Há exatamente um mês o Atlético de Madrid iniciava março repleto de expectativas, isso porque o triunfo por 1 a 0 sobre o Athletic Bilbao mantinha os Colchoneros separados a apenas um ponto da liderança da LaLiga, às vésperas dos decisivos clássicos contra Real Madrid e Barcelona, válidos pela Champions League e pela Copa do Rei, nos quais eles decidiriam as partidas de volta atuando em seus domínios.
Vale ressaltar ainda, que naquela oportunidade o Atlético de Madrid havia sofrido somente uma derrota — para o Leganés, por 1 a 0 — em 26 jogos disputados, aliás, um ciclo que incluía a sequência de 15 vitórias consecutivas na temporada, a maior série da equipe em 14 anos sob o comando de Diego Simeone. Diante deste cenário, era evidente porque a conquista da inédita tríplice coroa chegou a ser uma realidade ao Atleti.
Em contrapartida, as águas calmas do mar do Atlético de Madrid se agitaram depois do verdadeiro tsunami causado pela queda frente o Real Madrid nas oitavas-de-final da Champions League, uma situação até previsível considerando o histórico contra o seu principal algoz no torneio continental, mas que ganhou proporções ainda maiores devido a forma pela qual a eliminação aconteceu.
Curiosamente, o Atlético de Madrid perdeu todas as seis eliminatórias contra o Real Madrid pela Champions League, incluindo as decisões de 2014 e 2016.
Após derrota por 2 a 1 no Santiago Bernabéu, o Atlético de Madrid rapidamente igualou a contagem do placar agregado antes do ponteiro do relógio completar a primeira volta no estádio Metropolitano. E como o resultado se estendeu até o final do tempo normal e da prorrogação, os rivais madrilenhos decidiram a vaga nas quartas-de-final da Champions League nas penalidades, onde os Rojiblancos perderam em função do milimétrico toque na bola na cobrança de Julián Alvarez.
A partir de então, a casa do Atlético de Madrid desmoronou a ponto de afetar por completo o lado anímico do time, algo que, obviamente, se intensificou com o técnico Diego Simeone, além da própria diretoria na figura do presidente Enrico Cerezo, questionarem o lance de Julián Alvarez até hoje, sempre deixando a entender que a UEFA interferiu na classificação do Real Madrid. Logo, é inegável que isso acaba influenciando de maneira negativa a parte psicológica dos atletas.
Deste modo, precisando lidar com a enorme pressão fora das quatro linhas, dentro de campo os jogadores do Atlético de Madrid ainda sentiram o efeito do desgaste físico nesta decisiva reta final de temporada, dentre eles os mais veteranos como Antoine Griezmann, um dos principais nomes do Atleti, que desde o começo de março não foi capaz de realizar uma boa atuação, e olha que ele já se aposentou dos compromissos internacionais pela seleção francesa.
Consequentemente, o Atlético de Madrid venceu somente o jogo em que se despediu da Champions League desde o primeiro encontro com o Real Madrid pelas oitavas-de-final da competição. Para se ter uma ideia, os pupilos de Diego Simeone conquistaram um de nove possíveis pontos neste período pela LaLiga, em razão das derrotas para Getafe (2×1) e Barcelona (4×2), e do empate contra o Espanyol na rodada anterior (1×1).
No entanto, o golpe de misericórdia sobre o Atlético de Madrid veio nas semifinais da Copa do Rei, marcado pelo quarto confronto ante o Barcelona na atual temporada. Com o empate em 4 a 4 no jogo de ida na Catalunha — disputado na época em que os Colchoneros ainda viviam uma ótima fase no final de fevereiro —, bastava uma simples vitória na capital espanhola para que eles avançassem à tradicional decisão no estádio Olímpico de La Cartuja.
