A chegada de Dorival Júnior ainda não surtiu efeito na Seleção Brasileira

Embora composta por míseros seis jogos, a passagem relâmpago de Fernando Diniz pela Seleção Brasileira deixou diversas marcas negativas, como por exemplo: a primeira derrota sofrida pelo Brasil frente o Uruguai em 22 anos; o inédito revés diante da Colômbia em Eliminatórias; a pior campanha em todos os tempos no torneio após seis rodadas; e o fim da invencibilidade de 58 jogos como mandante na competição.

Consequentemente, 2023 acabou sendo o pior ano da Seleção Brasileira ao longo da história, e Fernando Diniz — o “tampão” da CBF até a ilusória chegada de Carlo Ancelotti — conseguiu a façanha de ser demitido registrando mais derrotas do que vitórias em sua curta trajetória de seis meses e 38% de aproveitamento à frente do Brasil (3D – 2V – 1E), dando lugar ao sucessor Dorival Júnior.

Contudo, depois de uma ótima estreia contra a Inglaterra, que terminou com o triunfo pelo placar mínimo em pleno estádio de Wembley, e um empolgante empate em 3 a 3 ante os atuais campeões europeus, os comandados de Dorival Júnior não apenas foram eliminados pelo Uruguai nas quartas-de-final da Copa América 2024, como tiveram uma performance bastante aquém das expectativas nos gramados norte-americanos, onde venceram somente o Paraguai (4 a 1) em quatro partidas disputadas.

Posteriormente, a vitória por 1 a 0 sobre o Equador, e a derrota para o Paraguai pelo mesmo placar nos primeiros compromissos pós-Copa América, ambos válidos pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026, só aumentaram a pressão em torno da Seleção Brasileira, e sob o técnico Dorival Júnior, que teve um mês disponível para trabalhar durante a disputa do torneio continental e nada fez. Portanto, a desculpa que lhe falta tempo realmente não cola. Aliás, essa justificativa serviria ao treinador que venceu o Brasil apenas no segundo jogo no comando da Albirroja, Gustavo Alfaro.

Em todo o caso, para derrotar o Brasil o novo comandante da seleção paraguaia não precisou fazer nada de especial ao simplesmente armá-la com os blocos baixos, tendo uma forte linha de quatro homens na defesa com o zagueiro Junior Alonso atuando na lateral-esquerda, além de dois volantes marcadores ao lado do articulador Julio Enciso no meio. Enquanto isso, Isidro Pitta brigava sozinho isolado no ataque.

Ademais, é importante destacar que no decorrer das partidas contra Equador e Paraguai, a Seleção Brasileira finalizou somente seis vezes na direção certa do gol adversário, e teve uma única grande chance de balançar as redes, isto é, justamente na oportunidade convertida por Rodrygo no estádio Couto Pereira. Ou seja, muito pouco em se tratando da seleção pentacampeã mundial.

À vista disso, Neymar voltou a ser lembrado pelos torcedores, afinal, apesar do pesado histórico de lesões, além dos 32 anos de idade, o atacante do Al-Hilal ainda é o grande craque brasileiro capaz de desequilibrar uma partida. Ao mesmo tempo, é necessário salientar que o camisa 10 foi alvo de duras críticas depois das quedas do Brasil nas últimas duas Copas do Mundo.

Deste modo, é fundamental saber separar a antiga ideia de que o jogador que não está jogando é sempre a melhor opção para aquele time que não funciona, pois é inegável que qualidade não falta na seleção constituída por diversas figuras da Premier League e da LaLiga, dentre as quais se destacam os atacantes do Real Madrid, Rodrygo e Vinícius Júnior.

Logo, fica evidente que o coletivo da Seleção Brasileira não está sendo capaz de potencializar o individual dos atletas, vide o exemplo dos próprios Rodrygo e Vinícius Júnior, que não lembram nem de longe a poderosa dupla campeã europeia do Real Madrid. E o mesmo se passa com todas as demais peças, a julgar que Bruno Guimarães não é o mesmo do Newcastle, tampouco Lucas Paquetá é aquele grande nome do West Ham.

Isto posto, a realidade é que Dorival Júnior se mostra cada vez menos capacitado para dirigir a Seleção Brasileira, algo que já havia ficado visível nos momentos que antecederam as cobranças de pênaltis contra o Uruguai nas quartas-de-final da Copa América, em que o grupo fechou um círculo deixando o ex-treinador do São Paulo não apenas de fora, como também sem mencionar nenhuma palavra. Quer dizer, ali quem dita as regras são os jogadores.

Diante deste cenário, a impressão é que o tempo de Dorival Júnior segue se esgotando em ritmo acelerado, acima de tudo porque a CBF não oferece garantia nenhuma aos treinadores, haja vista a rápida demissão de Fernando Diniz. Pois é, e se levarmos em conta que, juntos, os últimos dois campeões da Copa Libertadores só perderam duas partidas a menos em relação a Tite, cujo currículo inclui o montante de 81 jogos pela Seleção Brasileira, a situação, definitivamente, não é nada confortável para o atual técnico.

Em contrapartida, se olharmos pra essa conturbada fase com um olhar otimista, tendo em mente que três técnicos comandaram o Brasil ao longo do ciclo rumo ao pentacampeonato em 2022, chegamos a conclusão de que o planejamento não está sob risco, até porque o processo tão bem liderado por Tite na edição anterior das Eliminatórias resultou em uma desclassificação nas quartas-de-final do Mundial do Catar.

Além disso, o elevado aumento do número de participantes na próxima Copa do Mundo com seis das dez seleções sul-americanas garantindo uma vaga direta, ao passo que o sétimo colocado ainda disputa a repescagem, sinaliza que as chances do Brasil não se qualificar ao Mundial da América do Norte são praticamente nulas, dado o baixíssimo nível técnico de Peru, Chile e Bolívia.

De qualquer maneira, o inexistente futebol continua distanciando a Seleção Brasileira da desinteressada torcida e, o pior, apontando um futuro sem perspectivas, seja com Neymar em campo, seja sem Dorival Júnior fora das quatro linhas.

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