Será que acordamos no passado? Não, tampouco uma máquina do tempo te teletransportou para a década de 1980. Na verdade, é apenas o Nottingham Forest que vem causando um sentimento de nostalgia ao figurar na terceira colocação da Premier League depois de exatos 26 anos.
Pois é, prestes a completar um ano à frente do Nottingham Forest, Nuno Espírito Santo, de forma convicta e silenciosa, vem construindo um grande legado no centenário clube inglês, depois de assumir a equipe na época comandada por Steve Cooper em um momento pra lá de crítico ocupando o 17º posto da Premier League, em meio ao espectro da dedução de quatro pontos na tabela por infringir as regras de lucros e sustentabilidade da liga.
Ainda assim, é importante destacar que o maior desafio de Nuno Espírito Santo foi suceder Steve Cooper, afinal, trata-se do treinador mais popular do Nottingham Forest desde Frank Clark em 1993, por ter conduzido os Tricky Trees novamente à Premier League após longos 23 anos de um dificílimo período em que o clube duas vezes campeão europeu chegou a passar três temporadas na terceira divisão, dividindo espaço com os modestos Oldham Athletic, Yeovil Town e Doncaster Rovers.
Soma-se a isso, o fato de Nuno Espírito Santo também desembarcar em Nottingham repleto de desconfiança em virtude do trabalho bastante aquém das expectativas realizado no Tottenham, composto por míseros 17 jogos, dos quais o clube londrino colecionou somente oito vitórias e marcou nove gols, lembrando que depois disso o treinador de 50 anos de idade também não convenceu em sua apagada passagem pelo Al-Ittihad, da Arábia Saudita.
No entanto, apesar deste obscuro cenário, Nuno Espírito Santo cumpriu o seu primeiro objetivo no Nottingham Forest ao salvá-lo da degola na edição passada da Premier League, aliviando toda a tensão que se instaurava pelos lados do City Ground. Não à toa, até mesmo o semblante do treinador português mudou entre a última temporada e a atual, passando de uma cara fechada e de poucos amigos para outra mais leve e, por vezes, sorridente.
E não é pra menos, a julgar que o Nottingham Forest vem quebrando todos os paradigmas nesta temporada, a ponto de reviver os momentos de glória através deste surpreendente início de campanha em que o time encerrou a 10ª rodada da Premier League na TERCEIRA posição somando 19 pontos. Para se ter uma ideia, o Forest tinha apenas seis pontos neste mesmo estágio do campeonato no ano passado, alcançando a atual pontuação somente na 25ª rodada.
E não para por aí, levando em consideração que o Nottingham Forest é dono da segunda melhor defesa da Premier League com sete gols sofridos, além de registrar quatro clean sheets nas dez primeiras rodadas da competição, estando apenas atrás do líder, Liverpool, em ambos quesitos. Logo, fica evidente que a solidez defensiva vem sendo uma das principais armas dos Tricky Trees, o que é mérito da qualificada dupla de zagueiros formada por Nikola Milenkovic e Murillo, dos fortes laterais Ola Aina e Álex Moreno, bem como do paredão Matz Sels.
Ademais, outro detalhe que chama a atenção é a campanha do Nottingham Forest como visitante na Premier League, vide as três vitórias e dois empates obtidos pelos pupilos de Nuno Espírito Santo nos cinco jogos disputados fora de seus domínios, o que significa que 11 dos 19 pontos contabilizados por eles foram conquistados longe do City Ground, lembrando que somente o Liverpool ostenta um desempenho superior em comparação ao Forest atuando como visitante no torneio.
O Fulham foi a única equipe que venceu o Nottingham Forest na temporada 2024-25. De resto, são cinco vitórias e cinco empates nos dez demais jogos realizados por todas as competições.
Deste modo, 26 anos depois o bicampeão europeu encerrou uma rodada no pódio da Premier League, provocando uma sensação jamais antes sentida por pelo menos duas gerações de torcedores, embora a última vez que este feito tenha acontecido o clube acabou sendo rebaixado no final do campeonato, o que não deve ser o caso deste Nottingham Forest, de Nuno Espírito Santo, que mais se parece com o memorável esquadrão de Frank Clark, terceiro colocado na temporada seguinte a sua promoção, em 1995.
Consequentemente, recordes não faltam ao time sensação do momento no futebol inglês, que ao derrotar o West Ham por 3 a 0 no último final de semana, faturou a sua maior vitória na Premier League desde o triunfo pelo mesmo placar diante do Coventry em agosto de 1996, e ganhou a quarta partida consecutiva na competição pela primeira vez em 26 anos. Aliás, isso explica porque o canto “Forest are back” (O Forest está de volta), voltou a ecoar alto no City Ground.
À vista disso, o inusitado sucesso do Nottingham Forest também confirma a volta por cima dada por Nuno Espírito Santo, que rememora os tempos áureos vividos na própria Terra da Rainha, onde há seis anos liderou o Wolverhampton na triunfal caminhada rumo ao título da Championship League e, de quebra, ainda conquistou dois sétimos lugares nas temporadas posteriores da Premier League, classificando os Wolves à Europa League.
Sob todos estes aspectos, tanto a torcida quanto o ambicioso mandatário do Nottingham Forest, Evangelos Marinakis, passaram a sonhar com a Champions League, ou seja, algo que era absolutamente inimaginável antes do início da temporada, mas que se tornou viável por intermédio do terceiro lugar do único time que venceu o Liverpool até aqui na Premier League.
Em outras palavras, a realidade é que o passado virou presente em Nottingham.