Há cerca de duas semanas atrás, o Chivas Guadalajara, tradicional equipe mexicana, ergueu a taça da Liga MX (campeonato mexicano). O título veio após longos dez anos sem conquistar a competição, e por isso é considerado pela torcida como o fim e o começo de uma nova era no conjunto rojiblanco.
Fundado no dia 08 de maio de 1906 (111 anos), o Chivas Guadalajara é uma das grandes potencias do futebol mexicano, tanto é, que o clube é o maior campeão do México ao lado do América com 12 títulos nacionais na bagagem. Além disso, o Chivas é conhecido também por conta de sua enorme torcida, uma das maiores do planeta com 40 milhões de adeptos. Outra curiosidade, é que a equipe jalisciense (Jalisco é um estado mexicano) tem como política só aceitar atletas mexicanos em seu elenco, ou seja, é proibido a contratação de jogadores estrangeiros, apenas o treinador pode ter outra nacionalidade. Acontece, que desde o vice-campeonato da Copa Libertadores em 2010, quando perderam para o Internacional na decisão do torneio sul-americano, os rojiblancos viveram anos extremamente turbulentos, por isso esse período pode ser considerado como um dos piores da longa trajetória do time até aqui.

Acredito que o maior responsável do declínio do Chivas Guadalajara depois do vice-campeonato da Copa Libertadores 2010, foi a perda eminente de seus grandes jogadores, afinal, o sucesso do time mexicano foi visto em todo cenário internacional, e a saída de suas principais peças para o mercado europeu, enfraqueceu bastante o elenco da equipe. De lá para cá, diversos treinadores passaram pelo Chivas com o intuito de reajustar as arestas, como por exemplo Fernando Quirarte, Ignacio Ambríz, Alberto Coyote, John van’t Ship, Carlos Bustos e por último Ramón Morales, porém nenhum deles foi capaz de salvar o conjunto rojiblanco. Isto posto, percebemos que o presidente Jorge Vergara, bilionário mexicano dono da empresa de saúde Omnilife e também do clube de Jalisco, se esforçou demasiadamente para que o Rebanho Sagrado (apelido do Chivas) retomasse o caminho das vitórias. E não é que depois de tanto tentar, enfim veio o acerto, pois o técnico argentino Matías Almeyda, atual treinador do time, foi considerado o responsável pelo renascimento do Chivas Guadalajara nesta temporada. Mas se engana quem pensa que a vida do jovem comandante, de 43 anos, foi um mar de rosas, muito pelo contrário, o principal objetivo de Matías Almeyda logo em sua chegada, no ano de 2015, era evitar o rebaixamento da equipe.

A carreira de Matías Almeyda como jogador foi mega vitoriosa, só para resumir ele fez parte do histórico River Plate do início da década de 90, que contava com astros como Enzo Francescoli, Juan Pablo Sorín, Hernán Crespo, Julio Cruz, Ariel Ortega, Marcelo Salas Leonardo Astrada e Marcelo Gallardo, todos comandados pelo então treinador Daniel Passarela. Já nos gramados europeus, Matías Almeyda vestiu a camisa do Sevilla, da Lazio, do Parma, da Internazionale e do Brescia, até regressar novamente ao seu país de origem para defender as cores do Quilmes e encerrar as atividades em seu clube de coração, o River Plate. Curiosamente, o time de Nuñez lhe deu a oportunidade de iniciar sua nova trajetória fora das quatro linhas, justamente no pior momento da história da equipe, época em que o colorado de Buenos Aires disputava a Segunda Divisão do Campeonato Argentino. Almeyda aceitou de imediato o desafio que lhe foi concedido, e através de muita luta, levou o River novamente a divisão de elite do futebol da Argentina. Depois disso, El Pelado (apelido de Matías Almeyda) assinou com o Banfield, que também disputava a Segunda Divisão, e assim como fez em seu primeiro trabalho, conseguiu agregar mais uma promoção ao seu currículo. Em 2015, Matías Almeyda estreou no comando do Chivas Guadalajara, e hoje é possível afirmar com todas as letras, de que ele foi o nome certo para o time mexicano, pelo qual já venceu a Copa do México 2015, a Supercopa do México 2015/16, a Copa do México 2017 e agora a Liga MX 2017.

Após terminar sua participação na primeira fase da Liga MX 2017 na terceira posição da tabela com 27 pontos, colecionando o total de 7 vitórias, 6 empates e 4 derrotas em 17 partidas disputadas pela competição, o Chivas Guadalajara encarou o Atlas (6º colocado) nas quartas de finais do campeonato, e conseguiu garantir sua vaga nas semifinais depois de perder o jogo de ida por 1 a 0, e vencer o jogo de volta também por 1 a 0, desta maneira, passou por ter a vantagem de empatar, afinal, fez uma campanha melhor em relação ao oponente na primeira fase. Já nas semifinais, o Chivas novamente avançou ao empatar os dois confrontos com o Toluca (4º colocado) por 1 a 1. Foi assim, aos trancos e barrancos que os comandados de Matías Almeyda chegaram a grande decisão da Liga MX para enfrentar o poderosíssimo Tigres, sétimo colocado na fase inicial. Jogando o primeiro duelo fora de seus domínios, no estádio Universitário (estádio do Tigres), os rojiblancos arrancaram um ótimo empate por 2 a 2, digo ótimo devido as dificuldades encontradas pelos adversários que desafiam o Tigres em Nuevo León. No segundo e decisivo embate, os anfitriões precisavam somente da igualdade para consagrar-se campeões, mas graças aos gols de Alan Pulido e José Vázquez, os torcedores do Chivas Guadalajara soltaram o grito de campeão que estava entalado há dez anos.

Na minha opinião, o grande trunfo de Matías Almeyda na montagem da equipe, foi a contratação dos jogadores Alan Pulido, Orbelin Pineda e Rodolfo Pizarro, três nomes fundamentais do time na conquista do título. O grande investimento feito pela diretoria na contratação destes atletas no final das contas valeu muito a pena. Os primeiros que desembarcaram em Guadalajara foram o jovem volante Oberlin Pineda, de 21 anos, vindo do Querétaro pelo montante de 4,5 milhões de dólares, e o atacante Alan Pulido, contratado junto ao Olympiacos (Grécia) pela exorbitante quantia de 17 milhões de dólares, ambas negociações haviam sido concretizadas na janela de junho (2016). Já no início deste ano, ou seja, na janela de janeiro, chegou o meia-esquerda Rodolfo Pizarro, que veio do Pachuca pela bagatela de 10 milhões de dólares, portanto, foi desembolsado um total de 31,50 milhões de dólares (101,75 milhões de reais) para trazer estes três jogadores, isso sem contar as cifras referentes aos atletas José Vázquez, Alejandro Zendejas, Edwin Hernández e o goleiro reserva Miguel Jiménez, que também foram novas aquisições dos jaliscienses. A conquista é uma prova de que o trabalho de Matías Almeyda está sendo incrível no México, mas ao mesmo tempo, também sabemos que para o argentino se firmar de vez como um grande treinador do futebol mundial, precisará mostrar todo seu valor no futebol europeu, assim como fizeram seus conterrâneos Diego Simeone, Mauricio Pochettino, Eduardo Berizzo e Mauricio Pellegrino.