Os dilemas de Xabi Alonso em meio ao futuro, já incerto, no Real Madrid

Ao desembarcar na capital espanhola na metade do ano, Xabi Alonso encavara o enorme desafio de trocar a idolatria no Bayer Leverkusen pela incerteza de suceder Carlo Ancelotti no comando técnico do Real Madrid, apesar da forte identificação junto ao clube pelo qual brilhou atuando no meio-campo ao lado de Luka Modric e Toni Kroos, entre 2009 e 2014.

E a caminhada de Xabi Alonso se tornou ainda mais longa e árdua pelo fato do jovem treinador de 43 anos de idade implementar uma filosofia de jogo totalmente diferente no Real Madrid, baseada numa abordagem posicional, intensa, dinâmica, com marcação em linha alta, pressão pós-perda, e que visa o controle através da posse de bola. Em outras palavras, a intenção foi reproduzir no Santiago Bernabéu o sistema que funcionou tão bem no Bayer Leverkusen, a ponto de conduzí-lo à conquista da tríplice coroa alemã na temporada retrasada.

Além disso, outra significativa mudança esperada no Real Madrid seria na estruturação tática do time, tendo em vista que Xabi Alonso é adepto a um sistema com três zagueiros. Todavia, embora os Merengues tenham se reforçado com as chegadas de Trent Alexander-Arnold, Álvaro Carreras, Dean Huijsen e Franco Mastantuono — que por característica tornariam a execução do 3-4-2-1 completamente plausível —, o ex-treinador do Bayer Leverkusen utilizou formações com linha de quatro defensores em TODAS as 16 partidas disputadas até o momento na temporada, incluindo tanto a LaLiga quanto a Champions League.

Seja como for, passados os primeiros cinco meses de Xabi Alonso no Real Madrid, já é difícil imaginá-lo tendo um futuro longo no clube. Apesar da liderança na LaLiga com três pontos de vantagem sobre o vice-colocado Barcelona, além da sétima posição na tabela da fase de liga da Champions League, que o mantém dentre os oito melhores que avançam diretamente às oitavas-de-final, a realidade é que o treinador espanhol enfrenta um obstáculo jamais vivido na carreira: domar o estrelado vestiário madridista.

A propósito, isso ficou escancarado na vitória do Real Madrid sobre o Barcelona por 2 a 1, um resultado que tinha tudo para ser festejado depois das quatro derrotas nos quatro El Clásicos da temporada anterior. Em contrapartida, o que se viu no Santiago Bernabéu foi Vinícius Júnior deixar o campo extremamente revoltado e xingando o próprio treinador no instante em que foi substituído por Rodrygo, aos 27 minutos da etapa final.

Obviamente, a insatisfação de Vinícius Júnior não nasceu naquele exato momento, na verdade a explosão é resultado do acumulo de descontentamento que já vem há tempos. É inegável que em qualquer clube deve existir hierarquia e respeito, por essa razão o ato do jogador brasileiro foi absolutamente inaceitável. Por outro lado, é necessário compreender que tratou-se da reação a uma ação gerada pelo próprio Xabi Alonso ao controlar tão mal a minutagem do elenco do Real Madrid, tanto é que até essa última Data Fifa do ano, por exemplo, o camisa 7 acumula 1.139′ minutos em campo, sendo o sexto do plantel na temporada com maior rodagem.

Por sinal, se trouxermos Rodrygo e Endrick para este mesmo assunto a situação se agrava. Não à toa, o ex-jogador do Palmeiras vem acertando os últimos detalhes para efetivar o empréstimo ao Lyon no segundo semestre da temporada, algo que ele já deveria ter feito no meio do ano projetando a Copa do Mundo de 2026. De qualquer maneira, é natural que o grupo reaja de forma negativa com esse tipo de administração de minutos, especialmente quando ela é feita por um treinador de perfil frio como Xabi Alonso.

Ademais, é importante destacar que os atletas do Real Madrid estavam acostumados a uma condução leve e harmoniosa com Zinedine Zidane e Carlo Ancelotti, o que torna a missão de Xabi Alonso mais complicada, pois além da parte de relacionamento, existe o ponto do jogo mais físico e combativo em campo, ou seja, atributos que a maioria dos jogadores não gostam mas, ainda assim exercem, quando compram as ideias do treinador, o que não parece ser o caso no clube espanhol.

Aliás, isso explica porque Federico Valverde reclamou publicamente ao ser deslocado por Xabi Alonso para a lateral-direita nos períodos das ausências de Trent Alexander-Arnold e Dani Carvajal, uma oposição que jamais ocorreu durante a segunda passagem de Carlo Ancelotti pelo Real Madrid. Soma-se a isso, o pedido de desculpa de Vinícius Júnior depois do El Clásico através das redes sociais, citando os companheiros, a diretoria, os profissionais do clube, a torcida, porém não mencionando o treinador da equipe em nenhuma parte da nota.

Deste modo, a sensação é a de que apenas os resultados estão favorecendo Xabi Alonso, ainda que o Real Madrid venha de uma derrota diante do Liverpool e um empate com o Rayo Vallecano nos últimos dois jogos, o que já é suficiente para gerar uma pequena crise no Santiago Bernabéu, considerando também o futebol pouco convincente apresentado na temporada. Por este motivo, dúvidas começam a surgir no clube, a desconfiança aumenta e um terreno fértil se constitui, munindo somente vertentes destrutivas.

Portanto, com margem para melhorar é fundamental que Xabi Alonso gerencie três variáveis essenciais para resistir no instável banco madridista: a primeira, não se preocupar com o clima em torno do Real Madrid, onde a pressão e críticas são constantes, e as semanas equivalem a uma única temporada; a segunda, gerenciar os egos do vestiário, lidando com as peculiaridades de cada um dos seus jogadores; e por último, se manter fiel às convicções que o consagraram no Bayer Leverkusen.

Só assim Xabi Alonso conquistará inflûencia sobre os jogadores e, como resultado, espantará todos os rumores envolvendo o seu futuro já incerto no Real Madrid. Caso contrário, o que virá à tona é a questão da falta de comunicação, seguida das escolhas equivocadas na escalação da equipe, das más substituições nas partidas e, com mais uma derrota, caso ela venha em breve, uma crise completa assolará o Santiago Bernabéu intensificada por sua demissão.  

Isto posto, só resta saber qual destes caminhos será trilhado por Xabi Alonso. A resposta virá ao longo da temporada. A ver!

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