O caminho rumo ao título inglês está pavimentado, basta o Liverpool segui-lo

O gol nos acréscimos do zagueiro James Tarkowski, que determinou o empate do Everton no Merseyside Derby, já havia deixado a nítida sensação de que o Liverpool vem travando uma dura batalha contra si mesmo na caminhada rumo ao título inglês.

Isto posto, a realidade é que essa impressão apenas se confirmou depois da vitória dos Reds por 2 a 1 sobre o Wolverhampton na rodada passada da Premier League. A começar pelo enorme clima de tensão que tomou conta de Anfield, a ponto de imaginarmos que tratava-se de uma partida decisiva no final da temporada em maio, e não propriamente um jogo válido pela 25ª rodada do campeonato em meados de fevereiro.

Mas qual seria o real motivo para isso? Certamente, essa angústia por parte dos torcedores do Liverpool deve-se ao fato de que a mais recente conquista da Premier League ocorreu na pandêmica temporada 2019-20. Na ocasião, o time comandado por Jurgen Klopp tirou o clube da longa fila de 30 anos ao se sagrar campeão inglês com sete rodadas de antecedência, porém sem a presença da torcida nos jogos em virtude da Covid-19.

Como resultado, essa pressão acaba passando aos jogadores do Liverpool, que mesmo em meio aos sete pontos de distância na liderança da Premier League, e após abrirem uma confortável vantagem de 2 a 0 ante o Wolverhampton no primeiro tempo com gols de Luis Díaz e Mohamed Salah, sofreram demasiadamente no segundo tempo ao flertarem com um novo empate que se aproximou através de cirscunstâncias pra lá de parecidas com aquelas do Merseyside Derby.

Inclusive, foi interessante perceber os ruídos de insatisfação proferidos diretamente da ‘Kop’, setor ocupado pelos ultras do Liverpool, bem como muitos torcedores começando a deixar o estádio a partir do minuto 85′ como se estivessem presenciando uma derrota em Anfield. Aliás, um fenômeno também condicionado pelo multi-campeão Manchester City, que dominou a Premier League nos últimos anos vencendo e convencendo.

E sentindo tudo à beira do campo, Arne Slot disse na entrevista pós-jogo que o natural não será o Liverpool ganhar os jogos com tranquilidade como aconteceu, por exemplo, na goleada por 4 a 0 sobre o Tottenham pelas semifinais da Copa da Liga, em que os londrinos não finalizaram uma única vez na meta dos Reds. De acordo com o ex-treinador do Feyenoord o normal será os oponentes atuarem com a intenção de atropelar o líder e time a ser batido no momento na Premier League.

Deste modo, é fundamental o equilíbrio mental por parte do Liverpool, algo que vem assolando até mesmo os atletas mais experientes como é o caso de Andy Robertson, um dos remanescentes da conquista da Premier League em 2020, que perdeu a bola o montante de 18 vezes e ganhou apenas dois dos 8 duelos que teve contra o Wolverhampton, lembrando que em determinado instante do jogo o lateral-esquerdo escocês manifestou descontentamento junto às críticas da ‘Kop’ ao cobrar apoio.

No meio-campo, Ryan Gravenberch, Alexis Mac Allister e Dominik Szoboszlai extrapolaram no número de desperdícios da posse de bola ao acumularem, juntos, o total de 28 perdas. Consequentemente, o Wolverhampton passou a articular mais vezes o ataque, seja por intermédio da troca de passes, seja através de contra-ataques, em especial no segundo tempo, vide a gritante queda de rendimento do Liverpool na etapa final da partida.

Liverpool x Wolves1º tempo2º tempo
Gols20
Finalizações100
Finalizações no alvo30
Gols esperados (xG)1.760
Posse de bola53%46%
Passes no campo de ataque151100
Toques na área adversária203
Finalizações recebidas610
Finalizações no próprio alvo13
Gols contra esperados (xG)0.321.02

Portanto, diante dos dados estatísticos destacados na tabela acima fica evidente que o Liverpool perdeu totalmente o controle do jogo e lutou para jogar com a fluidez de jogos anteriores na partida contra o Wolverhampton. Não à toa, os Reds não finalizaram uma única vez no decorrer do segundo tempo, algo que nunca havia acontecido desde que essa métrica passou a ser computada na temporada 2003-04.

Logo, é correto afirmar que o Liverpool não apenas derrotou o Wolverhampton, como também venceu a atmosfera nervosa de Anfield. Sob estes aspectos, fica claro porque os torcedores celebraram a recuperação de bola do zagueiro Jarell Quansah nos acréscimos do jogo como se fosse um gol, enquanto o capitão Virgil van Dijk se ajoelhou depois da partida agradecendo a vitórias aos ceús, ainda que ela tenha sido conquistada sobre um oponente que se encontra separado a somente dois pontos da zona da degola.

Somos todos seres humanos e eu entendo totalmente que a ansiedade ou o nervosismo podem surgir, mas temos que continuar. Precisamos que os fãs estejam na melhor forma de suas vidas e eles precisam que estejamos na melhor forma de nossas vidas também. 

Virgil van Dijk, zagueiro e capitão do Liverpool

Vale ressaltar que os 39 pontos ainda em aberto na Premier League sinalizam que a corrida pelo título inglês está longe do fim. Por outro lado, é inegável que o Liverpool já pavimentou o caminho para conquistá-lo ao término da temporada, sobretudo porque hoje os Reds não têm a concorrência do Manchester City, e o Arsenal segue sofrendo com os problemas referentes as lesões, principalmente envolvendo o setor ofensivo da equipe.

Em todo o caso, para encerrar a Premier League dando a volta olímpica e, de quebra, se isolar como o maior campeão inglês de todos os tempos, o Liverpool precisará do apoio da torcida nos jogos em Anfield, considerando que os pupilos de Arne Slot disputarão sete dos últimos treze compromissos da competição em seus domínios. Por sinal, o penúltimo deles será exatamente o confronto direto contra o Arsenal.

Neste sentido, tanto os torcedores quanto os atletas devem remar para o mesmo lado, em outras palavras, controlar os ânimos e manter a calma para que o aproveitamento do Liverpool em Anfield, representado por 16 vitórias, 2 empates e apenas uma derrota nos 19 jogos realizados como mandante até aqui na temporada, não despenque justamente na fase mais decisiva do ano.

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