Aflição, dor, tristeza, tormento, desolação. Estes sentimentos definem perfeitamente o sentimento dos torcedores interistas após o verdadeiro atropelamento sofrido pela Inter de Milão frente o PSG na Allianz Arena.
Por sinal, se uma derrota em final de campeonato já é capaz de gerar traumas, então o que dirá sofrer duas quedas em decisões de Champions League num curto espaço de três anos, visto que em 2023 essa mesma Inter de Milão, de Simone Inzaghi, caiu diante do Manchester City pelo placar mínimo, lembrando que oito jogadores que enfrentaram o PSG também estiveram em ação em Istambul — nove, se considerarmos que o zagueiro Stefan De Vrij integrou o grupo nas duas oportunidades.
Soma-se a isso, o fato de que até meados de abril a Inter de Milão ainda vislumbrava a possibilidade de repetir o feito de 2009 ao vencer a tríplice coroa. Entretanto, um sonho que se tornou pesadelo com a eliminação para o rival Milan nas semifinais da Coppa Italia, seguida da derrota para o Napoli na corrida pelo bicampeonato italiano por um mísero ponto, além da maior goleada sofrida por um vice em finais de Champions League ao longo da história.
Ademais, outros aspectos demonstram que a temporada 2024-25 assombrará os interistas por muito tempo, como o fato da Inter de Milão não ter vencido nenhum dos cinco Derby’s della Madonnina disputados no período, ou do empate em 2 a 2 cedido a Lazio na penúltima rodada da Serie A, aos 45 minutos do segundo tempo, através da penalidade cometida por Yann Bisseck e convertida pelo veterano Pedro em pleno San Siro, justamente no instante em que uma vitória colocaria os Nerazzurri na liderança da tabela.
Cuirosamente, todos os vices da Inter de Milão na Champions League ocorreram contra adversários que faturaram tríplices coroas (Celtic 1967, Ajax 1972, Manchester City 2023, e PSG 2025).
Portanto, diante deste cenário fica evidente que o marcante quarto vice-título da Inter de Milão na Champions League foi somente a cereja do bolo na trágica temporada do clube que, provavelmente, passará por drásticas mudanças começando pelo fim do ciclo de diversos jogadores como Matteo Darmian, Francesco Acerbi, Alessandro Bastoni, Henrikh Mkhitaryan, Hakan Çalhanoglu, Mehdi Taremi e Marko Arnautovic.
Além disso, vale ressaltar que o futuro também passou a ser incerto ao treinador Simone Inzaghi, que embora tenha contrato válido por mais uma temporada, tem em mãos uma proposta milionária do Al-Hilal, e a forma pela qual a derrota em Munique aconteceu pode realmente antecipar a saída do treinador de 49 anos de idade da equipe que ele dirige desde 2021, tanto é que os nomes de Roberto De Zerbi, Cesc Fàbregas e Patrick Vieira já surgem como prováveis sucessores.
Será que vou ao Mundial de Clubes na América? Não sei como responder a essa pergunta. Veremos nos próximos dias com o clube. Agora, depois de uma final, a segunda perdida em três anos, há muita amargura para pensar.
Simone Inzaghi, treinador da Inter de Milão
Em todo o caso, a única certeza é que a derrota na Allianz Arena deixará sequelas na Inter de Milão, pois como bem sabemos existem diferentes formas de perder jogos, especialmente finais. Por exemplo, o revés por 1 a 0 há dois anos ante o Manchester City deu-se por intermédio de uma partida bastante equilibrada em que os Nerazzurri chegaram a ter momentos de domínio. E olha que do outro lado estava a melhor versão do City, de Pep Guardiola.
Já em 2025, a impressão foi a de que os comandados de Simone Inzaghi não entraram em campo para enfrentar o PSG, tamanha a superioridade por parte dos franceses que já venciam a decisão por 2 a 0, ainda aos 20 minutos da primeira etapa. Inclusive, foi nítida a dificuldade da Inter de Milão em trocar três ou quatro passes durante o jogo, bem como ultrapassar a linha do meio-campo.
Como resultado, o que vimos foi a insistência da Inter de Milão em lançar bolas longas para Marcus Thuram brigar no ataque. Ou seja, muito pouco para um time que chegou na final tendo a organização, a solidez defensiva, e as rápidas transições como principais armas. Aliás, ‘munições’ que despacharam o avassalador Barcelona da Champions League, nas semifinais.
A propósito, a defesa da Inter de Milão, elogiada com méritos no decorrer da campanha na Champions League, sofreu o montante de 11 gols levando em conta somente as semifinais e a final do torneio, o que equivale a uma elevada média de 3,6 gols por jogo. Em outras palavras, um indíce que, definitivamente, não se compara a baixíssima taxa de 0,98 de toda a temporada, tampouco aos 5 sofridos até a classificação sobre o Bayern de Munique nas quartas-de-final.
Além de Lautaro Martínez, Matteo Darmian, Francesco Acerbi, Alessandro Bastoni, Stefan de Vrij, Denzel Dumfries, Henrikh Mkhitaryan, Hakan Çalhanoglu e Federico Dimarco também foram vices em 2023.
Outro detalhe que também caiu por terra foi o fator experiência, tendo em vista que um dos pontos que colocavam a Inter de Milão em vantagem na Allianz Arena era a justamente a bagagem de alguns jogadores do time italiano terem disputado a final da Champions League em 2023. Para se ter uma ideia, a média de idade da formação titular dos Nerazzurri era de 30,3 anos, mediante 24,8 da jovem equipe do PSG, cujo atleta mais velho era o zagueiro Marquinhos, com 31.
No entanto, a realidade é que os meio-campistas Nicolò Barella, Hakan Çalhanoglu e Henrikh Mkhitaryan foram engolidos por Vitinha, João Neves e Fabián Ruiz, o lateral interista de coração, Federico Dimarco, esteve irreconhecível em campo, assim como o trio de zaga composto por Benjamin Pavard, Francesco Acerbi e Alessandro Bastoni. E isso sem contar a nula dupla de ataque formada por Lautaro Martínez e Marcus Thuram. Como ponto central do pífio coletivo da Inter de Milão estava o aparente cansaço, pois a sensação era a de que os Nerazzurri estavam extenuados fisicamente.
Deste modo, a intenção da diretoria da Inter de Milão depois da participação no Mundial de Clubes é iniciar uma grande reformulação no plantel aproveitando o raro superavit registrado na temporada, e isso sob a liderança de Simone Inzaghi, a fim de que ele dê prosseguimento ao ótimo trabalho que vem realizando há quatro anos e, consequentemente, mostre ao mundo a capacidade do clube de se reerguer nas fases mais difíceis, quiçá, escalando uma nova montanha rumo à outra final de Champions League.
Seja como for, antes de pensar em aspectos técnicos, físicos e táticos, o trabalho na parte mental do elenco deve ser priorizado pela Inter de Milão na próxima temporada, já que o 5 a 0 a perturbará por muito tempo, ainda que com a chegada de novos reforços e, quem sabe, com a vinda de outro treinador, afinal a camisa continua sendo a mesma de cores azul e preta.