No ano seguinte as saídas de Neymar e Lionel Messi, a transferência de Kylian Mbappé ao Real Madrid representava o verdadeiro fim de um ciclo no Paris Saint-Germain, cuja política girava em torno de contratações de grandes estrelas com a finalidade de alavancar a marca do clube mundo afora, além, é claro, de buscar o tão cobiçado título da Champions League.
No entanto, apesar dos altíssimos investimentos oriundos do petróleo catari, o PSG falhou na missão de conquistar o torneio continental, o que colocava sob enorme risco o novo passo que os parisienses estavam dando, afinal, se o sonho de vencer a Champions League não se tornou real com diversos craques do mundo da bola, o que dirá então com um plantel composto por jovens promessas, em sua maioria francesas.
Em todo o caso, se no Parque dos Príncipes ainda restavam dúvidas em relação ao insucesso do PSG por conta desta radical mudança de cultura, hoje já é possível afirmar que elas não existem mais, a começar pela grandiosíssima campanha na Ligue 1, em que os pupilos de Luis Enrique permanecem invictos e isolados na liderança registrando 18 vitórias e cinco empates em 23 rodadas.
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— Ligue 1 McDonald's (@Ligue1) February 23, 2025
Além de invicto, o Paris Saint-Germain é dono tanto do melhor ataque quanto da melhor defesa da Ligue 1 com 62 gols marcados e somente 22 sofridos, e também lidera o campeonato entre as campanhas como mandante e visitante. Foram 29 pontos conquistados em seus domínios (9V-2E) e outros 30 obtidos fora de casa (9V-3E). Para se ter uma ideia, os parisienses ostentam uma série de 36 partidas sem derrotas longe do Parque dos Príncipes pela competição.
Deste modo, ao sustentar um aproveitamento equiparável nas partidas dentro e fora da capital francesa, é bastante provável que no final da temporada o PSG adentre ao seleto roll dos clubes campeões invictos dentre as cinco principais ligas europeias no século XXI, ao lado de Arsenal, Juventus e Bayer Leverkusen, lembrando que ainda faltam 11 rodadas para o encerramento da Ligue 1.
Temporada | Liga | Clube | V | E | D |
2003-04 | Premier League | Arsenal | 26 | 12 | 0 |
2011-12 | Serie A | Juventus | 23 | 15 | 0 |
2023-24 | Bundesliga | B. Leverkusen | 28 | 6 | 0 |
2024-25? | Ligue 1 | PSG | 18 | 5 | 0 |
Ainda assim, muitos desvalorizam a impressionante temporada realizada pelos atuais tricampeões franceses pelo simples fato do clube participar da Ligue 1, uma liga de nível técnico inferior em comparação a Premier League, LaLiga e Serie A. Todavia, por mais que esta seja uma verdade é necessário avaliar o futebol praticado pelo melhor PSG da era QSI (Qatar Sports Investments).
Embora sem grife, em termos coletivos a equipe de Luis Enrique supera inclusive o time de Thomas Tuchel, que com a presença dos desequilibrantes Neymar e Kylian Mbappé, foi vice-campeão europeu e faturou todos os quatro títulos nacionais na pandêmica temporada 2019-20. Sob a batuta de Laurent Blanc, em 2016, o PSG fez sua melhor campanha na Ligue 1 ao assinalar 84,2% de aproveitamento (96 pontos em 38 jogos), ou seja, 1,3% a menos em comparação ao atual índice de 85,5%.
Méritos do técnico Luis Enrique que após a saída do Barcelona em 2017 nunca foi capaz de desenvolver um trabalho tão autoral quanto esse à frente do PSG. A propósito, o sucesso do treinador de 54 anos de idade no clube catalão foi atribuido mais ao plantel que ele tinha em mãos, onde jogava o trio MSN, do que propriamente a si.
Em contrapartida, aderindo a nova filosofia do Paris Saint-Germain, Luis Enrique recebeu carta branca para executar tudo o que tinha em mente no Parque dos Príncipes, e logo em sua primeira temporada no clube já faturou a tríplice coroa francesa ao erguer os canecos da Ligue 1, da Copa, e da Supercopa da França, se tornando campeão pela primeira vez fora da terra natal.
De qualquer maneira, é em seu segundo ano no PSG que Luis Enrique realmente vem conseguindo colher os frutos plantados desde a sua chegada a Paris, vide o nível de excelência alcançado pela equipe que evolui não apenas dentro das quatro linhas, como também na parte mental, o que ficou claro na vitória por 4 a 2, de virada, sobre Manchester City.
Mesmo após estar perdendo por 2 a 0 em pleno Parque dos Príncipes, o PSG não se desesperou em nenhum momento, muito pelo contrário, continuou controlando as ações da partida e, com tranquilidade, balançou as redes quatro vezes na última meia hora do jogo em que o principal destaque foi o atacante Ousmane Dembélé, artilheiro do time na temporada com 25 gols. Por sinal, outra virtude de Luis Enrique: resgatar o futebol do camisa 10.
???? Ousmane Dembélé na temporada 2024/25:
— L1 Insider ???????????????? (@L1InsiderBR) February 24, 2025
????️ 31 jogos (Ligue 1 + CDF + UCL)
⚽ 24 gols
????️ 6 assistências
???? 30 participações em gols
VOANDO! ???????? pic.twitter.com/O9CiQRzeE6
Por este motivo, todas as questões referentes aos constantes fracassos do PSG na Champions League já ficaram em último plano em meio as convincentes atuações da equipe. Inclusive, é correto afirmar que o ponto de virada dos parisienses na temporada deu-se a partir da vitória frente os Citizens pois, de lá pra cá, eles aplicaram goleadas sobre Stuttgart (4×1), Brest (5×2), Monaco (4×1), e superaram novamente os bretões nos playoffs de repescagem da Champions League através de um sonoro 10 a 0 no placar agregado.
À vista disso, ainda que o sorteio da UEFA tenha colocado o Liverpool no caminho do Paris Saint-Germain nas oitavas-de-final da Champions League, ninguém se arrisca a dizer que os franceses serão eliminados. Na minha opinião, o ligeiro favoritismo por parte dos Reds bate na casa dos 55% porque eles já foram mais testados em grandes jogos até aqui na temporada.
Ao mesmo tempo, é de resultados comprovados, reais, confirmados, consolidados, e que lhe dão total confiança, que este repaginado PSG estabeleceu uma nova identidade capaz de colocá-lo entre os principais postulantes ao inédito título europeu, e não em função do preço do elenco, mas sim pelo o que verdadeiramente importa: o futebol.