A Europa nunca esteve tão próxima de Vallecas como na atual temporada

No dia 14 de março de 2001, o Rayo Vallecano derrotava o Alavés por 2 a 1 em sua última apresentação por uma competição de âmbito internacional, embora vencendo um rival local em Vallecas. Aliás, uma vitória que não foi suficiente para que o clube da capital espanhola evitasse a queda nas quartas-de-final da antiga Copa da UEFA.

De lá pra cá, mais de duas décadas se passaram em meio a quatro rebaixamentos dos Bukaneros, incluindo aquele à terceira divisão em 2004, e o máximo que o Rayo Vallecano conseguiu neste período foi um oitavo lugar na edição 2012-13 da LaLiga, além de duas 12ª colocações sob o comando de Andoni Iraola nas temporadas 2021-22 e 2022-23, marcadas por três vitórias sobre o Barcelona, outras contra Real Madrid e Athletic Bilbao, além de uma eliminação nas semifinais da Copa do Rei.

Entretanto, o legado deixado por Andoni Iraola em Vallecas não deu-se apenas através de bons resultados esportivos, mas principalmente por intermédio da inovadora forma do Rayo Vallecano jogar, baseada num estilo vertical e de alta pressão, cuja finalidade é recuperar a bola na área adversária, ou caso contrário fazê-la chegar o mais rápido possível ao gol do oponente, seja com passes curtos diretos, ou longos.

Todavia, o sucesso de Andoni Iraola logo despertou o interesse do Bournemouth, que hoje vem colhendo os frtuos do excelente trabalho desenvolvido pelo treinador considerado uma das sensações da Premier League. Ao mesmo tempo, a passagem do sucessor de Iraola em Vallecas durou míseros 28 jogos, já que Francisco Rodríguez foi demitido em fevereiro do ano passado após a negativa série de seis partidas sem vitórias que deixou o Rayo Vallecano próximo da zona da degola na 14ª posição na LaLiga.

Em todo o caso, a solução encontrada pela diretoria do Rayo Vallecano não poderia ter sido melhor, tendo em vista que o antigo auxiliar-técnico de Andoni Iraola, Iñigo Pérez, foi o treinador escolhido para comandar a equipe, lembrando que o discípulo de Iraola não o acompanhou rumo ao Bournemouth em virtude de um problema referente ao visto de trabalho inglês que o obrigou a permanecer em Vallecas.

Obviamente, Iñigo Pérez é adepto da mesma abordagem de jogo de Andoni Iraola por ter trabalhado durante uma temporada ao seu lado no Rayo Vallecano. Em contrapartida, o jovem treinador de 37 anos de idade já afirmou em algumas ocasiões que o seu grande mentor responde pelo nome de Marcelo Bielsa, seu técnico nos tempos de Athletic Bilbao, onde inclusive atuou com Iraola.

Pois é, e o progresso do Rayo Vallecano se reflete logo na primeira temporada completa de Iñigo Pérez à frente do time. Para se ter uma ideia, os Bukaneros encerraram a 22ª rodada da LaLiga ocupando a SEXTA colocação na classificação contabilizando 32 pontos, oriundos das 8 vitórias, 8 empates, 6 derrotas, 26 gols marcados e 24 sofridos até aqui no campeonato, o que os mantêm situados na zona de qualificação à Conference League.

Armado no 4-2-3-1, é possível afirmar que o Rayo Vallecano, de Iñigo Pérez, é uma versão melhorada em relação ao de Andoni Iraola por ser mais resiliente, ou seja, se adaptar melhor as características do adversário. No triunfo por 2 a 1 frente o Girona, por exemplo, os madrilenhos registraram um elevado índice de 57% de posse de bola, o que causou enorme desconforto aos catalães, donos do terceiro maior índice deste quesito na LaLiga, estando somente atrás de Barcelona e Real Madrid.

Por outro lado, no empate sem gols com o Real Madrid no Santiago Bernabéu, o Rayo Vallecano assinalou míseros 37% de posse, mas ainda assim incomodou os atuais campeões espanhóis especialmente em função da forte marcação exercida na saída de bola, isto é, uma das principais armas dos comandados de Iñigo Pérez que só é viável devido a grande capacidade física por parte dos atletas.

A propósito, isso explica porque James Rodríguez vestiu a camisa do Rayo Vallecano somente 204 minutos. Ainda que o craque colombiano tenha criticado Iñigo Pérez ao afirmar que um treinador inteligente montaria o seu time em torno de um típico camisa 10, a realidade é que sem intensidade nenhum jogador é capaz de sobreviver em Vallecas, por mais talentoso que seja.

Por sinal, vide o caso de Isi Palazón, o incansável meia de Iñigo Pérez que participa intensamente dos jogos desenvolvendo papéis cruciais para o funcionamento do Rayo Vallecano tanto na fase defensiva quanto na ofensiva. Aliás, ao visualizarmos o mapa de calor dos Bukaneros na LaLiga notaremos que Palazón atua praticamente aberto pela direita, quer dizer, do lado mais forte da equipe.

Mapa de calor de Isi Palazón na atual edição da LaLiga.

Outra peça que exemplifica de modo claro o modelo de jogo do Rayo Vallecano é o atacante Sergio Carmello, que apesar de ter balançado as redes apenas três vezes em 24 partidas disputados na temporada, se destaca pelas ações sem a bola, ora fechando espaços, ora pressionando a saída de bola. Além dele, Andrei Ratiu também se sobressai por ser um o lateral-direito agudo e forte fisicamente. Ademais, por vezes o romeno constrói as jogadas por dentro atuando como elemento surpresa no meio-campo.

Contudo, o Rayo Vallecano não se destaca única e exclusivamente por aspectos de ordem física, a julgar por Unai López, o jogador mais técnico do elenco rayista, que compensa o lado menos combativo por meio da enorme qualidade no passe, na criação e na marcação. À vista disso, o volante de contenção, Pathé Ciss, fica encarregado de destruir as jogadas no meio-campo, ao passo que o ex-atleta do Athletic Bilbao atua como segundo homem no setor.

Diante deste cenário, apesar de 15 rodadas ainda separarem o Rayo Vallecano do sonho de voltar a disputar torneios continentais, já é bom os torcedores rayistas iniciarem o processo de renovação dos seus respectivos passaportes, afinal, a Europa nunca esteve tão próxima de Vallecas como na atual temporada.

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