Sessenta anos. Algumas gerações de torcedores do Porto não haviam nascido na última vez que os Dragões haviam perdido um clássico contra o Benfica no estádio da Luz por quatro gols. Em outras palavras, um dado que retrata o quão crítica é a realidade portista.
No entanto, é correto afirmar que essa turbulência já estava no radar do Porto, a julgar que o clube atravessa uma significativa fase de transição sob a gestão do presidente André Villas-Boas — que assumiu o posto do antecessor Jorge Nuno Pinto da Costa após um reinado de 42 anos —, e a vinda do novo treinador Vítor Bruno para o lugar do ídolo e multicampeão Sérgio Conceição.
Além disso, é importante destacar que essa verdadeira revolução portista também ocorreu dentro das quatro linhas, em meio as saídas do talentoso Francisco Conceição, do goleador Evanílson, e do zagueiro Pepe, ídolo do clube pelo qual colecionou o montante de 290 jogos. Por outro lado, Samu Omorodion, Fábio Vieira, Nehuén Pérez, Tiago Djaló, Francisco Moura e Deniz Gul fizeram o caminho inverso ao desembarcarem no norte de Portugal para defenderem as cores azul e branca.
Ainda assim, o Porto conseguiu faturar o título da Supertaça de Portugal ao superar o Sporting, nas penalidades, na partida de estreia de ambos na temporada 2024-25, dando claros sinais de que o processo de transição tomaria um rumo tranquilo após o excelente trabalho desenvolvido por Sérgio Conceição nos últimos sete anos, algo que, definitivamente, não aconteceu, embora os Dragões estejam na vice-posição da Liga Portugal.
Pois é, um segundo lugar decorrente dos resultados positivos conquistados pelo Porto no início da temporada, período em que o Benfica ainda vivia “agonizantes” dias sob o comando de Roger Schmidt — situação que mudou depois da chegada de Bruno Lage. Não à toa, os Dragões haviam sofrido somente uma derrota, frente o Sporting em Alvalade, e vencido todos os demais jogos disputados até o clássico diante do Benfica, no estádio da Luz, pela 11ª rodada da Liga Portugal.
Contudo, essa sequência positiva escondia por debaixo do tapete as atuações nada contundentes por parte do Porto, que apesar de vencer só convenceu mesmo no triunfo por 3 a 0 sobre o Vitória SC, em Guimarães, considerando tanto os jogos válidos pela Liga Portugal quanto os outros pela Europa League, onde os portugueses ocupam somente a 22ª colocação com 4 pontos, em função das derrotas ante Bodo/Glimt e Lazio, da vitória sobre o Hoffenheim, além do empate em 3 a 3 contra aquele Manchester United literalmente aos cacos sob o fim do ciclo de Erik ten Hag.
De qualquer maneira, todas as deficiências dos comandados de Vítor Bruno ficaram expostas depois da acachapante derrota por 4 a 1 no estádio da Luz, em que Porto teve a sorte não apenas de receber o gol praticamente dado pelo zagueiro Nicolás Otamendi no final do primeiro tempo, como também a de não levar uma goleada ainda maior, como ocorreu com o próprio Benfica, derrotado por 5 a 0 no clássico anterior realizado no Dragão.
A propósito, como o Porto foi bastante inferior mas ainda conseguiu sair ao intervalo com o empate no marcador, os torcedores portistas imaginavam uma postura mais agressiva da equipe na etapa final. Entretanto, quem voltou com apetite foi o Benfica, que em 15 minutos já vencia o clássico por 3 a 1, o que realmente não surpreende levando em consideração o fato de que a falta de competitividade tem sido a tônica dos Dragões na temporada 2024-25.
Apesar das derrotas para Sporting e Benfica, o Porto realiza o seu melhor início na Liga Portugal após 11 rodadas nas últimas quatro temporadas.
Logo, aquele DNA de um time extremamente ambicioso e energético, deu lugar a outro morno e sem vibração. Como resultado, o Porto deixou de competir nos grandes jogos e clássicos como sempre fez sob a liderança de Sérgio Conceição, quando, por exemplo, exercia forte marcação pressão na saída de bola do adversário. Ou seja, uma condição que inexiste por intermédio dessa enorme mudança na parte anímica da equipe que, taticamente, ainda não encaixou, sobretudo porque a maioria dos reforços contratados só estiveram aptos para jogar em meados de setembro.
Ademais, outro detalhe que chama bastante a atenção é a facilidade com que os jogadores do Benfica adentravam na defesa do Porto que, por sua vez, deixava enormes buracos em seu campo por não atuar de forma compacta, além de não combatê-los. Soma-se a isso, as debilidades na transição defensiva e nas bolas paradas, que persistem desde o começo da temporada.
Seja como for, tratam-se de problemas enfrentados por qualquer time em um novo início de trabalho, já que Vítor Bruno não teve tempo suficiente para implementar a sua filosofia de jogo no Porto. Acontece, que a pressão sobre o sucessor de Sérgio Conceição pode aumentar ainda mais se derrotas em clássicos, campanhas meramente razoáveis na Liga Portugal e na Europa League, e o futebol aquém das expectativas, perdurarem pelos lados do Dragão.
Portanto, cabe a Vítor Bruno superar as dificuldades geradas pelo pouco tempo de trabalho — que inclusive também afeta os treinadores também em início de trabalho, Bruno Lage e João Pereira, nos rivais lisboetas —, e deste modo fazer do Porto um time combativo, começando já pela sequência de oito jogos que os Dragões disputarão até o final do ano.
Caso contrário, o novato treinador do Porto correrá o risco de passar o Réveillon integrando a ingrata lista do desemprego.
1 Comentário
Porto é um time gigante, e de uma trajetória vitoriosa, mais como todos os outros times em mudança de treinador o time perde o ritmo e da aquela desconectada. O bom que mesmo com a instabilidade o time permanece no alto da tabela, contando que o campeonato também não é tão forte em quantidade de times, tendo como grandes adversários apenas o Sporting, Benfica e Braga.