O empolgante início de Marcelo Bielsa no comando da Celeste Olímpica, marcado pelas históricas vitórias por 2 a 0 sobre Brasil e Argentina nas Eliminatórias, sinalizavam um futuro pra lá de promissor aos uruguaios, a julgar pelas palavras de Lionel Messi após o revés em plena Bombonera ao afirmar que era impossível suportar o intenso ritmo do Uruguai.
No entanto, aquele contagiante Uruguai literalmente morreu depois da queda diante da Colômbia nas semifinais da Copa América, vide os três empates sem gols e a derrota pelo placar mínimo frente o então lanterna das Eliminatórias, Peru, nos últimos quatro jogos disputados, o que significa que os pupilos de Marcelo Bielsa não balançam as redes desde o empate em 1 a 1 com a Guatemala, válido por uma partida amistosa realizada no início de setembro. De lá pra cá, já se passaram 45 dias ou 428 minutos sem um único tento.
Em contrapartida, o estrago só não foi maior porque o Uruguai caiu apenas da segunda para a terceira colocação das Eliminatórias, porém o pífio futebol praticado pelos uruguaios preocupa os torcedores tanto quanto os problemas extracampo que envolvem o técnico Marcelo Bielsa e os jogadores, isto é, um contratempo que, sem dúvida alguma, foi o ponto crucial para a decadência da Celeste.
Na realidade, a crise na seleção bicampeã mundial teve início justamente depois da bombástica entrevista concedida por Luis Suárez, dias após o atacante do Inter Miami anunciar sua aposentadoria na carreira internacional. Ali, o maior artilheiro de todos os tempos da Celeste com 69 gols em 143 jogos, expôs o pesado clima interno que assola o Uruguai, deixando claro que o diálogo entre Marcelo Bielsa e o grupo de atletas inexiste.
A propósito, fatos que, posteriormente, foram confirmados por Federico Valverde, Agustín Cannobio, e em um tom mais suave pelo zagueiro e capitão José María Giménez. Não à toa, a AUF (Associação Uruguaia de Futebol) agendou uma reunião entre o elenco charrua e Marcelo Bielsa na tentativa de aparar as arestas antes da partida contra o Equador, uma ação que, ao menos inicialmente, não surtiu efeito, haja vista o empate em 0 a 0 no estádio Centenário.
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— Selección Uruguaya (@Uruguay) October 16, 2024
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Contudo, essa é uma situação que não deveria causar tanta polêmica, tampouco estampar capas de jornais, afinal, já se conhece há tempos a personalidade de Marcelo Bielsa, um treinador da velha guarda que não tem por característica ser paternalista. Em seu trabalho mais recente à frente do Leeds United, por exemplo, o ex-capitão da equipe, Adam Forshaw, declarou que o relacionamento com o técnico de 69 anos de idade era meramente profissional, algo que não gerou nenhum tipo de desgaste no Elland Road por se tratar de um clube inglês.
Inclusive, tanto Adam Forshaw quanto alguns dos seus ex-companheiros, como são os casos de Kalvin Phillips e Raphinha, elogiaram Marcelo Bielsa por terem evoluído em campo devido a qualidade dos treinamentos e a altíssima capacidade do treinador argentino. Além disso, a exigência de Bielsa era tão grande que todos se mantinham cem por cento concentrados durante os jogos. À vista disso, o trio foi unânime ao credenciar o retorno do Leeds à Premier League graças ao excelente trabalho desenvolvido pelo comandante da seleção uruguaia.
Por outro lado, os principais questionamentos dos ex-jogadores do Leeds em relação a Marcelo Bielsa foram direcionados a algumas atividades elaboradas por ele que não eram necessariamente ligadas ao futebol, como limpar o estádio no dia seguinte aos jogos, ou ler um determinado livro de maneira coletiva depois das sessões de treinamento. Isso explica porque Bielsa é conhecido como El Loco.
Em todo o caso, como a cultura sul-americana é completamente diferente da inglesa, era esperado que Marcelo Bielsa fosse um pouco mais cuidadoso no que diz respeito a gestão de grupo, em especial porque o posto que ele assumiu foi ocupado por mais de uma década pelo “maestro Óscar Tabárez”, considerado uma referência aos atletas uruguaios por ter criado um conceito de irmandade na Celeste, passando isso ao longo das últimas duas gerações dos craques Diego Forlán e Luis Suárez.
Obviamente, a missão de Marcelo Bielsa no Uruguai nunca foi fácil, dada a enorme dificuldade que qualquer treinador encontraria em liderar o processo de transição da seleção em meio as saídas de Diego Godín, Edinson Cavani e Luis Suárez, e as chegadas de Federico Valverde, Manuel Ugarte e Darwin Núñez. E isso sem contar que o perfil mais ofensivo de El Loco também não se enquadrava com o estilo pragmático e conservador charrua.
Todavia, ao contrário do que todos imaginavam o maior obstáculo enfrentado por Marcelo Bielsa vem sendo a sua falta de tanto junto ao plantel, e não a diferente abordagem tática do treinador. Ao mesmo tempo, a crise uruguaia foi capaz de dividir a opinião pública no país, já que ao passo que muitos criticam a conduta do ex-técnico do Leeds, outros se mostram contra os jogadores, entendendo que o papel deles é apenas servir a seleção e jogar.
De qualquer modo, o mais importante disso tudo é que o Uruguai não corre o risco de ficar de fora do Mundial de 2026, tendo em vista que seis das dez seleções sul-americanas garantem classificação direta ao torneio, à medida que a sétima colocada ainda disputará a repescagem. E como a Celeste Olímpica está no bloco dos quatro melhores das Eliminatórias, ao lado de Argentina, Colômbia e Brasil, são mínimas as possibilidades dos uruguaios não estarem na próxima Copa de 2026.
Em compensação, o mesmo não podemos atribuir no que tange a continuidade de Marcelo Bielsa, pois de acordo com alguns veículos de imprensa locais a última Data Fifa do ano será determinante para definir o futuro do treinador, o que se subentende que as chances de uma provável troca no comando técnico uruguaio se multiplicam quando constatamos que Colômbia e Brasil são os próximos adversários do Uruguai, e Diego Aguirre, que nunca escondeu o desejo de dirigir a Celeste, segue superando as expectativas sob a liderança do semifinalista da Copa Libertadores, Peñarol.