Kasper Hjulmand conheceu a primeira derrota na Bundesliga desde que desembarcou em solo alemão há dois meses para suceder Erik ten Hag no comando técnico do Bayer Leverkusen, em função da queda por 3 a 0 frente o Bayern de Munique na Allianz Arena.
Aliás, é importante destacar que o ambiente encontrado por Kasper Hjulmand no Leverkusen era pra lá de tenso no momento da sua chegada, tendo em vista que Erik ten Hag havia sido demitido após três partidas, sendo somente duas pela Bundesliga. As justificativas para a precoce saída do ex-treinador do Manchester United foram, fundamentalmente, a má gestão de grupo, além das escolhas táticas que tanto o diretor esportivo Simon Rolfes, quanto o CEO Fernando Carro, já deveriam quando o contrataram.
Ao mesmo tempo, a missão de Erik ten Hag era bastante indigesta no Leverkusen, afinal ele chegava justamente para dar seguimento a histórica passagem de Xabi Alonso, simbolizada pela conquista do inédito título da Bundesliga, que se estendeu para a dobradinha na temporada 2023-24, na qual a única derrota sofrida pelos Werkself em 53 jogos ocorreu na decisão da Europa League contra a Atalanta, o que significa que eles permaneceram invictos no certame do futebol alemão, algo que nem o Bayern de Munique conseguiu até hoje.
Portanto, é inegável que Erik ten Hag encarava o dificílimo desafio de substituir o maior treinador do Leverkusen em todos os tempos, na temporada seguinte em que Xabi Alonso já havia o levado ao limite extremo. E isso ainda precisando liderar um novo processo de reconstrução depois das transferências de Florian Wirtz, Granit Xhaka, Jonathan Tah e Jeremie Frimpong. Em outras palavras, de praticamente de toda a espinha dorsal da equipe campeã alemã.
Logo, seria necessário tempo e, principalmente, paciência, para que Erik ten Hag conseguisse chegar próximo do impossível ao repetir o sucesso de Xabi Alonso no Leverkusen, ou então na melhor das hipóteses, torná-lo diferente ou interessante. De qualquer maneira, 62 dias depois o treinador holandês se despedia do clube cujo projeto esportivo era interrompido por completo em virtude da equivocada aposta de Rolfes e Carro.

Deste modo, com o valor referente a uma inesperada multa rescisória sendo acrescentado no orçamento, coube ao Bayer Leverkusen buscar um treinador que estivesse disponível no mercado para recalcular a rota na temporada, visto que existia tempo de sobra para tal. Além disso, a ideia primordial da cúpula diretiva do clube era trazer um profissional com perfil mais gentil, carismático, muito menos ideológico e não tão rígido. Consequentemente, o alvo escolhido foi Kasper Hjulmand.
Livre desde que deixou a Dinamarca depois da última edição da Eurocopa, Kasper Hjulmand realizou um excelente trabalho no Nordsjælland antes de assumir a seleção em 2019, ao conduzí-lo ao primeiro título dinamarquês na história. Por outro lado, o mesmo não podemos dizer em relação a sua passagem pelo Mainz 05, o único clube comandado por ele fora do país, que foi uma grande decepção. Não por um acaso, o treinador de 53 anos de idade caiu após míseros 24 compromissos.
No entanto, vale ressaltar que a fase do Mainz 05 na temporada 2014-15 era similar a do Leverkusen na atualidade, isso porque naquela oportunidade os Karnevalsverein acabavam de perder o técnico Thomas Tuchel, que havia se transferido ao Borussia Dortmund para ocupar o posto de Jurgen Klopp. Curiosamente, o exato movimento feito pelo ex-treinador do Liverpool seis anos antes.

Seja como for, Kasper Hjulmand foi demitido pelo Mainz 05 em meados de fevereiro da temporada 2014-15, dando lugar a Martin Schmidt, que não apenas o salvou do rebaixamento, como o classificou à competições internacionais pouco mais de um ano depois. Diante deste contexto, fica claro que a tarefa de suceder o sucessor é quase sempre mais fácil, o que se comprova através do bom início do treinador dinamarquês no Bayer Leverkusen.
Para se ter uma ideia, até a mais recente viagem à Baviera, o Leverkusen se mantinha invicto na Bundesliga sob o comando de Kasper Hjulmand, colecionando cinco vitórias e um empate, e ostentando uma série de quatro triunfos consecutivos no campeonato. E cai entre nós, perder do Bayern de Munique — mesmo por 3 a 0 — não é nenhum demérito, a julgar que os atuais campeões alemães continuam com 100% de aproveitamento após 16 jogos na temporada.
Ainda assim, como todo time jovem e recém-construído, o Leverkusen apresenta falhas, em especial no setor defensivo, o que ficou escancarado na acachapante goleada sofrida por 7 a 2 frente o PSG pela Champions League, e por intermédio dos 21 gols sofridos nos 11 jogos com Kasper Hjulmand à beira do campo. Em contrapartida, a evolução dos novatos Christian Kofane e Ernest Poku, bem como as atuações de destaque dos também contratados Eliesse Ben Seghir e Ibrahim Maza, sinalizam que os Werkself encontraram o caminho certo sob a liderança dos remanescentes Alejandro Grimaldo, Edmond Tapsoba e Patrik Schick dentro das quatro linhas.
À vista disso, as expectativas mudaram totalmente pelos lados da Renânia do Norte-Vestfália, sobretudo levando em conta a margem de crescimento por parte dos pupilos de Kasper Hjulmand assim que a adaptação dos demais reforços Mark Flekken, Jarell Quansah, Malik Tillman e Loic Bade ocorrer, já que eles se mostram distante do ideal devido a falta de entrosamento. Isto é, um cenário animador ao Leverkusen, dono do quarto melhor ataque da Bundesliga com 18 gols, terceiro colocado em média de posse de bola (60%), e segundo em grandes chances criadas (43) e passes certos por jogo (510) na competição.
Em resumo, o furação que se parecia ser longo e devastador em Leverkusen, durou somente três jogos e, o melhor, passou deixando apenas calmaria e um futuro novamente promissor.