Eliminado diante da França nas quartas-de-final da Euro 2024, Portugal iniciou a sua caminhada na nova edição da Liga das Nações da UEFA com triunfos sobre croatas e escoceses em Lisboa, curiosamente, ambas por 2 a 1 e tendo Cristiano Ronaldo como grande protagonista.
Pois é, foi o rosto do veterano atacante de 39 anos de idade que estampou as capas dos jornais portugueses um dia depois que a possível estreia do novato Geovany Quenda tomou conta do noticiário esportivo, afinal, o gol de número 900 na carreira de Cristiano Ronaldo, marcado contra a Croácia, somado ao tento da vitória de virada frente a Escócia, deixaram claro a enorme importância do maior jogador da história do país até os dias atuais.
Por sinal, o fato de Cristiano Ronaldo não ter balançado as redes em nenhum dos cinco jogos — ou 485 minutos — disputados na Euro 2024, levantou uma série de questionamentos em relação a sua permanência na seleção lusitana, uma vez que as principais críticas destinadas ao camisa 7 davam conta de que ele mais atrapalhava do que contribuía em campo, é claro, por questões de ordem física.
Consequentemente, a pressão sobre o novo treinador Roberto Martínez também aumentou, sobretudo depois que o zagueiro Pepe anunciou a aposentadoria da seleção, isso porque muitos entendiam que Cristiano Ronaldo deveria seguir os mesmos passos. Entretanto, a realidade foi que o maior artilheiro da história do futebol por seleções recebeu novamente a braçadeira de capitão de Portugal nas duas rodadas iniciais da nova edição da Liga das Nações da UEFA.
Dos 901 gols marcados por Cristiano Ronaldo ao longo da carreira, 132 foram por Portugal. Não à toa, o camisa 7 é o maior goleador de todos os tempos por uma seleção.
Logo, o novo ciclo dos pupilos de Roberto Martínez no período pós-Eurocopa também marcou a continuidade de Cristiano Ronaldo na Seleção das Quinas. Aliás, uma condição que contradiz o técnico espanhol que, ainda na primeira Dafa Fifa do ano — em março —, afirmou que Portugal passaria por uma renovação após a Euro 2024, algo que, definitivamente, não aconteceu, a julgar que os únicos jogadores da última lista não presentes no torneio, como são os casos de Rui Silva, Tiago Santos, Renato Veiga, Geovany Quenda, Pedro Gonçalves e Francisco Trincão, ficaram todos no banco de reservas.
Em todo o caso, o conservadorismo de Roberto Martínez retrata que os resultados são mais importantes no momento, até porque eles que trarão maior confiança e estabilidade para a seleção portuguesa. Dentre todas as novas alternativas no plantel lusitano, era realmente esperado que Rui Silva, Renato Veiga e Pedro Gonçalves não fossem utilizados, porém a primeira reaparição de Francisco Trincão, bem como as estreias de Tiago Santos e Geovany Quenda eram aguardadas em algum instante dos embates contra Croácia e Escócia.
No entanto, como as duas vitórias foram apertadas com a vantagem mínima — apesar do alto volume ofensivo de Portugal —, Roberto Martínez preferiu não correr nenhum tipo de risco, inclusive, mantendo Nelson Semedo na lateral-direita no último jogo frente os escoceses, em que sofreu um gol logo no início da partida, aos 7 minutos do primeiro tempo.
Portanto, mesmo com a necessidade de virar o placar e tendo Tiago Santos como opção no banco de reservas, ou seja, uma peça mais ofensiva e aguda, que daria maior profundidade pelo lado direito juntamente com Pedro Neto, Roberto Martínez preferiu manter o lateral do Wolverhampton em campo até os 15 minutos finais do jogo, quando promoveu a entrada de Diogo Dalot em seu lugar.
A vitória sobre a Croácia foi a primeira de Portugal contra um adversário situado entre os 20 melhores colocados no ranking da Fifa sob o comando de Roberto Martínez.
À vista disso, a tão desejada estreia de Geovany Quenda, que o transformaria no atleta mais jovem a defender as cores de Portugal, acabou resultando nas melhores atuações de Cristiano Ronaldo pela seleção nos últimos anos, especialmente em virtude da sua dedicação, pois a impressão era a de que ele estava disputando um jogo decisivo de Eurocopa ou Copa do Mundo, isto é, jogando em uma frequência oposta em comparação aos demais companheiros.
Além dos dois gols marcados — sendo o segundo deles após entrar no segundo tempo da partida ante a Escócia —, é importante destacar o excelente jogo de Cristiano Ronaldo tanto na fase defensiva de Portugal, ao pressionar a saída de bola e recompor a marcação, quanto na parte ofensiva, ao preencher espaços e sempre servir como opção para tabelas ou concluir jogadas. Em resumo, coletivamente o craque português superou todas as expectativas.
Diante deste cenário, por mais que nenhuma mudança tática ou no modelo de jogo tenha ocorrido, e ainda que um novo nome não tenha aparecido em campo, já é possível constatar algumas preferências de Roberto Martínez, como por exemplo, a inclinação por Renato Veiga como zagueiro canhoto no elenco — também pela versatilidade do atleta que atua como lateral-esquerdo e volante —, ao invés de utilizar Toti Gomes, titular absoluto do Wolverhampton e chamado com certa constância até então pela seleção.
Ademais, soma-se a isso o fato das não convocações de figuras como Bruma, Jota Silva, Dany Mota e, principalmente, Ricardo Horta, que foi cortado da lista final dos 26 jogadores que disputaram a Euro 2024. Na ocasião, o próprio Roberto Martínez acabou lamentando a saída do ponta-esquerda do Braga, deixando claro que ainda contava com ele no futuro. Todavia, embora por vezes uma vaga em seleções simbolize o momento de cada jogador, Horta começou bem a nova temporada pelo clube do Minho, assim como terminou a anterior na qual teve ótimo desempenho em torneios continentais.
De qualquer maneira, o começo da jornada dos portugueses rumo à Copa do Mundo de 2026 serviu, ao menos momentaneamente, para afastar todas as dúvidas sobre a aposentadoria internacional de Cristiano Ronaldo.