O passe de Kylian Mbappé para o tento de Lionel Messi no empate em 1 a 1 contra o Strasbourg, rendeu ao PSG não apenas o título da Ligue 1 com uma rodada de antecedência, como também o isolou no topo da lista dos clubes mais vezes campeões franceses com 11 taças conquistadas, lembrando que nove destes canecos foram erguidos sob a gestão do QSI (Qatar Sports Investments).
A propósito, o primeiro título francês do Paris Saint-Germain na “era QSI” foi conquistado há uma década, mais especificamente na temporada 2012/13, quando o time comandado por Carlo Ancelotti e composto por nomes como Thiago Silva, Thiago Motta, Maxwell, Blaise Matuidi, David Beckham, Nenê, Lucas Moura e Zlatan Ibrahimovic, tirou o clube da longa fila de 19 anos sem vencer a Ligue 1, e deu início a uma verdadeira dinastia parisiense na competição, conforme você pode conferir abaixo:
Clubes | Títulos |
PSG | 11 |
Saint-Étienne | 10 |
Olympique de Marselha | 9 |
Monaco e Nantes | 8 |
Lyon | 7 |
Bordeaux e Reims | 6 |
Aliás, a relevância daquela conquista depois de quase duas décadas era tamanha que milhares de torcedores do PSG se reuniram na famosa Place du Trocadero para festejar. No entanto, o caos causado pelos ultras transformou o desfile dos campeões em uma batalha campal com direito a confrontos contra policiais, feridos, bombas de efeito moral e prisões, quer dizer, um cenário completamente inimaginável nos dias atuais.
Obviamente, os altíssimos investimentos realizados pelo Paris Saint-Germain para montar estrelados plantéis neste período de vacas gordas, fez a equipe desviar o olhar do certame do futebol francês em direção a Champions League que, por sua vez, tornou-se uma obsessão pelos lados do Parque dos Príncipes. Por esta razão, o desempenho do PSG a cada temporada passou a ser avaliado através de sua campanha no torneio continental.
Deste modo, após a precoce queda dos comandados de Christophe Galtier nas oitavas-de-final da Champions League, a temporada 2022/23 acabou entrando no modo piloto automático até a conquista da Ligue 1. Por sinal, esse também é o motivo pelo qual o ex-treinador do Nice deverá deixar o Paris Saint-Germain no ano seguinte a sua chegada ao clube.
Embora nove vezes campeão da Ligue 1 em doze temporadas sob a administração do QSI, os torcedores parisienses seguem insatisfeitos com a política adotada pelos mandatários cataris .
Inclusive, apesar das especulações em torno dos nomes de Marcelo Gallardo e Abel Ferreira, é praticamente certo que o sucessor de Christophe Galtier no PSG seja José Mourinho, porém este fato ainda foi não consumado em função do decisivo jogo entre Roma x Sevilla, válido pela final da Europa League, na tarde de quarta-feira (31).
Mas além de Christophe Galtier, outras saídas são esperadas no Paris Saint-Germain neste meio de ano, incluindo a de Neymar que, assim, se juntaria ao amigo Lionel Messi. Todavia, o único obstáculo do PSG está sendo encontrar um possível comprador, já que nenhum outro clube se mostra disposto a contratá-lo, ao contrário do craque argentino que buscará um novo destino após o encerramento do seu vínculo contratual no final da temporada.
Portanto, chegou ao fim o ciclo do trio Neymar, Messi e Mbappé no PSG, o que só é lamentado pelo treinador Christophe Galtier, a julgar pelos recentes protestos dos torcedores parisienses junto aos atletas sul-americanos.
Com Copa do Mundo, contusões, cansaço e, principalmente, com a grave lesão do Neymar, não conseguimos aproveitar nosso trio de ataque ao longo da temporada. Mas quando todos estavam à disposição, eles se apresentaram muito bem e tivemos um poderio ofensivo impressionante. O arrependimento foi não tê-los nas partidas decisivas.”
Christophe Galtier, treinador do PSG
De qualquer forma, a realidade é que o Paris Saint-Germain vem dando passos para trás desde o vice-título da Champions League em 2020, em especial devido as constantes trocas de treinadores e diretores de futebol.
Se pegarmos como parâmetro o Manchester City, outro clube gerido por um governo estatal, os erros cometidos pelo Paris Saint-Germain se tornam ainda mais gritantes. Para se ter uma ideia, os Citizens, com o mesmo treinador nos últimos sete anos, foram no mínimo semifinalistas das três edições anteriores da Champions League, venceram cinco títulos da Premier League, e estão em vias de faturar a tríplice coroa nesta temporada, enquanto os parisienses tiveram o montante de quatro técnicos – caminhando para contratar o quinto -, acumulam diversas eliminações nas fases de oitavas e quartas-de-final do torneio europeu, e levantaram seis taças da Ligue 1 neste período.
Ainda assim, o embate envolvendo os dois grandes protagonistas da Copa do Mundo de 2022, Lionel Messi e Kylian Mbappé, na final do Mundial, demonstra que o Catar vem se esforçando demasiadamente para colocar o PSG no seleto roll dos campeões europeus. Entretanto, é inegável que Messi e, em menor proporção, Mbappé, não conseguem repetir em Paris, as boas atuações por suas respectivas seleções.
Messi ❤️ Mbappe#FIFAWorldCup #Qatar2022
— FIFA World Cup (@FIFAWorldCup) December 19, 2022
Talvez, a explicação para isso seja a falta de motivação, uma vez que na primeira metade da temporada, ou seja, antes da Copa do Mundo, o PSG, impulsionado pelo desejo dos jogadores em chegar na melhor forma possível para a disputa da competição, permaneceu invicto durante 23 partidas, uma condição que mudou totalmente depois do Mundial, haja vista as nove derrotas sofridas pelos atuais bicampeões franceses em 2023.
Como disse Christophe Galtier, o número de lesões aumentou após a Copa do Mundo, o que contribuiu para o fracasso do Paris Saint-Germain em atingir sua meta primordial na temporada, considerando as ausências de Neymar, Achraf Hakimi, Marquinhos, Nordi Mukiele e Kylian Mbappé, em determinados momentos dos confrontos de oitavas-de-final da Champions League frente o Bayern de Munique. Em todo o caso, essa eliminação também expôs a falta de profundidade do elenco parisiense, principalmente na defesa.
Por fim, os habituais problemas extra-campo persistem no PSG, vide a troca de farpas entre as estrelas Neymar e Kylian Mbappé através de curtidas no Instagram, a grave denúncia de racismo por parte do técnico Christophe Galtier ainda nos tempos de Nice, a acusação de estupro proferida ao lateral-direito Achraf Hakimi, além da multa e suspensão aplicadas a Lionel Messi por conta de uma recente viagem à Arábia Saudita.
Seja como for, ainda que a última década não tenha sido uma deriva completa, a sensação é a de que o Paris Saint-Germain viverá um eterno clima de melancolia enquanto não conquistar a Champions League, algo inevitável até mesmo na temporada em que ele se tornou o maior campeão francês de todos os tempos, e que liderou a Ligue 1 no decorrer das 38 rodadas, um feito jamais alcançado por nenhum outro oponente ao longo da história.