A pífia participação dos Estados Unidos na última edição da Copa América, sediada pelo próprio país e marcada por sua eliminação na fase de grupos — com direito a reveses frente Panamá e Uruguai —, ao menos serviu para determinar a demissão do técnico Gregg Berhalter.
E passados exatos 71 dias desde a queda na Copa América, período em que inclui a derrota ante o Canadá (2 a 1) e o empate com a Nova Zelândia (1 a 1), os Yankees, enfim, confirmaram Mauricio Pochettino como novo treinador da seleção, uma notícia que já vinha sendo vinculada desde agosto, mas que ainda não estava concretizada em função do imbróglio que envolveu a saída de Pochettino do Chelsea.
Vale ressaltar que o acordo entre Mauricio Pochettino e os Estados Unidos foi idealizado pelo diretor de futebol da seleção, Matt Crocker, que trabalhou com Pochettino no Southampton há dez anos. Todavia, o vínculo do treinador argentino junto ao Chelsea era válido até julho de 2025, e além do altíssimo salário, a multa rescisória prevista no contrato deixaria de ser paga caso ele arrumasse um novo emprego. Consequentemente, a negociação se arrastou por longas semanas, até porque os Blues priorizavam a janela de transferências.
Apesar de acumular passagens por clubes da Premier League, Ligue 1 e LaLiga, Mauricio Pochettino jamais trabalhou em seleções, o que significa que trata-se algo novo e desconhecido na carreira do treinador de 52 anos de idade, que desembarca em baixa nos Estados Unidos após comandar o Chelsea na temporada passada.
Embora sexto colocado na Premier League, era esperado um desempenho melhor do time que gastou quase meio bilhão de euros em reforços. Logo, por mais que Mauricio Pochettino ressalte tanto o projeto quanto o caminho trilhado pelos norte-americanos, a realidade é que a escassez de propostas de grandes clubes europeus acabaram resultando na sua ida aos Estados Unidos, afinal, estamos nos referindo a um treinador caro e de classe mundial, cuja intenção era se manter no mais alto nível.
Ainda assim, é importante destacar que o nome de Mauricio Pochettino agitou o mercado na última janela de transferências, a julgar pelos interesses de Newcastle, Manchester United e, posteriormente, da seleção inglesa devido a saída de Gareth Southgate ao término da Euro 2024. Em contrapartida, os rumores sobre a possível ida aos Estados Unidos ganharam maiores proporções depois que Jurgen Klopp recusou o convite dos Yankees.
De qualquer maneira, é óbvio que diversos fatores motivaram Mauricio Pochettino a aceitar o desafio de comandar os Estados Unidos justamente neste momento da carreira, dentre os principais, a desilusão junto ao cenário de clubes da Europa em que os treinadores são cada vez mais descartáveis, além da possibilidade de maximizar o futebol da talentosa geração norte-americana que ainda não correspondeu às expectativas.
A propósito, sobra potencial aos Estados Unidos com os jovens Sergiño Dest, Yunus Musah, Tyler Adams, Weston McKennie, Malik Tillman, Giovanni Reina, Timothy Weah, Folarin Balogun, além do craque da seleção, Christian Pulisic. Ou seja, todos jogadores com idade igual ou inferior a 25 anos, e que defendem grandes equipes do futebol europeu. Em compensação, a falta de profundidade do plantel será o maior obstáculo de Mauricio Pochettino.
Deste modo, as expectativas em torno dos Estados Unidos serão ainda maiores, dada a enorme capacidade de Mauricio Pochettino no que diz respeito ao desenvolvimento de jovens promissores, herdada desde a sua formação como treinador sob a orientação de Marcelo Bielsa. Inclusive, por saber o quão complicado é moldar atletas veteranos ou renomados no mundo da bola, Pochettino prefere trabalhar com os mais novatos, o que explica o sucesso alcançado nas cinco temporadas à frente do Tottenham.
Depois de passagens por Espanyol, Southampton, Tottenham, PSG e Chelsea, Mauricio Pochettino realizará o sexto trabalho na carreira ao dirigir os Estados Unidos.
Ademais, Mauricio Pochettino nunca negou o desprazer de trabalhar no Paris Saint-Germain, especialmente por conta das dificuldades em gerir o estrelado vestiário do Parque dos Príncipes. Na ocasião, o maior problema do ex-técnico do Chelsea foi convencer Kylian Mbappé, Neymar e Lionel Messi a contribuírem na fase defensiva do time ao recompor a marcação.
Sob este aspecto, o comandante argentino certamente não encontrará entraves nos Estados Unidos, tendo em vista que o maior nome da seleção, Christian Pulisic, não tem perfil individualista. Portanto, será tranquilo para Mauricio Pochettino implementar a sua filosofia de jogo baseada tanto na pressão com as linhas altas, quanto na posse de bola, isto é, características que se encaixam ao atual elenco dos Yankees.
De acordo com o seu rico histórico, Mauricio Pochettino é o treinador mais bem-sucedido contratado pelos Estados Unidos desde Jurgen Klinsmann, que dirigiu a seleção entre 2011 e 2016, depois de passagens por Alemanha e Bayern de Munique. Isto posto, é inegável que todo este prestígio, aliado a inusitada possibilidade de disputar uma Copa do Mundo à beira de campo, também são elementos que estimularam Pochettino nesta inédita trajetória.
Aliás, paralelos envolvendo as contratações de Jurgen Klinsmann e Mauricio Pochettino podem ser traçados na atualidade, pois ambos chegaram aos Estados Unidos repleto de expectativas após sucederem Bob Bradley e Gregg Berhalter, respectivamente. Em outras palavras, treinadores norte-americanos que realizaram bons trabalhos mas estagnaram em meio ao desgaste oriundo de mais de 70 jogos no cargo.
Diante deste cenário, a chegada de Mauricio Pochettino renovou completamente as esperanças do país que será uma das co-sedes da próxima Copa do Mundo, daqui a dois anos.