O fantasma dos playoffs assombra a Itália novamente

Depois da desgastante caminhada rumo ao título italiano na temporada passada à frente do Napoli, a ideia de Luciano Spalletti era passar um período sabático ao lado da família nas vinhas de sua vinícola, conhecida como La Rimessa.

No entanto, os planos de Luciano Spalletti mudaram por completo assim que Roberto Mancini aceitou a proposta para comandar a seleção da Arábia Saudita e, consequentemente, deixou em aberto o posto de treinador da Itália após a disputa das semifinais da Liga das Nações da UEFA e o começo das Eliminatórias da Eurocopa de 2026, já que o presidente da Federação Italiana de Futebol (FIGC), Gabriele Gravina, escolheu o atual campeão da Serie A para sucedê-lo no cargo.

Deste modo, realizando um grande sonho na carreira, Luciano Spalletti iniciou a sua trajetória na seleção italiana tendo pela frente uma dificílima estreia contra a Macedônia do Norte, aquela mesma que acabou com as possibilidades da Azzurra disputar a Copa do Mundo de 2022 ao derrotá-la pelo placar mínimo em Palermo, devido ao tento de Alex Trajkovski nos acréscimos do segundo tempo, contando com a falha de Gianluigi Donnarumma.

Contudo, apesar deste trágico retrospecto, a Itália regressou de Skopje com um empate em 1 a 1 na bagagem. Posteriormente, os tetracampeões mundiais venceram as seleções de Ucrânia e Malta, ambas atuando em seus domínios, jogando um ótimo futebol. Não à toa, o placar de 2 a 1 diante dos ucranianos não refletiu o que foi a partida, ao contrário da goleada por 4 a 0 sobre os malteses.

Aliás, a principal mudança feita por Luciano Spalletti na seleção italiana foi a implementação do esquema 4-3-3, atuando com uma linha de quatro homens na zaga, diferentemente do antecessor Roberto Mancini que vinha jogando com três zagueiros, no 3-5-2. Além disso, Spalletti passou a escalar Giorgio Scalvini, Destiny Udogie e Domenico Berardi entre os titulares, ao passo que deixou de convocar Leonardo Bonucci, Leonardo Spinazzola e Jorginho.

Mas apesar do ótimo futebol praticado neste início de trabalho de Luciano Spalletti, o primeiro revés sofrido pela Itália frente a Inglaterra como mandante desde 1961 (2 a 1), nos últimos jogos de Roberto Mancini no comando técnico da Azzurra, já havia feito renascer o fantasma que assombra os italianos em Eliminatórias, a julgar que eles não participaram dos dois Mundiais anteriores em virtude de quedas nos playoffs da repescagem.

Por este motivo, o primeiro reencontro entre italianos e ingleses em Wembley após a decisão da Eurocopa de 2020 – disputada em 2021, em razão da pandemia -, era encarado como uma verdadeira decisão pelos comandados de Luciano Spalletti, e não somente porque uma vitória os deixaria em uma situação extremamente confortável em sua chave nas Eliminatórias, mas também em decorrência do total clima de vingança criado pela Inglaterra.

Entretanto, o que Luciano Spalletti e todos os torcedores italianos não esperavam é que o escândalo envolvendo apostas esportivas fosse estourar justamente às vésperas do embarque rumo à Londres, quando a polícia visitou o centro de treinamento de Coverciano para notificar os envolvidos Sandro Tonali e Nicolò Zaniolo que, por razões óbvias, foram afastados e, assim como os lesionados Federico Chiesa e Ciro Immobile, desfalcaram a Azzurra em Wembley.

A propósito, vale ressaltar que Sandro Tonali e o jovem meio-campista da Juventus, Nicolò Fagioli, assumiram que cometeram o erro de realizar apostas em plataformas ilegais por questões de vício, o que significa que esse tema deveria começar a ser abordado com maior ênfase na sociedade, levando em conta que os casos de atletas metidos com apostas não para de crescer, vide a facilidade encontrada por eles para entrar nesse universo, pois basta baixar um aplicativo no celular para que isso aconteça.

Seja como for, as inesperadas dispensas de Sandro Tonali e Nicolò Zaniolo deixaram um certo trauma na seleção italiana, que aumentou ainda mais depois que o famoso paparazzo Fabrizio Corona, conhecido por chantagear atletas, afirmou publicamente que pelo menos mais dez jogadores serão indiciados nos próximos dias – dentre eles Stephan El Shaarawy -, algo que, inclusive, gerou um enorme desgaste até mesmo junto ao técnico Luciano Spalletti.

Logo, foi exatamente sob este clima de tensão que a Itália, com oito modificações em comparação ao time que goleou Malta, perdeu de virada da Inglaterra por 3 a 1. À vista disso, além de não repetir as façanhas de 1973, 1997 e 2021 em Wembley, a seleção quatro vezes campeã do mundo encerrou a penúltima data FIFA do ano situada na terceira posição do grupo C das Eliminatórias com 10 pontos, seis a menos em relação aos já classificados ingleses, e a três da vice-colocada Ucrânia.

Todavia, é importante salientar que a Ucrânia registra um jogo a mais que a Itália nas Eliminatórias, o que se subentende que com quatro pontos nos últimos dois jogos os italianos garantem a vaga na próxima edição da Eurocopa, lembrando que eles terminarão a sua campanha na competição recebendo a Macedônia do Norte e visitando os ucranianos.

Diante deste cenário, fica claro e evidente porque o fantasma dos playoffs perdidos para a Suécia e a Macedónia do Norte já assombra tanto a torcida italiana quanto o técnico Luciano Spalletti, que abriu mão da vida tranquila na Toscana para correr o iminente risco de ver os filmes de 2018 e 2022 se repetirem novamente, porém desta vez, com ele à beira do campo no lugar de Gian Piero Ventura e Roberto Mancini.

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