180 minutos separam a Itália da Copa do Mundo de 2026

O dia 24 de junho de 2014 pode ser considerado um verdadeiro marco na história do futebol italiano, afinal trata-se da data da última aparição da Itália numa Copa do Mundo, em que a Azzurra se despediu de forma precoce na fase de grupos da edição realizada no Brasil, devido a derrota por 1 a 0 frente o Uruguai na Arena das Dunas .

De lá pra cá, foram duas duríssimas quedas diante de Suécia e Macedônia do Norte, respectivamente, nos playoffs das duas Eliminatórias passadas, que impediram com que a Itália participasse das Copas de 2018 e 2022. Até aí nenhuma novidade, mas a grande surpresa é que aquele fatídico 24 de junho de 2014 parece se eternizar na memória dos torcedores italianos, tendo em vista que o fantasma da repescagem voltou a assombrá-los pela terceira vez consecutiva.

Pois é, embora situada num grupo considerado acessível antes do início das Eliminatórias ao lado de Noruega, Israel, Estônia e Moldávia, a Itália não imaginava que Erling Haaland, Martin Odegaard e companhia despontariam através de uma campanha de 100% de aproveitamento no torneio. E olha que o alerta já foi sinalizado pelos escandinavos logo na partida de estreia contra a própria seleção italiana, derrotada por 3 a 0 em Oslo.

Consequentemente, por mais que a Itália tenha vencido os seis demais jogos até o reencontro com os noruegueses, a realidade é que os tetracampeões mundiais adentraram a última rodada das Eliminatórias tendo a missão quase impossível de vencê-los por 9 gols de diferença em Milão. A propósito, no final das contas uma goleada que até aconteceu, porém por parte da Noruega ao bater os comandados de Gennaro Gattuso por 4 a 1 em pleno San Siro.

Por sinal, o trauma dos italianos em Eliminatórias é tamanho que o revés por 3 a 0 para a Noruega logo na rodada inicial rendeu a demissão do técnico Luciano Spalletti após menos de dois anos, ou míseros 23 jogos no cargo, lembrando que mesmo sabendo da saída ele ainda chegou a dirigir a Azzurra na partida seguinte contra a Moldávia, dando adeus registrando 11 vitórias, seis empates, seis derrotas, e uma decepcionante campanha na Eurocopa de 2024.

Deste modo, os seis jogos restantes das Eliminatórias foram disputados pela Itália sob a liderança de Gennaro Gattuso, que embora não fosse o plano A acabou sendo o nome que sobrou na mesa juntamente com Daniele De Rossi para suceder Luciano Spalletti, depois da negativa por parte de Claudio Ranieri. Em outras palavras, uma situação que retrata a total desorganização da FIGC (Federação Italiana de Futebol) ao promover a demissão de um técnico sem nem ao menos ter uma segunda alternativa como opção da próxima escolha.

A explicação para essa aposta era resgatar o espírito da seleção tetracampeã mundial em 2006 por intermédio do seu perfil enérgico, intenso e de extrema paixão de Gennaro Gattuso, da mesma maneira que ocorria em relação ao principal concorrente pela vaga Daniele De Rossi, atualmente no Genoa. Seja como for, os motivos só poderiam ser os apontados, visto que o técnico de 47 anos de idade acumulou trabalhou de razoáveis a ruins em suas passagens por Milan, Napoli, Valencia, Olympique de Marselha e Hadjuk Split.

Logo, ainda que seja injusto apontar o treinador como o grande responsável pelos problemas que já assolam a Itália há quase uma década, é inegável que a seleção italiana não apresentou nenhuma evolução com Gennaro Gattuso, apesar das cinco vitórias conquistadas nos cinco primeiros jogos desde a sua chegada, que o transformaram no terceiro treinador da história da Azurra a alcançar tal feito, depois de Edmondo Fabbri (1962 e 1963) e Azeglio Vicini (1986 e 1987).

Em todo o caso, será com Gennaro Gattuso à beira do campo que a Itália terá a última oportunidade para superar o drama dos playoffs, o que significa que o momento é de analisar os prós e contras da seleção, como por exemplo, achar uma grande liderança dentro das quatro linhas, uma condição rara no futebol italiano onde Luka Modric segura as rédeas no Milan, Lautaro Martínez e Hakan Çalhanoglu na Inter de Milão, enquanto Romelu Lukaku rege com maestria a orquestra do Napoli, vide a crise vivida sem o camisa 9.

Obviamente, trata-se de uma circunstância mais atual considerando que a Itália sempre teve emblemáticos líderes em campo, indo desde Gianluigi Buffon a Fabio Cannavaro a Gennaro Gattuso, ou desde Alessandro Del Piero a Francesco Totti a Andrea Pirlo, e isso levando em conta somente este período recente, ao qual podemos incluir também a Euro 2020, ganha pelos próprios italianos com Giorgio Chiellini, Leonardo Bonucci e Jorginho assumindo o peso da responsabilidade.

Portanto, cabe a Gennaro Gattuso desenvolver essa virtude que já nasce com o atleta, sobretudo porque Sandro Tonali e Nicolò Barella apresentam esse tipo de perfil. Ademais, o que a Itália mais necessita é quebrar alguns paradigmas, dentre os principais, o conceito tático em que driblar é praticamente um crime mediante a adoração pela aplicação defensiva, pelo posicionamento, e pela circulação de bola com, no máximo, dois toques.

Em contrapartida, é claro que essa drástica mudança na filosofia de jogo já deveria ter sido planejada há pelo menos quatro anos, e não às vesperas dos playoffs das Eliminatórias com um treinador que não tem o mínimo potencial para promovê-la. Por essa razão, o ideal é Gennaro Gattuso depositar todas as fichas no desenvolvimento de uma liderança e, em especial, no traballho do lado mental dos jogadores, certamente, abalados pelas últimas duas campanhas no qualificatório.

Vice-colocada do grupo I das Eliminatórias, a Itália é uma das 16 seleções que disputará a repescagem, porém será uma das quatro cabeças de chave dos playoffs. Assim, a Azzurra enfrentará um oponente do quarto pote na semifinal, em 26 de março, e caso avance o vencedor do duelo entre as seleções do segundo e terceiro potes na decisão, em 31 de março, quando saberemos ao certo se os italianos marcarão um “hat-trick” de ausência em Copas, ou estarão de volta após doze longos anos.

A ver!

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