O dia 18 de novembro se tornou um marco na história de Curaçao, pequena ilha caribenha composta por cerca de 156 mil habitantes, que ao empatar com a Jamaica, em Kingston, carimbou o passaporte rumo à sua primeira Copa do Mundo.
Contudo, é importante salientar que a caminhada de Curaçao nas Eliminatórias teve início em junho do ano passado, quando os comandados de Dick Advocaat golearam Barbados por 4 a 1 na primeira dentre as sete vitórias e três empates obtidos ao longo do qualificatório, o que significa que a vaga na Copa de 2026 veio através de uma campanha invicta nas Eliminatórias, representada também pelo montante de 28 gols marcados e apenas cinco sofridos.
Ainda assim, Curaçao adentrou a última rodadas das Eliminatórias precisando de um empate contra a Jamaica que, separada a apenas um ponto devido a segunda melhor campanha do grupo, necessitava de uma simples vitória para garantir a classificação. Diante do exposto, como essa verdadeira decisão teve como palco o Estádio Nacional, em Kingston, o favoritismo ficou todo do lado dos jamaicanos, motivados pelo “mar amarelo” de 35 mil torcedores em torno das quatro linhas.
Vale ressaltar ainda que outro enorme obstáculo encarado por Curaçao na capital jamaicana foi lidar com a ausência de Dick Advocaat, que em virtude de um problema de saúde vivido pela esposa precisou retornar à Holanda no último sábado (15). Em outras palavras, a Onda Azul não contava com o principal responsável pelo sucesso nas Eliminatórias à beira do campo, onde o auxiliar-técnico, Dean Gorre, coordenou os curaçauenses.
Para quem não sabe, o experiente Dick Advocaat já dirigiu 14 clubes e oito seleções ao longo da carreira. A propósito, o treinador de 78 anos de idade disputará a Copa do Mundo pela terceira vez, após comandar a Coreia do Sul no Mundial de 2006, e a Holanda na edição de 1994, nos Estados Unidos, país ao qual retornará em 2026 à frente de Curaçao. Soma-se a isso, a participação da Rússia na Euro 2012, também sob a liderança do técnico holandês.

De qualquer maneira, a ligação de Curaçao com a Holanda não diz respeito somente ao técnico Dick Advocaat, mas também aos jogadores. Para se ter uma ideia, dos 24 jogadores convocados nessa última Data Fifa, nada menos que 23 são holandeses de nascimento, porém com alguma ascendência no país do Caribe (pais ou avós), o que retrata que a seleção curaçauense soube usar bem os laços junto aos europeus para se fortalecer.
Aliás, esse vínculo deve-se ao fato de que durante os anos de 1954 e 2010, Curaçao fez parte das Antilhas Holandesas, do mesmo modo que Aruba, Bonaire, Santo Eustáquio e São Martinho. Todavia, ao fim deste período o país se separou do restante, ainda que como uma ilha constituinte ao Reino dos Países Baixos, razão pela qual cidadãos curaçauenses recebem passaportes holandeses. À vista disso, sem chances de defender as cores da Laranja Mecânica em função do maior nível técnico, muitos atletas nascidos na Holanda optaram por vestir a camisa da Onda Azul.
Por sinal, outro detalhe curioso é que Dick Advocaat não era a escolha ideal da Federação de Futebol de Curaçao (FFK), tendo em vista que o nome predileto da entidade era o de Bert van Marwijk, pois o treinador da Holanda na fase final da Copa do Mundo de 2010, eliminada diante da Espanha nas semifinais, havia treinado diversos jogadores curaçauenses nas categorias de base da seleção holandesa. Mas tanto ele, como a segunda alternativa, Louis van Gaal, rejeitaram os convites que lhes foram oferecidos.
An island dream! Curaçao qualify for their first-ever #FIFAWorldCup. 🇨🇼🤩#WeAre26 pic.twitter.com/QXsBTbNjzh
— FIFA World Cup (@FIFAWorldCup) November 19, 2025
Sabendo disso, foi Dick Advocaat quem entrou em contato através de um telefonema com o presidente da FFK, Gilbert Martina, para informar que estava disponível para assumir o cargo. Como resultado, coube ao novo treinador de Curaçao descobrir quais jogadores holandeses tinham origens curaçauenses para definir a montagem do plantel, lembrando que somente Tahith Chong dentre a mais recente lista de convocados, formado no Manchester United, nasceu no país do Caribe.
Em todo o caso, o jogador mais renomado de Curaçao é Leandro Bacuna, ex-meio-campista do Aston Villa, que contabiliza o maior número de jogos pela seleção com 68 aparições. Além dele, o seu irmão Juninho é outro destaque curaçauense. Atualmente no Gaziantep, da Turquia, o camisa 7 já atuou por Huddersfield Town, Rangers e Birmingham desde que iniciou a carreira há uma década no Groningen.
Curaçao faz história e é o país mais pequeno de sempre a apurar-se para o Mundial! 🇨🇼 pic.twitter.com/RgMFC3Mm02
— B24 (@B24PT) November 19, 2025
Portanto, fica evidente porque nem mesmo a atmosfera do Estádio Nacional da Jamaica foi capaz de intimidar os curaçauenses no jogo mais emblemático de todos os tempos da seleção de Curaçao, tanto é que eles retornaram de Kingston com a inédita classificação à Copa do Mundo na bagagem, que inclusive já os coloca como o menor país em termos de extensão territorial e população a figurar num Mundial, superando a Islândia, em 2018, com 350 mil habitantes.
É bem verdade que a vaga foi assegurada na base do drama, a exemplo do empate sem gols depois de três bolas na trave da Jamaica ao longo dos noventa minutos, além de um pênalti marcado pelo árbitro a favor dos anfitriões, mas desmarcado em seguida pelo VAR. Seja como for, o principal objetivo de Curaçao era evitar a derrota e o ponto conquistado na capital jamaicana colocou a Onda Azul no, até então, inimaginável suprassumo do futebol.
Logo, daqui a 204 dias essa maravilhosa história continuará sendo escrita por Dick Advocaat e companhia limitada, porém através de um novo capítulo nos gramados norte-americanos, mexicanos e canadenses!