A alusão feita pela Roma ao apresentar Gian Piero Gasperini citando os históricos Gianicolo, Altare della Patria, San Pietro e Pantheon, que juntos formam a palavra GASP, retrata o quão significativa é a chegada do sucessor de Claudio Ranieri ao comando técnico dos Giallorossi no mês seguinte ao conclave do Papa Leão XIV.
E não deveria ser diferente depois da marcante trajetória de nove temporadas de Gian Piero Gasperini pela Atalanta, considerada um verdadeiro divisor de águas na história do clube que deixou de brigar contra o rebaixamento para se colocar entre as principais forças do futebol italiano, a julgar pelas seis campanhas de G-4 dos bergamascos na Serie A, além das quatro participações na Champions League, e do inédito título da Europa League no ano passado.
Logo, a vinda de um treinador que foi capaz de revolucionar a Atalanta a ponto de mudar o seu status, renovou as expectativas dos torcedores romanistas após os recentes baques sofridos com as saídas de José Mourinho, Daniele De Rossi e Claudio Ranieri, que rejeitou a proposta para assumir a seleção da Itália para seguir trabalhando na Roma, mas exercendo a função de conselheiro dos irmãos Friedkin em questões esportivas.
Aliás, somente a contratação de um treinador do tamanho de Gian Piero Gasperini seria suficiente para amenizar o impacto causado pelo adeus de Claudio Ranieri depois do excelente trabalho realizado pelo experiente treinador de 73 anos de idade em sua terceira passagem pela Roma, no qual ele desembarcou na capital italiana com os Giallorossi separados a cinco pontos da zona da degola ocupando a 12ª posição da Serie A após 12 rodadas, e terminou a temporada na 5ª colocação a apenas um do G-4.
Em 36 jogos à frente da Roma na última temporada, Claudio Ranieri colecionou 22 vitórias, 7 empates e sete derrotas, registrando 67,5% de aproveitamento através desta performance.
Vale ressaltar ainda, que a Roma teve o melhor desempenho da Serie A desde a estreia de Claudio Ranieri na 13ª rodada, isso porque os Giallorossi contabilizaram os mesmos 56 pontos do campeão Napoli, e da vice Inter de Milão, neste período, o que se subentende que eles lutariam diretamente pelo scudetto se o técnico, então aposentado, estivesse no clube ao longo de toda a temporada.
Todavia, o pífio início de temporada da Roma foi consequência das equivocadas decisões tomadas pela diretoria, inicialmente, ao apostar no inexperiente Daniele De Rossi, contratado no ano anterior como uma espécie de escudo contra as duríssimas críticas oriundas da demissão de José Mourinho devido a sua idolatria, e em seguida ao trazer Ivan Juric para substituí-lo. Não à toa, a passagem do treinador croata por Trigoria durou míseros 53 dias ou 12 jogos.
E ainda considerando os 126 milhões de euros investidos pela Roma, o terceiro clube italiano que mais investiu na temporada somente atrás de Juventus e Napoli, era realmente esperado que os Giallorossi figurassem entre os favoritos na corrida pelo scudetto se os erros referentes às escolhas dos técnicos não tivessem ocorrido, um detalhe que se tornou nítido sob a liderança de Claudio Ranieri.
???? Assim ficou a tabela de classificação da #SerieA???? após 38 rodadas ???? pic.twitter.com/2PHMPoxHE4
— Lega Serie A (@SerieA_BR) June 2, 2024
Seja como for, a realidade é que a contratação de Gian Piero Gasperini é um tremendo acerto por parte da Roma, ainda que o perfil do ex-técnico da Atalanta seja completamente distinto em comparação ao de Claudio Ranieri, a começar pela personalidade, pois ao contrário do antecessor ele não costuma medir palavras para dizer o que pensa, e tampouco respirar fundo antes de tomar qualquer atitude.
Por sinal, exemplos não faltam para justificar essa tese, que o diga Ademola Lookman, apontado por Gian Piero Gasperini como um piores cobradores de pênaltis que ele já viu após a eliminação da Atalanta diante do Club Brugge nos playoffs de repescagem da Champions League. Soma-se a isso, as constantes afirmações de que Federico Chiesa simulava muitas faltas quando ainda jogava pela Fiorentina, ou a feroz discussão pública que resultou na saída de Alejandro ‘Papu’ Gómez do clube de Bérgamo no fim de 2020.
Ademais, dentro das quatro linhas também veremos uma Roma renovada, uma vez que Gian Piero Gasperini é adepto a uma formação com três zagueiros, como é o caso do 3-4-2-1, com variações ao 3-4-1-2, cujo modelo de jogo é baseado na posse de bola ultra ofensiva, que depende da versatilidade tanto dos meio-campistas quanto dos homens da linha de frente, além do sistema de marcação individual.
Il primo giorno a Trigoria di Gian Piero Gasperini ????#ASRoma pic.twitter.com/N6b48s1qbc
— AS Roma (@OfficialASRoma) June 6, 2025
Contudo, é importante salientar que a participação da Roma não deve ser agressiva no mercado em função dos elevados gastos das últimos anos que a impossibilitam de fazer grandes movimentações para não infringir as regras do Fair Play Financeiro, o que evidencia que o elenco será basicamente o mesmo da temporada anterior, porém com a saída de algumas peças que não se enquadram no estilo de jogo de Gian Piero Gasperini, como são os casos de Leandro Paredes e Lorenzo Pellegrini, e a adição de quatro reforços compostos por um lateral-direito, um zagueiro, um meio-campista e um atacante.
No entanto, uma condição que não incomoda Gian Piero Gasperini, que embora diante deste cenário descartou a hipótese de comandar a Juventus, clube pelo qual iniciou a carreira como atleta e trabalhou como treinador nas categorias de base, para assinar com a Roma, a fim de construir um novo legado na capital italiana, isto é, fora do eixo Turim/Milão, buscando colocá-la nos holofotes do futebol mundial da mesma maneira que Paris na atual temporada.
Tenho plena consciência da situação do Fair Play Financeiro para as próximas duas janelas, mas estamos falando de uma propriedade sólida, que quer investir bem e de forma mais sustentável do que foi feito nos últimos anos. Eles querem a Roma no topo, e isso para mim é o suficiente
Gian Piero Gasperini, treinador da Roma
Deste modo, com contrato válido por três temporadas, Gian Piero Gasperini iniciará na capital um novo trabalho a longo prazo, o que significa que se de um lado os romanistas precisarão ter paciência, do outro o novo comandante da Roma terá de suportar a natural pressão de Trigoria, infinitamente superior em relação à Bérgamo. De qualquer forma, um desafio que ambos estão dispostos a encarar.
Por fim, o objetivo inicial dos Giallorossi é alcançar o G-4 da Serie A, visando o retorno à Champions League. Em outras palavras, algo absolutamente plausível ao time que esteve próximo disso mesmo após uma turbulenta temporada com duas trocas de técnicos, e levando em conta a habilidade de Gian Piero Gasperini em potencializar o futebol dos seus jogadores.
Portanto, com a chegada de Gian Piero Gasperini, Roma volta a sonhar com conquistas dignas dos tempos de César para reinar entre os arcos e as lendas da Cidade Eterna.