A onda de protestos antirracismo que vem tomando conta das principais metrópoles do mundo, pode vir a ser extremamente benéfica ao futebol, que embora seja o esporte mais popular do planeta, também é um meio repleto de preconceitos.
O covarde assassinato de George Floyd, cometido por um policial na cidade de Minneapolis, revoltou a população mundial. Não à toa, desde a morte do norte-americano no último dia 25, uma série de protestos antirracismo foram – e continuam sendo – realizados em diversas partes do mundo, todos com o intuito de dar um basta nesta inadmissível forma de preconceito que ainda é praticado por uma minoria de nossa sociedade apesar de já estarmos no século XXI, ou seja, bastante evoluídos. E lamentavelmente, o racismo também tomou conta do futebol, sobretudo porque a omissão das autoridades permitem aos infratores cometerem atos discriminatórios sem que nada aconteça.
No Brasil, por exemplo, podemos relembrar do caso envolvendo o ex-goleiro do Santos, Aranha, que no duelo entre a equipe da Baixada Santista frente o Grêmio em 2014, pelas oitavas de final da Copa do Brasil, acabou sendo alvo de ofensas racistas destinadas pelos torcedores do time gaúcho nas arquibancadas. Como este fato repercutiu de maneira bastante negativa mundo afora, era esperado que a partir daquele momento, atos discriminatórios diminuiriam no País, porém isso não aconteceu, uma vez que no ano passado foram registrados 59 episódios de racismo no futebol brasileiro, isto é, 29 a mais em relação a 2014.

A propósito, a partida entre Fluminense x Bahia no estádio do Maracanã, válida pelo Campeonato Brasileiro de 2019, também serve como parâmetro para demonstrar como o racismo está presente no futebol tupiniquim, já que este encontro ficou marcado por ser o primeiro na história do Brasileirão a reunir dois treinadores negros se enfrentando à beira do gramado. Na ocasião, os técnicos Marcão e Roger Machado tornaram-se os grandes protagonistas do jogo em virtude desta “façanha”. Aliás, o comandante do Tricolor Baiano vem levantando a bandeira antirracismo há tempos, isso fica evidente através de suas próprias palavras, confira:
Temos que refletir e nos questionar. Se não há preconceito no Brasil, por que os negros têm um nível de escolaridade menor que o dos brancos? Por que a população carcerária é 70% negra? Por que quem mais morre no Brasil são os jovens negros? Por que os menores salários entre brancos e negros são para os negros? Por que entre as mulheres, quem mais morre são as negras? Há diversos tipos de preconceitos. Quantas mulheres negras têm comentando esporte? Então, temos que nos perguntar. Se não há preconceito no Brasil, qual é a resposta relacionada a isso? Vivemos um preconceito estrutural, institucionalizado”, indagou o técnico gaúcho.

A propósito, a reflexão de Roger Machado vai totalmente de encontro ao que disse o atacante Raheem Sterling em entrevista concedida ao programa televisivo “NewsNight”, da BBC. Segundo o jogador do Manchester City e da seleção inglesa, é mais difícil um técnico negro assumir o comando de uma equipe em comparação a um branco. E para provar esta tese, Sterling usa como exemplo os novatos treinadores Steven Gerrard e Frank Lampard, que atualmente trabalham no Rangers e Chelsea, respectivamente. Ao contrário deles, os ex-atletas Sol Campbell e Ashley Cole, que inclusive são da mesma geração de Gerrard e Lampard, até hoje não conseguiram engrenar fora das quatro linhas.
Vale ressaltar, que na Terra da Rainha somente seis dos 91 técnicos que dirigem as equipes presentes nas quatro principais divisões do futebol inglês, são negros. E não para por aí, pois se incluirmos os árbitros nesta pesquisa, não encontraremos NENHUM negro arbitrando jogos na Inglaterra, quer dizer, um dado realmente relevante, isso porque pelo menos um terço dos cerca de 500 jogadores inscritos na Premier League são negros, logo, existe uma representatividade afrodescendente considerável em cada clube.
Para finalizar, não poderíamos deixar de mencionar que alguns jogadores também já foram alvos de insultos racistas por parte de torcedores na atual temporada do futebol na Itália, como são os casos de Kalidou Koulibaly, Romelu Lukaku e Mario Balotelli. No entanto, além de nenhum dos infratores terem sido punidos pela FIGC (Federação Italiana de Futebol), o presidente do Brescia, Massimo Cellino, ainda criticou Balotelli após o ocorrido, lembrando que o atacante defende as cores do próprio Brescia. Diante desta triste realidade, a torcida de todos nós é para que o trágico assassinato de George Floyd sirva para estancar de vez, este mal que aflige até mesmo o mundo da bola.