Contudo, o gol de Ferrán Torres, aos 27 minutos do primeiro tempo, foi suficiente para o Barcelona derrotar o Atlético de Madrid, que num curto espaço de 21 dias sofreu duas duríssimas eliminações em pleno estádio Metropolitano, lembrando que o revés por 5 a 4 na soma dos placares foi pra lá de enganoso por tudo o que o Barça produziu nas semifinais, especialmente no jogo de ida.
???? Atlético Madrid’s last 11 games:
— Atletico Universe (@atletiuniverse) April 2, 2025
➖ Real Madrid
➖ Celta
✅ Valencia
➖ Barcelona
✅ Athletic Club
❌ Real Madrid
❌ Getafe
✅ Real Madrid (Eliminated from UCL)
❌ Barcelona
➖ Espanyol
❌ Barcelona (Eliminated from CdR) pic.twitter.com/B7JDOLs4Bp
A propósito, é importante destacar que mesmo jogando em casa e precisando da vitória em pelo menos uma hora de jogo, o Atlético de Madrid não finalizou uma única vez no gol do Barcelona. De fato, o máximo foi uma pressão maior através de cruzamentos na área adversária nos instantes finais da partida. Ou seja, muito pouco para a equipe que gastou mais em comparação ao próprios catalães nesta temporada.
Por este motivo, a elimiação na Copa do Rei trouxe à tona as velhas dúvidas de sempre, já que o Atlético de Madrid tem condições e qualidade técnica para atuar de forma ofensiva mais tempo durante os jogos. Em outras palavras, se arriscar mais, o que não ocorre em decorrência da essência do Cholismo, uma vez que o treinador Diego Simeone só manda o time ao ataque quando é realmente inevitável.
A abordagem de Diego Simeone nos grandes jogos é não sofrer gols e, na medida do possível, achar um durante as partidas para vencê-las. Contra o Real Madrid no estádio Metropolitano, por exemplo, o Atlético de Madrid abdicou de atacar mesmo em meio a favorável circunstância de atuar diante da sua torcida, e depois de ter balançado as redes aos 28 segundos de bola rolando. Pois é, e o preço da covardia custou o adeus na Champions League!
O time está competindo muito bem. Fomos bem na Champions League e na Copa do Rei. Perdemos por 4 a 5 contra um adversário que joga muito bem e mereceu passar. Estamos competindo bem na La Liga e vamos continuar da mesma forma.
Diego Simeone, técnico do Atlético de Madrid
Em resumo, o Atlético de Madrid continua adotando a filosofia de jogar posicionado em seu próprio campo com cinco peças compondo a primeira linha da defesa, três homens marcando no meio-campo, e outros dois na frente em busca dos contra-ataques. Basicamente é isso, até que um resultado adverso o obriga a atacar quando o final do jogo se aproxima e não lhe resta outra alternativa, isto é, um absoluto desperdício de futebol.
À vista disso, da mesma maneira que Diego Simeone merece aplausos por ter mudado o status do Atlético de Madrid ao torná-lo uma das principais forças do futebol espanhol e europeu, ele também deve ser criticado por essa pobreza na forma de jogar, sobretudo porque a equipe tem plena capacidade de atacar, vide os 40% de tentos marcados por jogadores que vem do banco de reservas, ou do um terço de gols feitos nos acréscimos das partidas até aqui na temporada. É claro, todos oriundos dos raros e obrigatórios momentos em que os Rojiblancos precisam se lançar ao ataque.
Seja como for, eliminado da Copa do Rei e da Champions League, o Atlético de Madrid vê a corrida rumo ao título espanhol comprometida por conta da distância de nove pontos do líder da LaLiga, Barcelona, e dos seis em relação ao Real Madrid. Inclusive, a diferença sobre o quarto colocado Athletic Bilbao é menor, o que se subentende que o Mundial de Clubes aparece como a última possibilidade dos Colchoneros encerrarem a temporada dando uma volta olímpica.
Quer dizer, praticamente nada pra quem, há um mês, almejava a tríplice coroa!