Tornou-se uma missão quase impossível não ser repetitivo quando me sento diante do computador para escrever sobre o Manchester United, afinal, o clube não consegue sair do ciclo vicioso de derrotas, vexames e campanhas bastante aquém das expectativas.
Aliás, um filme que se repete pelos lados do Old Trafford independente de quem esteja defendendo o Manchester United dentro ou fora das quatro linhas, a julgar pelo exemplo de Rúben Amorim, que embora tenha desembarcado em solo inglês há apenas 85 dias já vive um verdadeiro calvário, algo visível através da própria fisionomia do treinador português, hoje um homem com semblante de cansaço, estresse e irritação, ao contrário daquele outro alegre e sorridente que se despediu do Sporting CP.
Pois é, e foi assim com David Moyes, Louis van Gaal, José Mourinho, Ole Gunnar Solksjaer, Ralf Rangnick e, mais recentemente, Erik ten Hag. Quer dizer, uma dura realidade que assola desde os treinadores experientes até os mais novatos. Inclusive, a única boa condição que um clube pode esperar ao promover uma troca de técnico no meio de uma temporada é conseguir renovar as expectativas tanto da torcida quanto dos atletas por intermédio do impacto de uma mudança — a julgar pelo Everton que retomou o caminho das vitórias com a chegada de David Moyes.
No entanto, nem isso foi capaz de clarear o obscuro céu do Old Trafford, haja vista as 8 derrotas, 3 empates e oito vitórias do Manchester United nos 19 jogos sob o comando de Rúben Amorim, que resultam num pífio índice de 47,3% de aproveitamento. Não à toa, o United não saiu do lugar na tabela Premier League, onde ocupa a mesma 13ª colocação do jogo de estreia do ex-técnico do Sporting, somando 14 pontos a mais nas 13 rodadas realizadas desde então.
Em 19 jogos à frente do Manchester United, Rúben Amorim já sofreu sete derrotas pela Premier League, uma a mais em relação aos 75 jogos no comando do Sporting pela Liga Portugal.
Contudo, além de exterminador de treinadores o Manchester United também se converteu numa espécie de “cemitério de jogadores” pois são raríssimos aqueles que conseguem evoluir vestindo a camisa do clube inglês. Do atual elenco posso citar somente Bruno Fernandes, Amad Diallo e, com muita boa vontade, Kobbie Mainoo. De resto, é só declínio, vide os casos de Andre Onana, Casemiro e Joshua Zirkzee, grandes destaques em seus antigos clubes que literalmente se afundaram no Old Trafford.
Outro exemplo é o segundo reforço mais caro da história dos Red Devils (95 milhões de euros), Antony, que transferiu-se ao Betis por empréstimo até o final da temporada e logo em seu primeiro jogo pelo conjunto andaluz já ganhou o prêmio de melhor em campo dando uma assistência e por pouco não balançando as redes do Athletic Bilbao. Logo, bastaram 90 minutos para o ex-atacante do São Paulo recuperar a confiança totalmente perdida no Manchester United.
Por esta razão, é inegável que jogar no Manchester United virou sinônimo de fracasso aos jogadores. Diante deste cenário, o movimento de Marcus Rashford ao Aston Villa acabou sendo a melhor saída ao camisa 10, por mais que ele seja uma cria da casa assim como Anthony Elanga, que deixou o United para se tornar um dos principais nomes do Nottingham Forest.
E seguindo este interminável ciclo, o Manchester United continua acumulando fiascos, tendo como o mais novo desta série a derrota por 2 a 0 frente o Crystal Palace na rodada anterior da Premier League, marcada por ter sido a SÉTIMA dos Red Devils em 13 jogos atuando em seus domínios pela Premier League, e estabelecendo assim o pior recorde do clube desde o século XIX (1893-94), lembrando que Rúben Amorim perdeu cinco destas partidas.
???? | Desde o início da temporada passada, o Manchester United é o SEGUNDO TIME com mais derrotas na competição (13). Apenas o Wolverhampton (16) perdeu mais.
— Red Army Brasil (@RedArmyBrasil) February 2, 2025
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Em termos de comparação, o Manchester United jamais perdeu cinco jogos no Old Trafford pela Premier League sob as lideranças de José Mourinho e Ralf Rangnick, à medida que David Moyes demorou 14 rodadas para bater essa marca, contra 28 de Erik ten Hag, 30 de Luis van Gaal, 31 de Ole Gunnar Solskjaer e, pasmém, 88 de Sir Alex Ferguson.
Isto posto, fica evidente que visitar o Old Trafford virou uma ótima opção aos adversários, o que se subentende que o “Teatro dos Sonhos” é na atualidade o “Teatro do Pesadelo” aos torcedores do United. Ainda assim, isso tem uma explicação pois, da mesma forma que o Milan, os pupilos de Rúben Amorim encontram enormes dificuldades em enfrentar oponentes que jogam de maneira defensiva, em bloco baixo, e explorando os contra-ataques. Em outras palavras, equipes que os obrigam a propor jogo.
Sob este aspecto, compreende-se porque o Manchester United é capaz de fazer grandes partidas contra os fortes Manchester City, Liverpool e Arsenal — ao eliminá-lo da FA Cup em pleno Emirates Stadium —, e ao mesmo tempo sofre demasiadamente quando se depara ante times de menor nível técnico como Ipswich Town, Wolverhampton, Brighton e Crystal Palace, sobretudo nos jogos em casa.
A propósito, o mais recente revés do Manchester United teve a assinatura de Rúben Amorim, que encantado com a boa apresentação de Kobbie Mainoo jogando como meia centralizado ao lado de Christian Erikssen na vitória por 2 a 0 sobre o Steaua Bucareste, resolveu escalá-lo como falso nove no compromisso seguinte diante do Crystal Palace, preferindo deixar os atacantes Rasmus Hojlund e Joshua Zirzkee no banco de reservas.

Como resultado, o Manchester United só disparou o primeiro arremate na direção certa da meta do Crystal Palace aos 6 minutos do segundo tempo, com Bruno Fernandes. Por outro lado, o Palace converteu em gols as duas oportunidades que teve ao longo do jogo com o centroavante Jean Mateta, isto é, um típico camisa 9, finalizador, que atua como referência no ataque, ou seja, justamente a peça que Rúben Amorim abriu mão nessa partida, em especial porque nos instantes em que Rasmus Hojlund está em campo a torcida pede Joshua Zirkzee, e vice-versa.
Com isso, já são diversos os questionamentos em relação ao trabalho de Rúben Amorim, cobrado principalmente pela insistência na utilização do 3-4-2-1. Todavia, embora os jogadores não tenham as características ideais para se encaixarem neste esquema, é fundamental entender que o jovem técnico de 40 anos de idade veio ao Manchester United para inovar o estilo de jogo da equipe, caso contrário, o clube poderia ter mandido o interino Ruud van Nistelrooy no cargo.
Seja como for, é mais uma temporada perdida aos Red Devils na Premier League, com a diferença de que desta vez nem mesmo uma vaga em torneios continentais se mostra viável, restando ao Manchester United depositar todas as suas esperanças na Europa League, a única opção que ainda lhe dá a possibilidade de sonhar com a Champions League.
Sim, é a realidade dura e cruel do clube que segue sem norte desde a aposentadoria de Sir Alex Ferguson há mais de uma década.