O divórcio entre Martín Anselmi e Porto deve ocorrer após 12 jogos

Depois de longos 82 anos, o Porto voltou a ser derrotado pelo Benfica por quatro gols atuando em seus domínios. Em outras palavras, um dado que retrata o quão pesada foi a goleada sofrida pelos Dragões no clássico válido pela 28ª rodada da Liga Portugal.

A propósito, o mesmo placar do confronto entre ambos no turno inicial da Liga Portugal no estádio da Luz, que resultam em nada menos que um estrondoso 8 a 2 na somatória dos dois clássicos disputados na primeira temporada pós-Nuno Pinto da Costa no Dragão, que se fosse possível os torcedores portistas, certamente, apagariam da memória.

No entanto, a goleada sofrida frente o Benfica é reflexo das equivocadas escolhas tomadas pelo novo presidente do Porto, André Villas-Boas, que até começou bem o seu reinado ao erguer o seu primeiro caneco na presidência do clube poucos dias após assumí-la ao vencer o Sporting na decisão da Supercopa de Portugal, mas que degringolou pra valer neste ano de 2025 em meio aos erros cometidos.

Obviamente, já seria uma tarefa bastante complexa André Villas-Boas suceder o maior presidente da história do Porto depois de quatro décadas de um glorioso mandato, lembrando que um dos principais treinadores do clube em todos os tempos, como é o caso de Sérgio Conceição, também deixou o cargo que ocupava a sete anos por ser contra a saída de Nuno Pinto da Costa.

Portanto, uma dificílima temporada de transição se apresentava ao novo mandatário portista que, ainda assim, apostou todas as fichas na efetivação de Vítor Bruno para comandar os Dragões. Ou seja, uma desastrosa decisão justificada entre os cinco meses que separaram o jogo de estreia e a partida de despedida da curta e decepcionante passagem do ex-auxiliar de Sérgio Conceição pelo Porto.

Acontece, que a situação se complicou ainda mais após a demissão de Vítor Bruno, já que a diretoria portista definiu Martín Anselmi para sucedê-lo na função, isto é, outro inexperiente treinador que, embora tenha se destacado à frente do Independiente Del Valle, não desenvolveu nenhum bom trabalho no futebol argentino, e deixou o Cruz Azul — onde tinha total apoio por parte da torcida — de forma nada profissional.

Todavia, pior do que a falta de bagagem para o Porto, é a filosofia de jogo de Martín Anselmi, cuja doutrina é baseada num estilo bastante ofensivo, intenso, de marcação alta, e com a formação tática composta por três zagueiros. Quer dizer, uma abordagem completamente oposta em relação à seguida pelos Dragoes que sempre atuaram com quatro homens na linha defensiva, e jogavam de maneira mais pragmática e conservadora sob o comando de Sérgio Conceição.

Além disso, ainda que as características do elenco portista também não se assemelhem com as ideias de Martín Anselmi, em nenhum momento o jovem treinador de 39 anos de idade abriu mão das suas convicções, nem mesmo no importantíssimo clássico contra o rival Benfica, um time organizado, equilibrado, qualificado tecnicamente, e que está na briga direta pelo título português.

Consequentemente, o que assistimos no estádio do Dragão foi um verdadeiro baile, só que não da equipe do treinador que planeja vê-la dançando de maneira impecável o mais belo tango em solo português, mas sim do Benfica, que viu o atacante Vangelis Pavlidis se tornar o primeiro atleta benfiquista a marcar um hat-trick na casa do Porto até hoje, fazendo com que a noite que serviria para consolidar o casamento entre Martín Anselmi e a torcida do Porto tomasse o rumo contrário para um possível divórcio.

E não é pra menos, a julgar que Martín Anselmi armou o Porto com o meio-campista Stephen Eustáquio centralizado na zaga, ao passo que o veterano Iván Marcano, no auge dos 38 anos, atuou aberto pela esquerda, e Nehuén Pérez pela direita. Ademais, o único volante do Porto em campo, Alan Varela, acabou ficando sobrecarregado e, é claro, deixou a defesa pra lá de vulnerável, vide as seis grandes chances desperdiçadas pelo Benfica.

Na fase ofensiva, Samu Aghehowa ficou ilhado no ataque esperando alguma oportunidade, à medida que os alas João Mário e Francisco Moura davam amplitude em vão. Já Fábio Vieira não lembra nem de longe aquele promissor meia vendido ao Arsenal em 2022, enquanto o talentoso Rodrigo Mora é um oasis no meio do desorganizado esquema de Martín Anselmi.

Não à toa, os principais jornais portugueses ‘A Bola’ e ‘Record’ já dão como certa a saída de Martín Anselmi, dono de 52,7% de aproveitamento em 12 jogos desde que chegou ao Dragão. Soma-se a isso, o pífio desempenho do Porto em 2025, haja vista alguns dados como: um mísero triunfo em casa; cinco vitórias e sete derrotas sofridas em 17 partidas disputadas; eliminações na Taça da Liga e na Europa League (Sporting CP e Roma); além da distância de 12 pontos em comparação a liderança da Liga Portugal, que era de igualdade no início do ano.

Diante deste cenário, embora André Villas-Boas não deva ser responsabilizado por todos os problemas que assolam o Porto, sobretudo por ter assumido a administração do clube campeão português em apenas uma das últimas cinco edições da Liga Portugal com um grave problema de fair-play financeiro herdado da antiga gestão, é inegável que as suas errôneas decisões só estão fazendo aumentar a crise que agora já se estendeu para as arquibancadas do Dragão.

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