Noruegueses carimbam o passaporte rumo ao Mundial de 2026

Após longos 28 anos de espera, a Noruega, enfim, está de volta à Copa do Mundo. Inclusive, por intermédio de um retorno digno de aplausos mediante aos 100% de aproveitamento nas Eliminatórias, com direito a uma goleada por 4 a 1 sobre a Itália na última rodada, em pleno San Siro.

A propósito, este extenso período de ausência retrata claramente que pelo menos duas gerações de torcedores da Noruega jamais sentiram a emoção de acompanhá-la em ação numa Copa do Mundo, algo que também abrange a Eurocopa, tendo em vista que a última e única participação dos noruegueses no torneio continental deu-se há exatos 25 anos, quando eles caíram na fase de grupos da Euro 2000.

E levando em consideração que a mais recente aparição da Noruega em Mundiais ocorreu em 1998, nota-se porque aquela seleção norueguesa foi sempre considerada a melhor de todos os tempos, lembrando que nomes como Henning Berg, Oyvind Leonhardsen, Ole Gunnar Solskjaer e Tore André Flo integravam a Landslaget que, por incrível que pareça, derrotou o Brasil por 2 a 1, de virada em Marselha, na 3ª rodada do estágio inicial da Copa do Mundo da França, alcançando assim o maior feito de sua história sob o comando do lendário Egil Olsen.

Ademais, é importante destacar que outra emblemática figura que defendeu as cores da seleção eliminada pela Itália pelo placar mínimo nas oitavas-de-final da Copa de 1998 foi o ex-meio-campista Stale Solbakken, nada menos que o atual comandante da Noruega. Após passagens por HamKam, Copenhague, Colônia e Wolverhampton, o técnico de 57 anos de idade assumiu o comando norueguês em março de 2021. Desde então, foram 52 partidas compostas por 31 vitórias, 10 empates, 11 derrotas, 120 gols marcados e outros 52 sofridos.

Portanto, juntando a vasta experiência de ter vivenciado a fase mais áurea da seleção norueguesa dentro de campo, Stale Solbakken vem passando, fora das quatro linhas, todo o seu conhecimento à atual que tem tudo para superar aquela do final do século passado, a exemplo da exímia campanha dos escandivanos nas Eliminatórias, marcada pelo montante de 37 gols assinalados e apenas cinco sofridos no decorrer das oito vitórias conquistadas nos oito jogos disputados no qualificatório.

Aliás, o único jogo das Eliminatórias que os pupilos de Stale Solbakken não balançaram as redes o mínimo de três vezes ocorreu no triunfo sobre a Estônia, por 1 a 0, em Tallinn. Não à toa, eles adentraram a rodada final podendo perder da Itália por até 8 gols de diferença no San Siro, em virtude do elevadíssimo saldo construído na competição. Ainda assim, a Noruega carimbou a vaga na Copa do Mundo da maneira que lhe é mais peculiar: goleando os tetracampeões mundiais por 4 a 1.

Vale ressaltar que os noruegueses saíram em desvantagem no placar, e foram ao intervalo perdendo por 1 a 0. Em contrapartida, o gol de Antonio Nusa, aos 18 minutos da etapa final, literalmente abriu a porteira da Noruega, a julgar pelos dois tentos seguintes do artilheiro Erling Halland, além do último marcado por Strand Larsen, já nos acréscimos. Logo, o troco da duríssima queda nas oitavas-de-final da Copa de 1998 sobre a Itália, veio 27 anos depois, e com requintes de crueldade.

Por sinal, os 39 gols da Noruega em 2025 resultam numa incrível média de 2,9 por jogo. Com 16 marcados somente nas Eliminatórias, Erling Haaland registra, sozinho, o mesmo número da França e soma mais do que outras 42 seleções, incluindo Alemanha (10), Dinamarca (14), Suiça (13) e Polônia (11), por exemplo. Pois é, e tudo isso sem que os noruegueses contassem com a presença do cerebral, Martin Odegaard, em três dos oitos compromissos no torneio.

Seja como for, isso sinaliza o quão qualificado é o conjunto norueguês, que embora tenha o privilégio de contar com um dos melhores atacantes do mundo na atualidade, se destaca pela força coletiva. Para se ter uma ideia, além do camisa 9, sete outros atletas da Noruega disputam a Premier League. Tratam-se de Martin Odegaard (Arsenal), Sander Berge (Fulham), Kristoffer Ajer (Brentford), Jorgen Strand Larsen (Wolves) e Oscar Bobb (Manchester City).

Além disso, outros despontam em outras grandes ligas europeias, tais como o habilidoso ponta do RB Leipzig, Antonio Nusa, e o ótimo lateral-direito do Borussia Dortmund, Julian Ryerson, ambos na Bundesliga, o seguro zagueiro do Bologna, Torbjorn Heggem, na Serie A, e o goleador Alexander Sorloth, atualmente jogando a LaLiga, onde veste a camisa do Atlético de Madrid. Isso explica porque o treinador de Israel, Ran Ben Shimon, goleado pelos noruegueses no mês passado, afirmou que apenas a Espanha é capaz de rivalizar com a Noruega no momento.

Ainda que demasiadamente exagerada, a declaração do técnico Ran Ben Shimon traduz porque essa Noruega, de Stale Solbakken, pode realmente quebrar todos os paradigmas. Soma-se a isso, o fato de que as decepcionantes campanhas nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022 e da Eurocopa de 2024, serviram para o aprendizado e a evolução deste grupo repleto de jovens jogadores, cuja média de idade é de somente 25,8 anos, o que significa que o futuro se mostra pra lá de promissor a curto, medio e longo prazos à seleção norueguesa.

Deste modo, a realidade é que a reunião desta série de novatos talentosos, aliada tanto ao eficaz trabalho desenvolvido pela NFF (Federação Norueguesa de Futebol) nas categorias de base, quanto ao perfil audacioso de Stale Solbakken, foram os pontos determinantes para o notável sucesso da Noruega que, como resultado, aderiu a uma identidade ofensiva e dinâmica, fugindo totalmente da marcante característica de ter seleções físicas, conservadoras e pragmáticas.

Por essas e outras, ao contrário das três participações anteriores, desta vez a Noruega jogará uma Copa do Mundo com plenas condições de competir, visto que a geração de Erling Haaland, Martin Odegaard e companhia, definitivamente, extinguiu o status de mera coadjuvante.

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