli e da Geórgia

Em todo o caso, ainda que disputar as oitavas-de-final já estivesse de bom tamanho aos georgianos, o confronto ante os espanhóis era rodeado de preocupação em virtude das recentes derrotas por 7 a 1, e 3 a 1, ambos válidos pelas Eliminatórias da Euro 2024. Ou seja, era um dúrissimo reencontro marcado por um revés de 10 a 2 no agregado.

Ainda assim, a Geórgia conseguiu sair na frente do placar, porém o ritmo intenso, somado ao amplo domínio por parte da Espanha se refletiu através do empate antes mesmo do intervalo, e dos três tentos assinalados na etapa final. Deste modo, os georgianos se despediram da Eurocopa colecionando 1 vitória, 1 empate, 2 derrotas, cinco gols marcados e oito sofridos nas quatro partidas disputadas em solo alemão.

Obviamente, a histórica campanha na Eurocopa pode ser considerado um divisor de águas na seleção da Geórgia, tanto é, que a busca por uma vaga na Copa do Mundo de 2026 passou a ser uma realidade. À vista disso, o principal objetivo da Federação Georgiana de Futebol (GFF) é estender o contrato do treinador Willy Sagnol – que se encerra em dezembro – até o final do próximo Mundial.

A propósito, é importante destacar que as chances da melhor geração da história do futebol georgiano disputar a Copa de 2026 aumentaram depois que a FIFA ampliou para 48 o número de participantes na competição, lembrando que 16 destas vagas serão preenchidas por selecionados europeus.

Seja como for, a idolatria dos georgianos no futebol, que se resumia aos ex-jogadores Georgi Kinkladze e Kakha Kaladze, atual prefeito de Tbilisi, hoje é compartilhada com os destaques da Géorgia na Euro 2024, Giorgi Mamardashvili, Khvicha Kvaratskhelia e Georges Mikautadze, todos de apenas 23 anos de idade, o que representa um futuro promissor a curto, médio e longo prazo.

Em contrapartida, o maior valor simbólico de se destacar no cenário esportivo através da Eurocopa se entrelaçou com as ambições da Geórgia de se juntar à União Europeia, e se afastar da Rússia, afinal, a seleção georgiana demonstrou que grandes trunfos podem ser alcançados por meio de batalhas, externando ao povo que vale a pena lutar por valores democráticos, liberdades políticas e identidade geopolítica.

Portanto, inegavelmente, a caminhada da Geórgia na Euro 2024 fortaleceu a nação como um todo, vide a atual postagem do principal astro da seleção, Khvicha Kvaratskhelia, nas redes sociais: “O caminho da Geórgia é para a Europa. O caminho europeu nos une!! Avante para a Europa!! Paz para a Geórgia.”

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