O efeito causado quando, de forma inesperada, Marcelo Gallardo anunciou que deixaria o comando técnico do River Plate às vésperas do término da temporada de 2022, era similar a de uma devastadora bomba explodindo em Núñez, afinal, o maior treinador da história do clube estava de saída.
Foram longos oito anos de um glorioso trabalho composto por 14 conquistas, dentre os principais, dois troféus da Libertadores, um da Sul-Americana, um título argentino, além de três taças da Copa da Argentina. Consequentemente, a idolatria de Marcelo Gallardo, que já era grande desde os tempos em que ele defendia as cores do River Plate dentro das quatro linhas, aumentou ainda mais em relação a torcida.
Decerto, El Muñeco vislumbrava repetir na Europa o sucesso alcançado à frente do River Plate. Deste modo, em alta, ele iniciou o ano de 2023 aguardando propostas de gigantes do futebol europeu, porém o máximo que recebeu foram ofertas de clubes de segundo escalão. Não satisfeito, Marcelo Gallardo aceitou se aventurar na Arábia Saudita — é claro, por altíssimas cifras —, onde teve uma péssima passagem de míseros 33 jogos e 14 derrotas pelo Al-Ittihad.
Paralelamente, Martín Demichelis, que ainda dava os primeiros passos na carreira como treinador ao dirigir o time B do Bayern de Munique, aceitou o desafio de suceder Marcelo Gallardo no clube de formação e pelo qual atuou de 2001 a 2003, em 70 jogos. Ou seja, antes de se transferir ao Gigante da Baviera.
Considerado um dos treinadores mais promissores do futebol argentino, Martín Demichelis ergueu os canecos da Liga Argentina, do Troféu dos Campeões, e venceu os dois clássicos disputados contra o Boca Juniors em seu primeiro ano comandando o River Plate, dando sequência ao ótimo trabalho desenvolvido pelo antecessor Marcelo Gallardo, apesar das más campanhas nas copas, incluindo a Libertadores — em que foi superado pelo Internacional, nas oitavas-de-final.
No entanto, o declínio de Martín Demichelis teve início a partir de sua segunda temporada em Núñez. Embora campeão da Supercopa da Argentina ao derrotar o Estudiantes, o River Plate caiu por 3 a 2, de virada, diante do Boca Juniors nas quartas-de-final da Copa da Liga Argentina em Córdoba, amargurando uma duríssima queda para o rival que viria a ser eliminado na semifinal.
Posteriormente, o River Plate se despediu da Copa da Argentina nas oitavas-de-final ao perder do modesto Temperley, da segunda divisão, sofrendo o segundo revés seguido em um importante mata-mata. E para piorar a situação, no compromisso seguinte os pupilos de Martín Demichelis foram derrotados por 1 a 0 pelo Argentinos Juniors, em partida válida pela 3ª rodada da Liga Argentina.
O desempenho do River Plate na fase de grupos da Conmebol Libertadores:
— 4bfootball (@4bfootbal) May 30, 2024
( 2015 – 2023)
• 2015 – 2° ✅ ?
• 2016 – 1° ✅
• 2017 – 1° ✅
• 2018 – 1° ✅ ?
• 2019 – 2° ✅ ?
• 2020 – 1° ✅
• 2021 – 2° ✅
• 2022 – 1° ✅
• 2023 – 2° ✅ pic.twitter.com/3M2JGoZWGo
À vista disso, as vitórias sobre Deportivo Tachira (2 a 0) e Tigre (3 a 1) não amenizaram o clima de tensão pelos lados de Núñez, ao contrário, já que a pressão sobre Martín Demichelis cresceu depois da derrota por 2 a 0 para o recém-promovido Deportivo Riestra. Ainda assim, a permanência do jovem treinador de 43 anos de idade foi confirmada antes da pausa no calendário argentino em decorrência da Copa América.
Na realidade, a expectativa da diretoria riverista era a melhora do time após a realização da inter-temporada, aliada a chegada de novos reforços. Todavia, o suado empate em 2 a 2 frente o Lanus em pleno Monumental de Núñez, já evidenciava que os Millonarios não haviam evoluído, o que acabou se comprovando na derrota por 2 a 1 ante o Godoy Cruz.
Como resultado, a demissão de Martín Demichelis foi confirmada horas antes do jogo do último domingo (28) contra o Sarmiento, ainda que o seu contrato fosse válido até dezembro de 2025. Logo, o gol salvador do novato Franco Mastantuono, aos 42 minutos da etapa final, ao menos determinou um adeus triunfal do ex-zagueiro cuja trajetória pelo River Plate ficou marcada por 51 vitórias, 18 empates, 17 derrotas, e três títulos em 86 partidas, ou 620 dias.
A partir de una decisión tomada de común acuerdo con las máximas autoridades del Club, Martín Demichelis ha dejado su cargo de entrenador del plantel profesional.
— River Plate (@RiverPlate) July 27, 2024
Dirigirá este domingo su último partido como entrenador del primer equipo.
River Plate agradece a Demichelis por… pic.twitter.com/hqaxglpyjS
Contudo, além do desempenho irregular e do alto grau de reprovação por parte da torcida, a rápida saída de Martín Demichelis também tem outra explicação: Marcelo Gallardo. Pois é, livre no mercado desde que deixou o Al-Ittihad, o ex-treinador do River Plate viu com bons olhos a possibilidade de retornar ao clube após um ano e meio, especialmente porque as portas do mercado europeu se fecharam devido ao pífio trabalho no futebol saudita.
Em contrapartida, por mais que Marcelo Gallardo tenha regressado à Argentina menor do que quando saiu, para os torcedores colorados ele será o eterno ídolo de sempre. E levando em consideração todo o legado contruído entre 2014 e 2022, é impossível não imaginarmos o River Plate retomando o caminho das vitórias, dos títulos e do bom futebol após o seu retorno.
Vale ressaltar que Marcelo Gallardo terá duas semanas inteiras para treinar o River Plate, a julgar que os dois próximos compromissos do time ocorrerão apenas aos finais de semana. Em seguida, os Millonarios terão o Talleres pela frente o jogo de ida das oitavas-de-final da Copa Libertadores, lembrando que se eles avançarem de fase enfrentarão o vencedor do confronto envolvendo as equipes de Colo-Colo e Junior Barranquilla.
Já na Liga Argentina, o River Plate ocupa a 9ª colocação na tabela com 13 pontos, separado a cinco do atual líder Huracán. Entretanto, como foram realizadas somente 8 rodadas até o momento na competição, é inegável que as chances da conquista do bi argentino aumentarão com a chegada de Marcelo Gallardo.
Em outras palavras, apenas o impacto inicial do típico exemplo de que “o bom filho a casa torna”, já sinaliza que tudo mudou pra melhor no River Plate antes mesmo da reestreia de Marcelo Gallardo.