A virada sofrida em Tóquio calou o insuportável oba-oba da mídia tupiniquim

Com o encerramento das Eliminatórias da Copa de 2026, o Brasil adentrou a penúltima Data Fifa do ano tendo pela frente amistosos contra Coreia do Sul e Japão, celebrados pelo fato dos pentacampeões mundiais enfrentarem a diferente escola asiática, algo bastante raro em meio ao calendário cada vez mais recheado até no que diz respeito ao futebol de seleções.

E com um ciclo inteiramente arruínado, que teve início com Ramon Menezes, passou por Fernando Diniz, Dorival Júnior, e terminou as Eliminátorias com Carlo Ancelotti, a Seleção Brasileira desembarcou na Ásia tendo como principal objetivo realizar os últimos testes a fim de recuperar todo o tempo perdido, lembrando que a 5ª colocação no torneio qualificatório foi a pior do Brasil desde que o mesmo começou a ser disputado no atual formato. Aliás, uma posição que, há quatro anos, seria suficiente apenas para classificá-lo à repescagem, visto que até 2022 apenas quatro sul-americanos avançavam diretamente à Copa do Mundo.

Todavia, mesmo diante deste cenário uma grande parcela da mídia tupiniquim trouxe à tona a tradicional euforia verde e amarelo, que ganhou força depois que Carlo Ancelotti assumiu o comando da Seleção Brasileira, afinal trata-se de um dos melhores treinadores da atualidade, e foi abatecida após a goleada do Brasil por 5 a 0 sobre a Coreia do Sul. A propósito, o que sempre me irritou em relação a Seleção Brasileira é o enorme oba-oba criado pela imprensa, seja em função de um resultado contundente ou uma boa apresentação, seja em virtude de uma classificação em jogos eliminatórios. Na maioria das vezes, essa onda exagerada de entusiamo contagia os jornalistas às vésperas de uma Copa do Mundo.

Obviamente, é claro que existiram méritos na vitória sobre a Coreia do Sul, especialmente levando em conta a ótima movimentação do quarteto ofensivo composto por Viniícius Júnior, Rodrygo, Estêvão e Matheus Cunha, o dinamismo dos volantes Casemiro e Bruno Guimarães, além da solidez dos zagueiros Éder Militão e Gabriel Magalhães. Por outro lado, beira o ridículo apontar o Brasil favorito ao hexa por conta deste 5 a 0, acima de tudo considerando o baixo nível técnico dos sul-coreanos, e os pouco mais de 50% de aproveitamento dos Canarinhos ao longo deste ciclo rumo ao Mundial de 2026.

Deste modo, ainda que exista todo o lado comercial em jogo para atrair a audiência do público nas partidas da Seleção Brasileira, muitos jornalistas brasileiros são realmente patéticos a ponto da passional “síndrome do patriotismo” se sobressair ao racional, sendo esta uma condição que desmorona na mesma proporção que chega ao ápice depois de uma derrota, a exemplo do que ocorreu quatro dias depois da vitória em Seul, com a queda do Brasil por 3 a 2 diante do Japão.

Apesar de abrir uma confortável vantagem de 2 a 0 no primeiro tempo, com gols do estreante Paulo Henrique e outro do atacante Gabriel Martinelli, os comandados de Carlo Ancelotti sucumbiram na etapa final ao sofrerem três gols num curto espaço de 19 minutos. Consequentemente, o Brasil foi derrotado pelo Japão pela primeira vez em todos os tempos, tendo em vista que os brasileiros colecionavam 11 vitórias e 2 empates nos 13 duelos contra os japoneses até então.

Vale ressaltar que Carlo Ancelotti promoveu diversas mudanças na equipe do Brasil, sobretudo na defesa absolutamente modificada com as entradas de Hugo Souza, Paulo Henrique, Fabrício Bruno, Beraldo e Carlos Augusto, nos lugares de Bento, Vitinho, Éder Militão, Gabriel Magalhães e Douglas Santos. E no final das contas, tanto o goleiro do Corinthians, quanto o zagueiro do Cruzeiro, deixaram a impressão de que jogaram fora a chance de integrar o elenco brasileiro na Copa de 2026, em razão das falhas cometidas no Ajinomoto Stadium.

No entanto, a abrupta queda de rendimento da Seleção Brasileira após o erro de Fabrício Bruno, resultante no primeiro gol do Japão, chamou bastante a atenção porque o Brasil apagou em campo, se mostrando extremamente frágil na parte mental até o final do jogo. De qualquer maneira, como bem disse o capitão Casemiro, que isso sirva de aprendizado e não se repita num momento importante de Copa do Mundo, por exemplo, pois pode custar uma eliminação.

Seja como for, o melhor da derrota em Tóquio foi ver os mesmos comentaristas que exultavam a Seleção Brasileira no intervalo — um deles até entoando o “dois vira, quatro acaba” —, totalmente incrédulos depois do apito final. Como é de praxe, o exercício foi criar mais um vilão para um vexame do Brasil, cuja bola da vez responde pelo nome de Fabrício Bruno, sem reputar a qualidade do Japão, 19º colocado no ranking da FIFA, que somente na Copa do Mundo passada venceu nada menos que Alemanha e Espanha, ambas por 2 a 1.

À vista disso, o extremo deleite em torno da Seleção Brasileira se reduziu a perda do posto de favorita ao hexa em 2026 para os “pachecos” da mídia, até porque pra eles o Japão não tem mérito algum no trabalho que vem sendo desenvolvido por Hajime Moriyasu há sete anos, através da formação de um time pra lá de competitivo com diversas peças que atuam nas principais ligas da Europa, porque a única coisa que vale e importa é o eterno melhor do mundo, Brasil.

Portanto, este sentimento de desilusão é apenas momentâneo, já que na próxima Data Fifa o rótulo de principal postulante ao título mundial será novamente destinado ao Brasil pelos jornalistas. Em contrapartida, um panorama que não se enquadra à torcida, que em suma maioria não se deixa levar pelo irritante oba-oba da imprensa por ter uma visão mais lúcida e coerente da realidade, e também devido ao distanciamento junto à Seleção Brasileira.

Inegavelmente, a Espanha desponta como a seleção que pratica o melhor futebol a 244 dias da bola rolar no Mundial da América do Norte, tendo França, Portugal e Argentina como principais concorrentes numa teórica segunda prateleira de favoritos, o que significa que o Brasil não está nem mesmo entre os quatro primeiros da corrida pelo título de 2026. Na melhor das hipóteses, os Canarinhos figuram como a quinta alternativa ao lado de alemães e ingleses.

Contudo, com a proximidade dos últimos compromissos do ano daqui a um mês, contra Senegal e Tunísia, é quase certo que o clima de que “já pintou o hexacampeão” volte a reinar no fantasioso mundo dos cronistas esportivos, no qual a única cor que predomina é o verde e amarelo. Ao mesmo tempo, a ironia de vê-los com cara de tacho em rede nacional depois de mais um adeus em Copas também se avizinha, visto que 2026 está logo aí. Então, aguardemos!  

Deixar um comentário

Menu