O gol de Mikel Merino no último minuto do segundo tempo da prorrogação prorrogação, determinou a queda da Alemanha diante da campeã da Euro 2024, Espanha, nas quartas-de-final do torneio marcado por ser o primeiro sediado pelos alemães desde a unificação do país.
Cabisbaixos ou aos prantos, os comandados de Julian Nagelsmann se despediram na manhã seguinte em Herzogenaurach (base da seleção alemã), pois apesar do tom pra lá de dramático da eliminação, o vínculo estabelecido entre jogadores, comissão técnica e torcida foi tão grande que nenhum deles estava pronto para um precoce adeus.
No entanto, passados dois meses todos se reencontraram novamente, desta vez em uma Merkur Spiel-Arena tomada por 50 mil torcedores para acompanhar a estreia da renovada Alemanha na Liga das Nações da UEFA contra a Hungria, lembrando que tratava-se do primeiro jogo dos tetracampeões alemães sem os aposentados da seleção Manuel Neuer, Thomas Muller e Ilkay Gundogan, além de Toni Kroos, que pendurou as chuteiras após a Euro 2024.
Pois é, e sob o tocar da música Major Tom, de Peter Schilling — considerado o hino da Mannschaft na Euro 2024 —, os tetracampeões mundiais atropelaram a Hungria por 5 a 0 em Dusseldorf, com gols de Niclas Fullkrug, Jamal Musiala, Florian Wirtz, Kai Havertz e Aleksandar Pavlovic. Sim, a magia vivida entre os meses de junho e julho renascia aos alemães.
Obviamente, ainda que a Alemanha tenha caído bastante de rendimento desde a conquista da Copa do Mundo de 2014, dada as eliminações na fase de grupos dos dois Mundiais seguintes, é inegável que o atual ciclo de renovação da Mannschaft demandará tempo e, é claro, não será fácil, a julgar pela relevância e qualidade dos últimos remanescentes do tetra, juntamente com Ilkay Gundogan.
Em todo o caso, era a ausência de Toni Kroos que mais preocupava os torcedores alemães, tento em vista que há anos Marc-André ter Stegen se apresenta preparado para substituir Manuel Neuer, ao passo que Joshua Kimmich e Kai Havertz podem preencher as lacunas deixadas por Ilkay Gundogan e Thomas Muller, respectivamente.
Contudo, este definitivamente não é o caso de Toni Kroos, vide as enormes dificuldades encontradas pela Alemanha no começo de trabalho de Julian Nagelsmann, quando a Mannschaft terminou o ano de 2023 perdendo os amistosos frente Turquia (3 a 2) e Áustria (2 a 1), ambos disputados sem o ex-volante do Real Madrid.
Todavia, o cenário mudou por completo assim que Toni Kroos decidiu retornar à seleção alemã para disputar a Eurocopa, haja vista a sequência de seis vitórias e dois empates nos oito jogos realizados até a derrota para a Espanha, em Stuttgart. Não à toa, Kroos foi um dos principais destaques da Euro 2024, registrando inclusive uma elevada média de 102,8 passes por partida, sendo a maior dentre todos os demais atletas na competição.
Posicionado entre as linhas da defesa e do meio-campo, o veterano de 34 anos de idade desenvolvia um papel fundamental na saída de bola, iniciando a construção das jogadas através de passes certeiros a curta e longa distâncias, dando maior dinâmica e movimentação ao selecionado alemão. Deste modo, fica evidente porque o principal desafio de Julian Nagelsmann era encontrar o sucessor de Toni Kroos, ou na pior das hipóteses mudar por completo o sistema de jogo da equipe.
Em sua temporada de despedida, Toni Kroos assinalou uma média de precisão de passes de 94,8% pelo Real Madrid, liderando este quesito entre os jogadores das cinco principais ligas europeias.
Logo, ainda que com características distintas em relação a Toni Kroos, Pascal Gross foi o nome escolhido por Julian Nagelsmann para substituí-lo no meio-campo alemão. E o contundente triunfo por 5 a 0 sobre a Hungria é a confirmação de que a estratégia funcionou, embora o volante do Borussia Dortmund, posicionado exatamente entre os zagueiros Jonathan Tah e Nico Schlotterbeck na fase ofensiva, dividiu a função de iniciar a saída de bola com o novo parceiro Robert Andrich.
Vale ressaltar que a ousadia de Pascal Gross não é tão grande quanto a do talentoso detentor de seis taças da Champions League, mas com seus passes curtos e assertivos ele foi capaz de manter o alto ritmo e intensidade da seleção alemã, ajustados também por conta da fluidez de Kai Havertz, a verdadeira peça-chave do meio-campo da Mannschaft, o que explica o quão decisivo o jogador do Arsenal foi na edição anterior da Premier League ao marcar 13 gols e conceder o total de sete assistências.
Ao atuar centralizado e mais recuado, Kai Havertz passou a receber a bola com o campo aberto para criar as jogadas, enquanto Florian Wirtz e Jamal Musiala lhe serviam como opções em meio as subidas dos laterais Joshua Kimmich e David Raum, além de Niclas Fullkrug, que fazia as vezes de pivô no ataque. Consequentemente, o que se viu foi a melhor exibição ofensiva da Alemanha em muitos anos com seis jogadores atacando e dando profundidade ao time.
Portanto, com a aura junto a torcida absolutamente restabelecida, e o sucesso no processo de transição através de um futebol ofensivo, impositivo e dinâmico, a Alemanha se mostra cada vez mais forte para brigar pelo penta em 2026.