O fim da invencibilidade expôs o principal desafio do Palace na temporada

O ano de 1969 ficou marcado pela primeira ida do homem à Lua, com a missão Apollo 11 da NASA, que levou os astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin a pisarem o solo lunar, além da realização do famoso festival musical Woodstock, na fazenda de gado leiteiro de Max Yasgur, próximo à região de White Lake, no estado de Nova York.

Diante do exposto, fica claro porque a inédita sequência de 18 partidas consecutivas sem derrotas por parte do Crystal Palace passou completamente despercebida naquele verão europeu em que os Eagles, na época comandados por Bert Head, conseguiram o acesso à elite do futebol inglês pela primeira vez na história do clube desde a sua fundação em 1905.

Pois é, e quis o destino que 56 anos depois a maior série invicta do Crystal Palace fosse, enfim, superada devido aos dez empates e nove vitórias conquistadas pelos pupilos de Oliver Glasner. A propósito, um recorde batido no triunfo por 2 a 0 sobre o Dínamo de Kiev, isto é, o primeiro da equipe do sul de Londres em torneios organizados pela Uefa — pela rodada inicial da fase de liga da Conference League.

De qualquer maneira, a realidade é que estes são apenas dois de tantos outros feitos alcançados pelo Crystal Palace desde a chegada de Oliver Glasner ao Selhurst Park. Aliás, dentre os principais se destacam as conquistas tanto da FA Cup na temporada passada, quanto da Supercopa da Inglaterra na atual, com vitórias sobre Manchester City e Liverpool nas respectivas decisões. Como resultado, o Palace faturou os primeiros títulos de maior expressão em 120 anos.

Não à toa, Oliver Glasner não apenas elevou o nível do Crystal Palace, como também se tornou o maior treinador do clube em todos os tempos no decorrer desta curta trajetória de 1 ano e meio no clube, lembrando que o ex-treinador do Eintracht Frankfurt desembarcou em solo inglês em fevereiro de 2024 com o Palace lutando contra o rebaixamento na 15ª colocação da Premier League a cinco pontos da zona da degola, e terminou a temporada na 10ª posição com 53 pontos, nada menos que a pontuação mais alta dos londrinos no campeonato até então.

E tudo isso perdendo importantes peças ao longo da caminhada, a exemplo das vendas de Michael Olise ao Bayern de Munique na temporada anterior, aliada a de Eberechi Eze ao Arsenal neste meio de ano. Por sinal, negociações que frustraram Oliver Glasner sobretudo porque o Crystal Palace só se mexeu pra valer nos instantes finais da última janela de transferências ao efetivar as compras do zagueiro Jaydee Canvot e dos atacantes Yéremy Pino e Christantus Uche, que se somaram aos demais contratados Walter Benítez e Borna Sosa.

Ainda assim, uma movimentação considerada moderada por Oliver Glasner, especialmente porque o atípico calendário do Crystal Palace na temporada incluía a Conference League. Inclusive, talvez essa seja a razão pela qual o treinador austríaco tenha rejeitado a proposta de renovação do atual vínculo contratual válido até a metade de 2026, afinal é provável que ele sinta que as suas ambições jamais serão correspondidas no clube.

E para piorar a situação, o cobertor curto no que diz respeito ao elenco já começou a pesar pelos lados do Selhurst Park, a julgar pela primeira derrota do Crystal Palace após 12 jogos disputados na temporada 2025-26 — sendo sete deles pela Premier League —, em que os Eagles dominaram as ações no primeiro tempo e saíram ao intervalo vencendo o Everton pelo placar mínimo, mas acabaram sofrendo a virada mediante a total perda de intensidade na etapa final.

Vale ressaltar que a resiliência foi uma das grandes virtudes do Crystal Palace ao longo das 19 partidas de invencibilidade, porém as pernas e mentes cansadas dos jogadores não foram capazes de sustentá-la no Hill Dickinson Stadium, acima de tudo depois dos 75 minutos, quando Maxence Lacroix cometeu um pênalti infantil no gol de empate do Everton, e Jean-Philippe Mateta já havia desperdiçado duas oportunidades de ampliar a vantagem no marcador e, consequentemente, matar o jogo.

Pode até parecer insano que após míseros 12 compromissos o Crystal Palace já dê claros sinais de desgaste na temporada. Todavia, é importante salientar que sete dos onze jogadores que iniciaram o jogo em Merseyside já haviam sido titulares em pelo menos 10 dessas partidas, ao passo que Marc Ghéhi, Maxence Lacroix, Daniel Muñoz e Jean-Philippe Mateta registram mais de mil minutos em ação até aqui.

Ademais, na contundente vitória por 3 a 0 sobre o Aston Villa na véspera do fechamento da janela de transferências, Oliver Glasner se queixou do plantel enxuto ao trazer à tona as lesões musculares do Crystal Palace, na ocasião, com Ismaila Sarr apresentando problema no tendão e Adam Wharton se queixando de um incômodo no adutor. Em outras palavras, evidenciando que a escassez de opções já comprometia a caminhada do Palace por conta da obrigação da utilização dos mesmos atletas em nas partidas.  

Ao mesmo tempo, o sistema de jogo pra lá de autoral e complexo de Oliver Glasner impossibilita a rápida adaptação dos jogadores, portanto, a longa demora do Crystal Palace para reforçar a equipe na temporada vem atrasando totalmente o entrosamento de Yéremy Pino e Christantus Uche. Contudo, um contratempo que só ficou escancarado depois do primeiro revés dos Eagles desde a goleada ante o Newcastle por 5 a 0, em 16 de abril no St. James’ Park.

Seja como for, é óbvio que não há motivo para pânico no Selhurst Park, mas as causas que resultaram no fim da invencibilidade do Crystal Palace demonstram que encontrar uma alternativa para lidar com o esgotamento físico e psicológico dos atletas será o principal desafio de Oliver Glasner na temporada.

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