Mais uma conquista glorifica a memorável “era Lionel Scaloni” na seleção argentina, que igualou o feito da Espanha entre 2008 e 2012 ao erguer dois canecos continentais separados por uma Copa do Mundo. Aliás, a única diferença é que os sul-americanos venceram a Finalíssima neste similar período.
E diante de tantos títulos é até difícil imaginar que a Argentina passou longos 28 anos sem dar uma volta olímpica, sofrendo com derrotas, fracassos e eliminações, a ponto até do craque Lionel Messi ameaçar deixar a Albiceleste depois da queda frente o Chile na decisão da Copa América Centenário, em 2016.
No entanto, aquele obscuro cenário mudou a partir do instante em que Lionel Scaloni assumiu o comando técnico da conturbada seleção antes dirigida por Jorge Sampaoli no Mundial de 2018. Assim, a escolha que se mostrava pra lá de errada foi a melhor possível, em especial, pela enorme capacidade do ex-treinador das categorias de base em gerir o elenco tomado por ótimos jogadores que não conseguiam render o esperado vestindo a camisa da Argentina.
A propósito, o respeito de Lionel Scaloni junto aos jogadores argentinos é tamanho que figuras como Lautaro Martínez e Ángel Di María, aceitam tranquilamente ficar no banco de reservas em determinadas partidas. Contudo, isso é fruto tanto da implementação de uma mentalidade vencedora quanto da confiança construída pelo jovem treinador de 46 anos de idade no decorrer deste vitorioso ciclo à frente da seleção tricampeã mundial.
Ademais, a Argentina ainda tinha um combustível extra para vencer essa Copa América, isto é: a despedida de Ángel Di María. No auge dos 36 anos de idade, El Fideo (o Macarrão) já havia anunciado que este seria seu último campeonato defendendo as cores da Albiceleste. Por esta razão, o atacante do Benfica foi alvo de diversas homenagens a cada jogo dos argentinos, inclusive ao receber uma camisa comemorativa entregue pelo eterno amigo Lionel Messi.
Ángel Di María é o terceiro atleta com mais jogos pela seleção argentina registrando 145 partidas, estando apenas atrás de Lionel Messi e Javier Mascherano, com 187 e 147, respectivamente.
Consequentemente, mesmo quando os pupilos de Lionel Scaloni não convencem em campo, como ocorreu na disputa da Copa América 2024, eles são capazes de ganhar por intermédio da entrega e da união, até porque jogar bem não é sinônimo de vitória no futebol. Não à toa, a Argentina regressou dos Estados Unidos com o 16º título continental na bagagem, e sem ter balançado as redes mais que duas vezes em nenhuma das seis partidas realizadas.
Além disso, se o futebol fosse um esporte justo é inegável que a Colômbia deveria ter sido vencido a Copa América, pois foi a seleção que praticou o melhor futebol desde o início até o fim da competição, inspirada pelo talento de James Rodríguez que, literalmente, renasceu nos gramados norte-americanos sob o comando do argentino, Néstor Lorenzo.
Em contrapartida, ainda falta na Colômbia essa forte conexão quase que familiar da Argentina, virtude que só será adquirida através do tempo, a julgar que Lionel Scaloni começou a desenvolver este vitorioso trabalho há quase oito anos, quando, com sabedoria, usou as lideranças de Nicolás Otamendi, Lionel Messi e Ángel Di María em prol da seleção que tornou-se uma verdadeira multi-campeã.
Venceram as 2 últimas edições da Copa America e o Mundial 2022:
— Playmaker (@playmaker_PT) July 15, 2024
➡ E. Martinez
➡ Armani
➡ Tagliafico
➡ Montiel
➡ Pezzella
➡ Romero
➡ Otamendi
➡ Lisandro M.
➡ Molina
➡ Paredes
➡ Acuña
➡ Palacios
➡ Guido Rodriguez
➡ Alvarez
➡ De Paul
➡ Messi
➡ Di Maria
➡ Lautaro pic.twitter.com/AKM3y165m5
Deste modo, a Argentina mais uma vez superou todas adversidades de uma decisão, primeiramente, ao lidar com a perda de Lionel Messi, aos 21 minutos do segundo tempo, devido a uma lesão no tornozelo. Por sinal, as lágrimas do camisa 10 simbolizam o quão gigantesca é a paixão do plantel argentino pela Albiceleste, afinal, qual seria a diferença para o craque que venceu o 45º título da carreira em não participar do último terço da final da Copa América?
Pois é, embora sem a sua maior referência e diante de um oponente que não perdia há exatos 28 compromissos, a Argentina não apenas intensificou a sua luta em campo, como achou forças para marcar o gol do bicampeonato da Copa América aos 7 minutos da segunda etapa da prorrogação, também por méritos de Lionel Scaloni, que só promoveu a entrada do autor do tento do título e artilheiro do torneio, Lautaro Martínez, no tempo extra da decisão.
A Argentina sofreu somente um gol na Copa América 2014. No geral, os atuais campeões mundiais não foram vazados em cinco das seis partidas disputadas.
De qualquer maneira, a realidade é que, indiretamente, Lionel Scaloni já administra um novo processo de transição dentro da Argentina, vide a trajetória de Lionel Messi na Copa América, pois além do astro argentino ter deixado o campo machucado na final em Miami, ele já vinha jogando no sacrifício desde a vitória pelo placar mínimo frente o Chile pela 2ª rodada da fase de grupos, por conta de um problema na virilha.
Logo, até pela idade a tendência é que Lionel Messi – já vivendo um processo de decadência na carreira – contribua e participe cada vez menos dos jogos da Argentina que, por outro lado, segue com uma fortíssima base visando a Copa do Mundo de 2026, formada por Emiliano Martínez, Cristian Romero, Lisandro Martínez, Alexis Mac Allister, Rodrigo De Paul, além dos novatos Enzo Fernández, Alejandro Garnacho e Julian Álvarez.
Portanto, fica claro e evidente porque a seleção mais vitoriosa do mundo da bola na atualidade retornará à América do Norte daqui a dois anos tendo enormes chances de dar outra volta olímpica.