Há exatos cinco meses, os torcedores do Sunderland festejavam a emocionante vitória por 2 a 1 sobre o Sheffield United no estádio de Wembley, que rendeu o retorno do clube de Tyne and Wear à Premier League após longos e dolorosos oitos anos, marcados inclusive com o rebaixamento à terceira divisão.
E como não poderia deixar de ser, o principal objetivo do Sunderland já a partir do dia seguinte ao épico acesso era apenas um: obviamente, vencer a batalha contra a degola. De fato, uma duríssima missão para qualquer clube recém-promovido, em especial na Premier League, tendo em vista que os três que subiram nas últimas duas edições do campeonato foram os mesmos que terminaram rebaixados.
De qualquer maneira, além deste retrospecto nada favorável pelos lados do Stadium of Light, outros aspectos colocavam em dúvida as reais condições do Sunderland em superar a luta pela sobrevivência na Premier League, a começar a inexperiência do técnico Régis Le Bris, que figura na elite do futebol inglês pela primeira vez na carreira após um único trabalho realizado à frente do Lourient antes de assumir o comando dos Black Cats.

Ademais, os 24 pontos de distância em relação a Leeds e Burnley, campeão e vice da Championship League na temporada passada, somada ao fato de que o Sunderland foi dono da pior defesa entre os clubes que conquistaram a promoção à Premier League, também sinalizavam porque o supercomputador da Opta Analyst, por exemplo, apontava os pupilos de Régis Le Bris como os principais candidatos ao rebaixamento, registrando 66% de chances de queda.
Em contrapartida um cenário que mudou por completo depois das nove primeiras rodadas da Premier League, marcadas mais recentemente pela surpreendente vitória do Sunderland sobre o Chelsea por 2 a 1 em pleno Stamford Bridge, que fez os Black Cats passarem a noite do último sábado para o domingo na vice-colocação da tabela com 17 pontos. Aliás, a maior pontuação de um clube vindo da segunda divisão no ano de regresso desde os 20 assinalados pelo Hull City na temporada 2008-09.
Sunderland’s 17 points from their opening nine Premier League games is the best return by a promoted club at this stage of a season since Hull City in 2008-09 (20). pic.twitter.com/jYTGvyT1fB
— Opta Analyst (@OptaAnalyst) October 25, 2025
É inegável que o triunfo no Stamford Bridge despertou a atenção da opinião pública em torno do Sunderland, sobretudo porque a equipe havia vencido somente uma partida atuando fora de seus domínios até então pela Premier League, mais especificamente o Nottingham Forest, pelo placar mínimo, na partida de estreia de Ange Postecoglou após a polêmica demissão de Nuno Espírito Santo. De resto, a campanha como visitante incluia derrotas por 2 a 0 para Burnley e Manchester United, além de um empate sem gols com o Crystal Palace.
Diante deste cenário, muitos — ou quase todos — imaginavam que o Chelsea venceria com facilidade após Alejandro Garnacho abrir a contagem no Stamford Bridge, logo aos 4 minutos, visto que os Blues vinham embalados em meio a quatro vitórias consecutivas. Contudo, isso não abalou o Sunderland, que seguiu posicionado no 5-4-1 e, através da disciplina defensiva, inteligência na construção de jogadas e da alta capacidade de contra-atacar, virou o placar com gols de Wilson Isidor, ainda no primeiro tempo, e Chemsdine Talbi, nos acréscimos da etapa final.
Em outras palavras, a reviravolta do Sunderland deu-se por intermédio das principais virtudes do time que desponta como a grande surpresa da Premier League, até mais do que o vice-colocado Bournemouth, em evolução desde a temporada anterior sob a liderança de Andoni Iraola. Não à toa, a Opta Analyst já coloca os Black Cats com um baixo índice de 9,5% de probabilidade de rebaixamento, lembrando que eles encerraram a 9ª rodada situados no G-4, superando os poderosos Manchester City, Liverpool, Manchester United e Chelsea.
Bournemouth and Sunderland currently sit in the top four of the Premier League after nine games 🍿
— OneFootball (@OneFootball) October 26, 2025
Sunderland were only just promoted to the league 🔥👏 pic.twitter.com/DlAqJusRCi
A propósito, vale ressaltar que o Sunderland não usou nenhuma fórmula mágica para se sobressair na Premier League, na realidade o sucesso do clube é oriundo do planejamento definido e cumprido à risca após o começo da temporada, a julgar que todos os QUINZE reforços que desembarcaram em Tyne and Wear neste meio de ano, que juntos custaram o montante de 187,9 milhões de euros, se encaixam no sistema de jogo de Régis Le Bris.
Deste modo, as novas peças tornaram viável o funcionamento perfeito da engrenagem do Sunderland, cujo ponto central é ninguém menos que Granit Xhaka, ex-capitão do Bayer Leverkusen na inédita dobradinha do time alemão em 2024, que agora comanda os Black Cats em campo, dada a enorme liderança, técnica, experiência e dedicação. Por essas e outras, mesmo no auge dos 33 anos de idade, o volante suíço é o primeiro do elenco em assistências (3), grandes chances criadas (4), passes certos por jogo (44,2), passes decisivos por partida (1,2) e bolas longas por jogo (4,8) na Premier League.

Por sinal, o gol da vitória no Stamford Bridge ilustra de forma clara o quão pontual e satisfatória foi a movimentação do Sunderland no mercado de transferências, já que toda a jogada foi realizada por reforços contratados nesta temporada, começando com o lateral Lutsharel Geertruida, passando pelo atacante Brian Brobbey, e terminando com o ponta Chemsdine Talbi, que balançou as redes pela primeira vez com a camisa do clube inglês.
Consequentemente, ao unir juventude e experiência, além de força física e técnica, Régis Le Bris armou os Black Cats de acordo com suas características. Como resultado, por mais que assinalando míseros 42,2% de média de posse de bola na Premier League, o Sunderland tem a segunda melhor defesa da competição ao lado de Manchester City e Tottenham, todos colecionando 7 gols sofridos em nove jogos. Ou seja, um desempenho somente inferior em comparação ao Arsenal, vazado em três oportunidades até o momento.
Isto posto, fica evidente porque o Sunderland não apenas passou de candidato ao rebaixamento a sensação da Premier League, como também vem fazendo a torcida reviver as áureas fases que estavam absolutamente esquecidas na memória.