Os pouco mais de 50 mil torcedores escoceses que lotaram o Hampden Park na tarde de ontem (12), não voltaram pra casa frustrados apesar do revés da Escócia diante da Inglaterra por 3 a 1, no amistoso que marcou a celebração de 150 anos do primeiro confronto entre as seleções mais antigas do futebol mundial.
Por mais que uma derrota para o maior rival nunca seja bem-vinda, ela não apaga o ótimo momento vivido pela seleção escocesa, que segue em uma verdadeira lua de mel com a torcida devido a memorável campanha do Exército Tartan nas Eliminatórias da Eurocopa de 2024.
Somando 5 vitórias, 12 gols marcados e apenas um sofrido em cinco jogos disputados, a Escócia lidera isoladamente o grupo A das Eliminatórias com 15 pontos, permanecendo seis à frente da vice-colocada Espanha, que contabiliza uma partida a menos na competição. Todavia, os comandados de Steve Clarke também se sustentam no posto mais alto da tabela se considerarmos a diferença por pontos perdidos em relação aos espanhóis (15 a 12).
Aliás, essa confortável vantagem da Escócia sobre a Espanha foi conquistada justamente no confronto direto envolvendo ambas as seleções, onde os britânicos derrotaram os atuais campeões da Liga das Nações da Uefa por 2 a 0 no Hampden Park, graças aos dois tentos de Scott McTominay, vice-artilheiro das Eliminatórias com seis gols.
Com o triunfo sobre a Espanha por 2 a 0 no último mês de março, a Escócia encerrou o longo tabu de 39 anos sem vitórias contra os espanhóis.
Responsável por 50% dos gols da Escócia nas Eliminatórias, Scott McTominay, literalmente, se redescobriu jogando como meia-esquerda na seleção, posicionado mais próximo do ataque ao lado do outro meia, John McGinn, e não recuado como volante da forma que ele costuma atuar no Manchester United. Logo, está aí uma valiosa informação ao técnico do clube inglês, Erik ten Hag, sobretudo porque McTominay já balançou as redes mais vezes do que Harry Kane (5), Cristiano Ronaldo (5), Kylian Mbappé (4) e Erling Haaland (4) no torneio continental.
Deste modo, aproveitando a enorme capacidade de Scott McTominay em colaborar tanto no apoio ao ataque quanto na parte defensiva, o treinador Steve Clarke potencializou o sistema de marcação do selecionado escocês e, de quebra, fortaleceu o meio-campo que ainda é composto pelos volantes Callum McGregor e Billy Gilmour, além dos alas Aaron Hickey e Andrew Robertson.
No entanto, esta foi somente uma das muitas melhorias feitas por Steve Clarke à frente da Escócia. Para torná-la mais experiente e consistente, o treinador de 60 anos de idade priorizou a continuidade, isto é, mudar pouquíssimas vezes a escalação da equipe titular, e a lista de convocados da seleção desde que ele assumiu o cargo em 2019.
Of the 55 UEFA countries, only three hold a 100% record, having won their first 5 @EURO2024 qualifiers:
— The Tartan Scarf ??????? (@TheTartanScarf) September 9, 2023
?? France (WR 2nd)
?? Portugal (WR 9th)
??????? Scotland (WR 30th)
? pic.twitter.com/wzC1kcotMG
Contudo, a maior dificuldade de Steve Clarke foi achar uma composição ideal ao setor defensivo do time, não à toa, 15 defensores diferentes foram utilizados pelo técnico escocês. Em contrapartida, assim que ele definiu o sistema de jogo com três zagueiros, no qual o lateral Kieran Tierney passou a jogar improvisado do lado direito da zaga, com Jack Hendry centralizado, e Ryan Porteous na esquerda, a Escócia começou não apenas a sofrer menos gols, como também a evoluir.
Outra estratégia adotada por Steve Clarke foi construir uma base sólida formada por atletas que jogam em clubes de maior nível e, que por esta razão, são mais acostumados a jogar grandes partidas. Com isso, o ex-jogador do Arsenal, atualmente na Real Sociedad, Kieran Tierney, se firmou entre as principais peças da seleção escocesa, bem como Andrew Robertson (Liverpool), Billy Gilmour (Brighton), Scott McTominay (Manchester United) e John McGinn (Aston Villa), todas ilustres figuras da Premier League.
É um grupo que cresceu e melhorou junto. O importante é que todos eles estão se movimentando, tendo experiências diferentes, sendo desafiados ao mais alto nível jogando na Premier League semana após semana. É desta maneira que os jogadores progridem.
Steve Clarke, treinador da Escócia
Vale ressaltar, que 11 dos 25 jogadores que integraram o elenco do Exército Tartan nessa última data Fifa jogam nas cinco principais ligas do futebol europeu, sendo nove deles na Premier League, lembrando que outros sete atuam na segunda divisão inglesa, seis na Escócia, enquanto o zagueiro Jack Hendry transferiu-se recentemente à Arábia Saudita para vestir a camisa do Al Ettifaq, dirigido por Steven Gerrard.
Consequentemente, ao defenderem as cores da Escócia com maior regularidade, alguns jogadores passaram a desempenhar papéis mais importantes na seleção do que em seus próprios clubes, como é o caso de Scott McTominay. Pois é, e assim será ao menos até a próxima Copa do Mundo, em 2026, dada a média de 26,5 anos de idade do plantel escocês.
Portanto, embora a derrota ante a Inglaterra tenha deixado claro que a distância que separa os escoceses dos principais postulantes ao título da Eurocopa ainda é bastante longa, a realidade é que eles não caíram de paraquedas na liderança do grupo A das Eliminatórias, e apresentam totais condições de superar a fase de grupos de um torneio pela primeira vez na história, no ano que vem em solo alemão.