O fantasma das quartas de final volta a aterrorizar o Brasil

Após ser eliminada por Bélgica e Croácia nas quartas de final das últimas duas Copas do Mundo, agora foi a vez da Seleção Brasileira ser eliminada neste mesmo estágio da Copa América, ao cair frente o Uruguai, em Las Vegas.

Pois é, já se tornou comum vermos o Brasil sucumbir em quartas de final, especialmente em Mundiais, tendo em vista que as quedas diante de França, em 2006, e Holanda, em 2010, também ocorreram a três jogos da decisão, o que significa que o único hiato envolvendo as cinco Copas do Mundo anteriores deu-se em 2014, quando os brasileiros foram goleados por 7 a 1 nas semifinais.

A propósito, o maior vexame da história das Copas, a julgar que jamais um país sede detentor do maior número de títulos mundiais será goleado por 7 a 1 em uma semifinal, completa dez anos exatamente na data de hoje, menos de 72 horas após a eliminação do Brasil na Copa América. Quer dizer, um dado que retrata o mal momento do futebol brasileiro.

Em contrapartida, a patética campanha do Brasil na Copa América 2024, composta por uma vitória sobre o Paraguai (4 a 1), e empates contra Costa Rica (0 a 0), Colômbia (1 a 1) e Uruguai (0 a 0), é consequência tanto da sucessão de equívocos cometidos pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol), quanto da falta de capacidade dos treinadores brasileiros, como é o caso de Dorival Júnior.

A começar porque o ex-treinador, Tite, já havia comunicado que deixaria o cargo antes do início do Mundial do Catar, portanto, o presidente da CBF, Edinaldo Rodrigues, tinha tempo de sobra para planejar o ciclo seguinte da Seleção Brasileira até 2026. Ainda assim, ele preferiu esperar Carlo Ancelotti sem a garantia de que o técnico italiano assumiria o comando do Brasil, o que, é claro, acabou não acontecendo após um ano de espera.

Logo, os quatro anos que o Brasil teria para começar a preparação visando a Copa de 2026 se transformaram em três, e diminuíram ainda mais em virtude da pífia passagem de Fernando Diniz, na sequência substituído por Dorival Júnior. Deste modo, as escolhas da CBF partiram de Carlo Ancelotti, passando por Fernando Diniz, e terminando em Dorival Júnior, isto é, treinadores com características e adeptos a um estilo de jogo completamente diferentes.

Embora campeão por Flamengo e São Paulo, Dorival Júnior está longe de ser o nome certo para dirigir uma seleção do tamanho do Brasil. Não só ele, como nenhum outro conterrâneo tem condições de liderá-la na atualidade, pelo simples fato da irrelevante formação de treinadores no futebol nacional. Como resultado, oito dos 20 clubes que disputam o Campeonato Brasileiro são dirigidos por estrangeiros, o que corresponde a um total de 40%.

Para se ter uma ideia, Tite, que era unanimidade após o excelente trabalho realizado à frente do Corinthians, segue sendo o melhor treinador brasileiro em atividade, e o máximo que o suprassumo em Eliminatórias conseguiu ao longo de seis anos foi conduzir o Brasil às quartas de final das Copas da Rússia e do Catar, além de vencer uma Copa América.

Assim, tentar Carlo Ancelotti foi uma decisão correta, o erro foi esperar tanto tempo já sabendo da resposta. O ideal, seria a CBF ir em busca de outro estrangeiro no momento em que que o técnico italiano sinalizou que a saída do Real Madrid não estava nos seus planos, lembrando que Joachim Low, tetracampeão mundial comandando a Alemanha, está disponível no mercado desde que deixou a Mannschaft em março de 2021.

Aliás, basta pegarmos como exemplo o vizinho Uruguai, que em razão da péssima campanha na Copa do Mundo passada, decidiu inovar ao contratar Marcelo Bielsa. E a evolução da Celeste Olímpica é notória sob a batuta do treinador argentino, cuja filosofia é absolutamente oposta em comparação a dos antecessores Óscar Tabárez e Diego Alonso.

Por fim, é óbvio que os jogadores também têm responsabilidade na despreziva trajetória da Seleção Brasileira na Copa América, mas são os menos culpados. Embora as críticas ao desempenho abaixo das expectativas sejam pertinentes, é inegável que uma equipe formada por importantes peças de Real Madrid, Liverpool, Arsenal, PSG, Barcelona, Juventus, além de outros clubes da Premier League, é qualificada tecnicamente.

Entretanto, jogar em times desorganizados e sem um treinador confiável à beira do campo, é difícil até mesmo para grandes jogadores. Inclusive, a prova de que o elenco brasileiro menospreza Dorival Júnior foi o círculo feito antes das penalidades, do qual ele foi deixado de fora. E para piorar a situação, o ex-técnico do São Paulo ainda ergueu o dedo indicador pedindo pra falar e foi ignorado, enquanto a poucos metros dali Marcelo Bielsa coordenava os uruguaios.

Em todo o caso, ser desclassificado por esse Uruguai, de Marcelo Bielsa, não é nenhum vexame, o problema é perder sem apresentar absolutamente nada. Mas pior do que isso são as perspectivas, pois o panorama não deve mudar. Então, que venham as próximas quartas de final, na Copa do Mundo de 2026.

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