Embora uma incógnita, a nova jornada de Thiago Motta à frente da Juventus começa repleta de expectativas devido ao excelente trabalho desenvolvido pelo jovem treinador de 41 anos de idade no Bologna, que resultou no regresso do clube emiliano à Champions League após seis décadas.
Por este motivo, a pressão que naturalmente já é grande pelos lados de Turim, aumentará ainda mais sobre Thiago Motta, o que significa que nada pior do que a terceira colocação na Serie A, isto é, a mesma posição conquistada na última temporada sob a batuta de Massimiliano Allegri, será aceito pelos bianconeri. Talvez, um desempenho inferior com uma boa campanha na Champions League, representada pela disputa das quartas ou semifinais, não decepcionaria.
Soma-se a isso o fato de grandes jogadores da Juventus no passado terem alcançado rapidamente o sucesso em suas primeiras temporadas pela equipe como treinadores. A começar por Giovanni Trapattoni, que assumiu a função em 1976, depois de um conturbado ano em que a Juve havia ficado atrás do rival Torino na Serie A. Ainda assim, Trap conduziu o conjunto do Piemonte tanto ao bicampeonato italiano quanto ao título da extinta Copa da UEFA.
Passados quase vinte anos, em 1994, foi a vez de Marcello Lippi faturar um scudetto da Serie A, uma Coppa Italia — a única da história até então —, além da primeira Champions League no ano seguinte, após assumir a Juventus, literalmente, aos frangalhos, estabelecendo uma gloriosa era no clube italiano, ainda marcada por diversas outras conquistas.
Por fim, veio Antonio Conte, o ex-capitão da Juve que aceitou o desafio de dirigí-la em 2011, depois do tumultuado período do Calciopoli. E por intermédio de um ótimo trabalho de reconstrução, Conte venceu o tricampeonato da Serie A que, posteriormente, se estendeu para nove scudettos consecutivos em meio as trajetórias de Massimiliano Allegri e Maurizio Sarri.
Portanto, ainda que Thiago Motta não seja um ex-jogador da Juventus, ele assume o time em uma situação nada favorável em virtude da pífia segunda passagem de Massimiliano Allegri, bem como ao jejum de quatro anos sem soltar o grito de campeão italiano. Logo, a pressão será inevitável ao treinador ítalo-brasileiro no desafio mais difícil da carreira, algo que só será amenizado através de bons resultados, uma vez que os bianconeri — mais do que qualquer outra torcida na Itália — já se habituaram a acompanhar a Juve vencer sem convencer.
No entanto, este o problema pode ser um problema visto que a filosofia de jogo das equipes lideradas por Thiago Motta é baseada nas coordenadas trocas de posições, movimentos e passes, o que, obviamente, demandará tempo para os jogadores assimilarem. Inclusive, isso explica a evolução do Bologna na segunda temporada de Thiago Motta no clube, conforme retratado abaixo:
Thiago Motta | Serie A 2022-23 | Serie A 2023-24 |
Jogos | 32 | 38 |
Posição | 9º | 5º |
V-E-D | 13-9-10 | 18-14-6 |
Saldo de Gols | 46-40 | 54-32 |
Taxa de Vitórias | 40,6% | 47,3% |
Aproveitamento | 50% | 59,6% |
Vale ressaltar ainda, que o sistema de jogo de Thiago Motta é diferente em relação ao de Massimiliano Allegri, sobretudo porque o novo comandante da Juventus é adepto a um estilo mais dinâmico e ofensivo, ao contrário do antecessor, cuja principal característica era a solidez defensiva. Por esta razão, Allegri sempre optou por esquemas com três defensores, à medida que Motta, simpatizante a uma formação com quatro homens na primeira linha, utiliza um dos zagueiros para criar superioridade numérica na saída de bola.
Deste modo, fica evidente que o elenco da Juve passará por uma grande mudança no que diz respeito a parte tática, e não descartemos os encaixes das novas peças contratadas neste meio de ano, como são os casos de Juan Cabal, Khéphren Thuram, Douglas Luiz, além do goleiro Michele Di Gregorio. Ou seja, outro fator que também retardará a adaptação ao sistema de Thiago Motta.
🥹❤️ This is so wholesome! Lilian Thuram with his son Khéphren. 🇫🇷✨ pic.twitter.com/bUguWDJm0e
— EuroFoot (@eurofootcom) July 23, 2024
Por outro lado, dentre os principais postulantes ao título italiano, a Inter de Milão é a única que sustenta um trabalho de longo prazo, a julgar que enquanto Simone Inzaghi iniciará o quarto ano no cargo, Milan e Napoli começarão a temporada 2024-25 nas mesmas condições da Juventus, quer dizer, sendo dirigidos pelos novos treinadores Paulo Fonseca e Antonio Conte.
Seja como for, a Juventus continua ativa no mercado de transferências priorizando a contratação de Teun Koopmeiners, desejado por Thiago Motta para ser uma espécie de segunda versão de Lewis Ferguson, porém na equipe de Turim. Todavia, os valores seguem emperrando as negociações, já que a Atalanta só libera o meia holandês pelo mínimo de 60 milhões de euros, quantia que está totalmente fora de cogitação aos bianconeri — o que se subentende que a Premier League deve ser o caminho do atleta.
Thiago Motta também aguarda a chegada de um zagueiro canhoto, mas o apertado orçamento da Juventus, que já gastou 90 milhões de euros nesta janela, pode inviabilizar a chegada de um novo defensor. À vista disso, o ideal é que o técnico ítalo-brasileiro encontre uma solução dentro do próprio plantel para suprir essa carência, como por exemplo escalar o lateral-esquerdo recém-contratado, Juan Cabal, para jogar na zaga, assim como ocorreu com Riccardo Calafiori no Bologna.
Em última análise, fica claro que além da reconstrução, Thiago Motta precisará realizar uma verdadeira revolução para repetir o sucesso alcançado em Bologna. Contudo, resta saber se a exigente torcida da Juventus terá paciência para lidar com este longo, complexo, e demorado processo. A ver!